UM MUNDO DE EGOÍSMOS E ATROCIDADES

UM MUNDO DE EGOÍSMOS E ATROCIDADES

Rangel Alves da Costa*

O trono dos grandes impérios (o mesmo assento para qualquer governo), no tempo presente e noutros períodos históricos, sempre foi ocupado por governantes que fazem do egoísmo pessoal uma caracterização do próprio poder, exteriorizando-o de forma perigosamente cega. Fazem do poder algo intimista, que depende de seus próprios desejos e caprichos, e daí conduzirem a vida da nação e de seus habitantes segundo suas pretensões nebulosas. E as consequências danosas se irradiam além fronteiras.

São exteriorizações egoísticas de governantes que minimizam os interesses maiores em nome dos interesses pessoais, e estes, sempre justificados pela ambição, acabam se tornando em verdadeira política de governo. E custe o que custar. O próprio conceito de egoísmo já implica numa negação de valores primordiais ao governante, pois este age para ter tudo a seus pés, para fazer prevalecer unicamente suas ambições. E tudo se torna ainda mais perigoso quando se sabe que o poder egoístico logo desanda para a tirania, para um governo que passa a ser exercido pela força, opressão e medo. E assim porque a nação passa a ser moldada segundo os interesses mais escusos e ilegítimos.

Consequência de um governante egoísta é tornar o seu governo num casulo de mandos e desmandos, arrogâncias e arbitrariedades, imposições e perseguições. Caracterizado assim, o poder logo se transforma em perigosa e afiada arma, sempre pronta a se voltar contra qualquer um que interna ou externamente represente ameaça. Internamente, ou há submissão absoluta ao mando ou será visto como um perigo que precisa ser exterminado. E quando o próprio povo é caçado como inimigo, o injustificável é defendido com a inversão do princípio da soberania. E o alardeamento acintoso que no seu território e perante o seu povo o governante goza de total independência para fazer o que bem desejar.

As alegações de soberania para calar as críticas externas - ainda que não se possa negar nem esconder as aberrações praticadas - são sempre acompanhadas de ameaças. E ainda maiores quando dispõe de armas nucleares ou imagina ter uma força bélica poderosa. As relações vão se tornando num campo minado. O simples fato de querer mostrar poderio e força perante os demais é gesto suficiente para causar grandes e graves problemas mundiais. E isto não ocorre apenas com as grandes potências. Mesmo quem não tem sequer um exército que lhe obedeça, se serve do blefe para dizer que guarda no seu paiol uma arma capaz de destruir o mundo.

Destruiria toda nação inimiga se possível, mas apenas porque teme ameaça ao seu poder pessoal, ao seu egoísmo. Como já afirmou um sábio enclausurado por criticar um tirano, não há nada mais perigoso que um governante egoísta. Como o poder inflama e desnorteia, cega e embrutece, e ele deseja não só manter como ter cada vez mais poder, então o valor do que o rodeia será o mesmo daquilo que está debaixo de seus pés. Sua insensibilidade se torna tamanha e sua ganância tão ilimitada que nada lhe parece possível de existir senão sob o seu domínio absoluto.

Poder e egoísmo se entrelaçam sem disfarces. Não há poder sem que o poderoso ame o poder que possui. Não há amor ao poder sem que implique em egoísmo. O problema não é gostar tanto do poder a ponto de tudo fazer para mantê-lo em suas mãos, mas a forma como essa passionalidade excessiva se exterioriza. Mais grave ainda quando a cegueira de poder não se perfaz porque o governante age em nome da nação e seu povo, mas simplesmente porque imagina ser ele próprio o poder e por isso mesmo tudo fará para preservá-lo.

Num estágio tal, toda medida tomada, toda guerra declarada, qualquer ação empreendida e tudo que seja ordenado fazer, dependerá apenas da vontade do governante. Tanto faz que o povo aceite ou não, seja ou não imprescindível para a vida da nação, que traga ou não drásticas consequências, vez que interessa apenas a manutenção do mando. Assim, basta que o governante, no seu apego ensandecido ao poder, imagine uma ameaça e logo partirá para o ataque. Não agirá em nome da nação, pois estará impelindo esta a agir em seu nome, em defesa do seu poder. Por consequência, lançará seu povo aos perigos e à morte para preservar seu próprio algoz.

Os exemplos não são difíceis de ser encontrados. A loucura de Hitler fez com que milhões de inocentes morressem pelo seu egoísmo pessoal, pela sua sede não só de vingar mágoas passadas como para ter o mundo em suas mãos. Stalin mandou milhões para a morte nas regiões siberianas apenas porque os viam como ameaças aos seus planos pessoais de poder. Não faz muito tempo que governante sírio Bashar al-Assad mandou despejar gases tóxicos sobre inocentes, mas não porque estes apresentavam perigo à nação, apenas porque queria mostrar força. E força para se manter no poder a todo custo.

O mundo ainda está repleto de governantes que estendem seus egoísmos pessoais à nação e acabam provocando sérios conflitos com outros Estados e governantes. Exemplos recentes podem ser encontrados na Coréia do Norte e na Rússia, onde seus mandatários, sempre de forma provocadora e arrogante, exteriorizam seus egocentrismos insanos e procuram, a partir de ameaças, calar o resto do mundo para as atrocidades praticadas.

Poeta e cronista

blograngel-sertao.blogspot.com