Foi há 500 anos que partiu a armada que viria a dar a primeira volta ao mundo. Mesmo que esse não fosse o objetivo inicial da viagem. Uma viagem feita sob a alçada de um rei castelhano, que começou por ser capitaneada por um navegador português, foi concluída por um basco e narrada por um italiano.
Ao serviço do novo governador, Afonso de Albuquerque, Fernão de Magalhães (1480-1521) participou na conquista de Malaca (Malásia) em 1511. Após a conquista da cidade Magalhães, promovido e com um rico saque e na companhia de um escravo malaio, regressou a Lisboa em 1513. Ali dedicou-se a estudar as mais recentes cartas, investigando uma passagem para o pacífico pelo Atlântico Sul e a possibilidade de as Molucas estarem na zona espanhola definida pelo Tratado de Tordesilhas, em parceria com o cosmógrafo Rui Faleiro.
Em 1517 foi a Sevilha com Rui Faleiro, tendo encontrado no feitor da ‘Casa de la Contratación’ da cidade um adepto do projeto que entretanto concebera: dar a Espanha a possibilidade de atingir as Molucas pelo Ocidente, por mares não reservados aos portugueses no Tratado de Tordesilhas e, além disso, segundo Faleiro, provar que as ilhas das especiarias se situavam no hemisfério castelhano.
Com a influência do bispo de Burgos conseguiram a aprovação do projecto por parte de Carlos V, e começaram os morosos preparativos para a viagem. Depois da ruptura com Rui Faleiro, o navegador português continuou a aparelhagem dos cinco navios que, com 256 homens de tripulação, partiram de Sanlúcar de Barrameda em 20 de setembro de 1519.
Antes da viagem, Fernão de Magalhães fez um segundo testamento em Sevilha a 24 de agosto de 1519, onde institui Morgado de boa parte de seus bens, que deixou a seu filho Rodrigo de Magalhães e, na falta dele, a seus irmãos Diogo de Souza de Magalhães e Isabel de Magalhães.
Antonio Pigafetta, escritor italiano que havia pago do seu próprio bolso para viajar com a expedição, escreveu um diário completo de toda a viagem, possibilitado pelo facto de Pigafetta ter sido um dos 18 homens a retornar vivo para a Europa. Dessa forma, legou à posteridade um raro e importante registo de onde se pode extrair muito do que se sabe sobre este episódio da história.
Uma das maiores aventuras do século XVI teve, assim, início a 20 de setembro do longínquo ano de 1519. Fernão de Magalhães comandou a primeira expedição que deu a volta ao mundo. Mas não terminou a viagem e morreu no caminho.
Dos 256 homens, regressaram 18
Contudo, a expedição teve sequência e o audacioso objetivo foi alcançado após mortes dos marinheiros e perdas das embarcações. Segundo relato do italiano Antonio de Pigafetta (1480 ou 1491-1534), um dos poucos sobreviventes, a aventura teve mais momentos de adversidades e milagres que de marcha vitoriosa. Ao todo, partiram cinco caravelas – San Antonio, Victoria, Concepción, Santiago e Trinidad (capitânia) –, com 240 homens, que zarparam de Sevilha, na Espanha. A viagem começou sem maiores dificuldades, com a passagem por Cabo Verde. Contudo, no Oceano Atlântico, eles enfrentaram uma terrível tempestade.
Em março de 1520, Fernão de Magalhães e seus homens chegavam na baía de San Julián, localizada hoje na Argentina.
Além das adversidades dos mares, a expedição também teve revoltas internas, em que comandantes dos outros navios planejavam a traição contra o capitão-geral. Magalhães mandou decapitar Gaspar de Quesada, o capitão da Concepción, depois abandonou Juan de Cartagena, o antigo capitão da San Antonio.
Fora isso, houve a perda de navios.
Santiago naufragou enquanto explorava a costa da Patagônia. Os navios restantes seguiram pelo Pacífico e chegaram ao arquipélago de Saint-Lazare – atual Filipinas – em 27 de março de 1521. Foi quando Magalhães morreu. No dia 27 de abril, ele teria sido atingido por uma lança envenenada, atirada por um dos habitantes locais.
A Concepción foi incendiada em maio e, em 18 de dezembro, Trinidad afundou. Foi quando a fome começou a atingir a expedição. “Nós só comíamos velhos biscoitos transformados em poeira e cheios de vermes, fedendo urina de rato”, escreveu Pigafetta. Além da fome, havia doenças como o escorbuto.
Ao final da expedição, restou apenas o navio Victoria. Uma parte da carga de especiarias teve de ser abandonada para que a embarcação seguisse viagem. Em maio de 1522, a nau ultrapassaria o cabo da Boa Esperança. Apenas 18 dos seus homens conseguiriam retornar a Sevilha.
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Ao serviço do novo governador, Afonso de Albuquerque, Fernão de Magalhães (1480-1521) participou na conquista de Malaca (Malásia) em 1511. Após a conquista da cidade Magalhães, promovido e com um rico saque e na companhia de um escravo malaio, regressou a Lisboa em 1513. Ali dedicou-se a estudar as mais recentes cartas, investigando uma passagem para o pacífico pelo Atlântico Sul e a possibilidade de as Molucas estarem na zona espanhola definida pelo Tratado de Tordesilhas, em parceria com o cosmógrafo Rui Faleiro.
Em 1517 foi a Sevilha com Rui Faleiro, tendo encontrado no feitor da ‘Casa de la Contratación’ da cidade um adepto do projeto que entretanto concebera: dar a Espanha a possibilidade de atingir as Molucas pelo Ocidente, por mares não reservados aos portugueses no Tratado de Tordesilhas e, além disso, segundo Faleiro, provar que as ilhas das especiarias se situavam no hemisfério castelhano.
Com a influência do bispo de Burgos conseguiram a aprovação do projecto por parte de Carlos V, e começaram os morosos preparativos para a viagem. Depois da ruptura com Rui Faleiro, o navegador português continuou a aparelhagem dos cinco navios que, com 256 homens de tripulação, partiram de Sanlúcar de Barrameda em 20 de setembro de 1519.
Antes da viagem, Fernão de Magalhães fez um segundo testamento em Sevilha a 24 de agosto de 1519, onde institui Morgado de boa parte de seus bens, que deixou a seu filho Rodrigo de Magalhães e, na falta dele, a seus irmãos Diogo de Souza de Magalhães e Isabel de Magalhães.
Antonio Pigafetta, escritor italiano que havia pago do seu próprio bolso para viajar com a expedição, escreveu um diário completo de toda a viagem, possibilitado pelo facto de Pigafetta ter sido um dos 18 homens a retornar vivo para a Europa. Dessa forma, legou à posteridade um raro e importante registo de onde se pode extrair muito do que se sabe sobre este episódio da história.
Uma das maiores aventuras do século XVI teve, assim, início a 20 de setembro do longínquo ano de 1519. Fernão de Magalhães comandou a primeira expedição que deu a volta ao mundo. Mas não terminou a viagem e morreu no caminho.
Dos 256 homens, regressaram 18
Contudo, a expedição teve sequência e o audacioso objetivo foi alcançado após mortes dos marinheiros e perdas das embarcações. Segundo relato do italiano Antonio de Pigafetta (1480 ou 1491-1534), um dos poucos sobreviventes, a aventura teve mais momentos de adversidades e milagres que de marcha vitoriosa. Ao todo, partiram cinco caravelas – San Antonio, Victoria, Concepción, Santiago e Trinidad (capitânia) –, com 240 homens, que zarparam de Sevilha, na Espanha. A viagem começou sem maiores dificuldades, com a passagem por Cabo Verde. Contudo, no Oceano Atlântico, eles enfrentaram uma terrível tempestade.
Em março de 1520, Fernão de Magalhães e seus homens chegavam na baía de San Julián, localizada hoje na Argentina.
Além das adversidades dos mares, a expedição também teve revoltas internas, em que comandantes dos outros navios planejavam a traição contra o capitão-geral. Magalhães mandou decapitar Gaspar de Quesada, o capitão da Concepción, depois abandonou Juan de Cartagena, o antigo capitão da San Antonio.
Fora isso, houve a perda de navios.
Santiago naufragou enquanto explorava a costa da Patagônia. Os navios restantes seguiram pelo Pacífico e chegaram ao arquipélago de Saint-Lazare – atual Filipinas – em 27 de março de 1521. Foi quando Magalhães morreu. No dia 27 de abril, ele teria sido atingido por uma lança envenenada, atirada por um dos habitantes locais.
A Concepción foi incendiada em maio e, em 18 de dezembro, Trinidad afundou. Foi quando a fome começou a atingir a expedição. “Nós só comíamos velhos biscoitos transformados em poeira e cheios de vermes, fedendo urina de rato”, escreveu Pigafetta. Além da fome, havia doenças como o escorbuto.
Ao final da expedição, restou apenas o navio Victoria. Uma parte da carga de especiarias teve de ser abandonada para que a embarcação seguisse viagem. Em maio de 1522, a nau ultrapassaria o cabo da Boa Esperança. Apenas 18 dos seus homens conseguiriam retornar a Sevilha.
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