Depois do Carnaval

Depois do Carnaval

“Depois do carnaval eu vou tomar juízo

Há muito que eu preciso me regenerar

Largar mão da viola, procurar batente

Preciso urgentemente me estabilizar

A vizinhança já está falando horrores

Você não me defende, ainda vem contra mim

Dizer que não trabalho e vivo de favores

Há tanto exagero, não é bem assim”

Jair Rodrigues

Carnaval é um intervalo curto entre o dever e o prazer, um tempo para dar um tempo a tanta coisa por fazer.

A saúde que se cuide sozinha e ainda para agravar há os exageros da bebida e da cozinha.

A criançada a pular aprende a rir, a cantar, a dançar.

Os idosos esquecem as dores, abrem a janela da lembrança, sem dançar entram na dança.

Muita gente sai para a rua quase nua; outros compram um abadá e saem para desfilar nos blocos de carnaval como se fossem Sheiks reverenciando Alá.

Nas escolas do Rio, de fio a pavio, não há falta de dinheiro, estonteantes, brilham mais que diamantes.

Está tudo ali: a pobreza, a riqueza, a corrupção a minar os recursos da nação, os fantasmas da falta de tudo a jogar lama na alegria do povo.

No fundo, cada escola propõe um mundo novo, mas isso só depois do carnaval.

Ali não! Ali é para jogar as mágoas fora, mandar a tristeza embora.

O governo ainda não aprendeu a lição, aproveita a hora para encaminhar projetos ao Legislativo, na surdina, aqueles mais cabeludos que só o carnaval consegue disfarçar.

Afinal quem vai ver!...Anda todo o mundo na folia a pular o carnaval...

Só não aprovam porque nos bolsos dos vereadores, Deputados e Senadores não falta dinheiro para aproveitar o melhor do carnaval.

- Depois a gente pensa nisso e tenta resolver.

E mais uma vez a culpa é do português que trouxe para o Brasil o carnaval. O Zé Pereira, o sapateiro português José Pereira de Azevedo Paredes, criou um conjunto de bombos e tambores, ele à frente a capitanear o bloco. Passava pelas ruas principais do Rio de Janeiro.

A música ruidosa, contagiante ia seguindo e se espalhando pelo país inteiro.

Música portuguesa com alma brasileira, miscegenação perfeita.

Não há filósofo, poeta, jornalista que resista.

Mas hoje, quarta feira de cinzas já passou, a quaresma começou.

Hora de pegar a caneta fazer as contas: muito mais débitos do que créditos.

E volta a acreditar no Capitão

“Brasil acima de tudo

E Deus acima de todos”

Lita Moniz