"LEMBRANÇAS"

Hoje parei pra pensar em mim.Recordei do meu eu tão longe, tão indefeso e inocente.

Estrada de chão, pés descalçados e um pirulito açucarado na boca(coisas pra tapear menino), trazido por minha avó lá da feira de Nova Soure pedaço de sertão baiano.

Na bagagem trazida em bocapiu., os mantimentos necessários ou a parte que cabia no orçamento da roceira. Coisas como:

Duas rapaduras, dois pacotes de bolacha mata fome,uma diadema colorida para enfeitar os cabelos da minha irmã, um novelo de linha, duas pedras de anil, uma caixa de missi, um pedaço de bolo de puba, uma caixa de fornicida tatu,uma latinha amarela de neocid,um frasco de aguardente alemanha e uma meota de cana destilada que ela tanto gostava.

Para suas pitadas preguiçosas, não podia faltar o fumo para o cachimbo de barro por ela mesma construido, com sapiencia matuta de artesã.

Dos netos( talvez por ser o caçula) era quem mais ganhava agrado.

Cheiro de vó,de terra e de lembranças que a mente agora me conduz a tempos idos.

Agora, em minha crescida vida, não tem mais cheiro de vó, as estradas são asfaltos, a inocência causa espanto e ainda sigo indefeso.

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 20/07/2007
Reeditado em 29/02/2008
Código do texto: T571818