REIVINDICAR ATENTADOS: A COVARDIA COMO TROFÉU

REIVINDICAR ATENTADOS: A COVARDIA COMO TROFÉU

Rangel Alves da Costa*

Qual o prazer, o regozijo, o senso de vitória e o contentamento de uma pessoa, um ensandecido, um guerrilheiro ou facção terrorista, ao reivindicar a prática de atentados? Qual a motivação para que grupos terroristas se esforcem e se organizem cada vez mais no único intuito de disseminar o terror, o medo e a morte? O que leva pessoas a planejar com esmero e destreza a morte ou o flagelo de inocentes e a destruição de alvos alheios, quando seus objetivos são direcionados aos governantes e ao poder?

O termo atentado, no seu viés terrorista, já demonstra a crueldade da ação. Este pode ser definido como tentativa de lesão ou cometimento de ato lesivo contra alvos outros que não aqueles declarados como inimigos. Através de atentados os grupos terroristas disseminam violência física contra instalações ou pessoas, objetivando com isso atingir psicologicamente um governo ou grupo contrário. Quer dizer, ao invés de enfrentar a própria força inimiga, covardemente escolhem alvos para ataques premeditados.

Por mais que se pareça absurdo, mas são os fundamentos religiosos que mais alimentam as violências e aberrações terroristas. Por considerarem infiéis todos aqueles que não comungam de sua fé, por terem como ultrajantes as práticas religiosas de países ocidentais, ou até mesmo por desejo de imposição de crenças, credos e ideologias, grupos se formam para combater aqueles alçados à condição de hostis aos seus preceitos de fé. Então se alicerça o fundamentalismo como forma de tornar os dogmas em fanatismos e a defesa destes em ações extremistas.

A religiosidade, por mais que fanatize e obscureça a aceitação do outro que não comungue da mesma fé, não se propõe a domar o espírito para o mal. A intolerância, por mais que provoque cegueira mental e faça nascer o ódio onde deveria haver compreensão, não é motivo suficiente para a dizimação de vidas. A negação dos governantes, das nações e dos povos, ainda que provoque guerras e outros conflitos, não se mostra como suficiente para ataques a alvos indefesos. Mas não é assim que se expressa o ideário terrorista. É simplesmente a busca do mal a todo custo. Para chamar a atenção das nações e governantes, os grupos tomam como vítimas até crianças. Mas deveria haver uma motivação muito maior, acaso se imaginasse qualquer tipo de justificativa para tamanhas atrocidades.

Então, o que verdadeiramente motiva a ação insana do terrorismo nos seus atentados, nas suas investidas sangrentas, nas suas práticas de suicídios de uns para morte de muitos? Igualmente, por que logo chamam os holofotes para anunciar que foram os responsáveis pelas tragédias? Não raro que grupos diferentes se responsabilizam pelas crueldades praticadas. O problema, contudo, não é uma suposta demonstração de poder destrutivo ou de ferocidade, mas a covardia que sempre age às ocultas em busca do cometimento de perversidades. E parece não haver trégua na sanha assassina.

Está no site g1 (13/08/2015): “Estado Islâmico reivindica atentado em mercado que matou mais de 50. Mais de 50 morreram e mais de 100 ficaram feridas na explosão. Mercado fica Yamila, região de maioria xiita. O grupo extremista Estado Islâmico reivindicou o atentado que deixou mais de 50 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas na explosão de um caminhão-bomba em um mercado no leste de Bagdá, no Iraque, na manhã desta quinta-feira (13)”.

Foi estampado no RFI em 11/08/2015: “Jihadista maliano reivindicou atentado de Sévaré. Um dirigente jihadista, próximo do pregador islamita Amadou Koufa, reivindicou esta terça-feira 11 de Agosto de ter cometido o ataque dum hotel em Sévaré. Segundo essa pessoa, o ataque contra o hotel Byblos fez 15 mortos, quando o balanço oficial anunciou 13”.

Foi publicado na EBC - Agência Brasil (18/04/2015): “Estado Islâmico assume atentado que matou 33 pessoas no Afeganistão. O Estado Islâmico reivindicou o atentado suicida que fez pelo menos 33 mortos e mais de uma centena de feridos hoje (18) em Jalalabad, no Afeganistão, informou o presidente Ashraf Ghani. ‘Quem reivindicou este atentado? Não foram os talibãs, foi o Estado Islâmico que reivindicou o ataque’, disse ele”.

Na verdade, há uma verdadeira disputa para assumir a responsabilidades sobre as mortes, a carnificina, os ataques sangrentos, as crueldades disseminadas mundo afora. E também expectativa. Os grupos terroristas estão tão contumazes em tais práticas e agem com tamanha frequência que os governos atingidos e as lideranças mundiais ficam na incerteza de quem, por exemplo, teve a capacidade de rodear de bombas o corpo de um menino de dez, onze anos, e fazê-lo explodir numa grande mesquita. Com o pequeno suicida, dezenas e até centenas de vítimas inocentes.

Só mesmo a prevalência da irracionalidade sobre a razão poderia explicar a tomada de tais atitudes, desse ânimo frenético de violar a vida. Só mesmo a loucura e a insensibilidade poderiam forjar justificação ao terror como ofício de fé. Só mesmo a plena desumanização humana poderia tratar o próximo como ser que merece se findar pelo ódio. Contudo, é o simples prazer, uma glorificação bestial para dizer “eu fiz, eu matei, eu fiz o sangue jorrar”.

Poeta e cronista

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