O TAMANHO DO MUNDO DE CADA UM

O TAMANHO DO MUNDO DE CADA UM

Rangel Alves da Costa*

Já disse o poeta que o tamanho do mundo está na proporção da visão da pessoa que o avista. Mas não apenas uma visão de limites, de distâncias, e sim de conhecimento. Assim, o tamanho do mundo de cada um condiz com a compreensão de sua realidade.

Mas não é fácil avistar o mundo nem alcançar a dimensão desejada. Quando se diz que a pessoa vive fechada em seu mundinho, certamente afirma acerca de sua reduzida compreensão da realidade, eis que os limites de um mundo pessoal estão nas paredes daquilo que quer avistar e ter como parâmetro de tudo.

Conhecer o mundo, ir adiante de suas fronteiras, não significa viajar, passear, conhecer lugares distantes. Isso também proporciona uma visão daquele mundo alcançado, mas não de modo a estender aquele conhecimento sobre outras realidades. E o conhecimento pode ser alcançado mesmo sem qualquer viagem, até mesmo sem que a pessoa tenha saído uma única vez de seu berço de nascimento.

E assim porque conhecer o mundo e se aproximar de sua dimensão nada mais é do que buscar conhecimento sobre a realidade da vida, sobre a existência humana, sobre os fundamentos históricos da sociedade, sobre as relações sociais, sobre as bases políticas, sobre os grandes problemas que afligem a humanidade. E principalmente conhecer a si mesmo como peça essencial da vida.

O fim maior do conhecimento do mundo é situar-se perante a sua realidade e, a partir do entendimento geral, melhor conhecer realidades particulares. Muitas vezes uma coisa simples deixa de ser percebida e compreendida porque a pessoa é incapaz de buscar no espelho da vida o reflexo para aquela realidade. Outras vezes, basta que algo esteja na iminência de acontecer e o sujeito já pode fazer previsões sobre suas consequências.

Quando uma pessoa sobe numa montanha e lá do ponto mais alto lança o olhar sobre o mundo ao redor, somente aquele mundo ao redor irá avistar. Diferentemente ocorrerá se no cume da mesma montanha procurar refletir sobre a realidade do mundo a partir daquela visão. Mas tal tarefa será impossível de ser feita se o indivíduo já tiver subido ao cume levando consigo uma diversidade de conhecimentos.

E o conhecimento pode ser adquirido de diversas maneiras. A realidade vivenciada por cada sujeito se torna fundamento essencial de aprendizado. É a partir do conhecimento de sua realidade que ele poderá se posicionar perante outras realidades. Mesmo o indivíduo que jamais tenha saído de seu berço de nascimento, passa a supor a existência de outros lugares a partir da visão que possui de seu mundo. Quando confrontado com outras realidades, não só a sua visão de mundo se alarga como o seu próprio lugar passa a ser visto de outro modo.

O aprendizado através da educação formal possibilita o aprofundamento do conhecimento. O sujeito passa a se situar perante realidades que jamais imaginou existirem, passa a conhecer conceitos e fenômenos que desafiam seu pensamento. E então o seu microcosmo emerge para um instigante macrocosmo cada vez mais desafiador. E aí está o ponto ideal de redimensionamento do mundo, de lançar o olhar sobre conhecimentos cada vez maiores.

O estudo e a leitura, além de trazerem contínuos novos conhecimentos, possuem o dom de transportar o sujeito para outras dimensões. É através do conhecimento que todas as fronteiras são abertas, os limites são apagados, tudo fica ao alcance. É o conhecimento que proporciona novo olhar sobre a vida, a existência e o mundo, que permite ao sujeito confrontar criticamente as realidades e ter um posicionamento coerente desde o seu chão ao que acontece nas regiões mais distantes da terra.

Desse modo, o tamanho de mundo de cada um é o tamanho de sua compreensão sobre a realidade. Não precisa estar na fronteira da guerra para conhecer a dor de milhões, não precisa presenciar a miséria africana para avistar a lágrima ossuda e faminta, não precisa estar na rampa do planalto para sentir a podridão e a fedentina. E um conhecimento que vai além da imaginação para se transformar em conscientização crítica.

Poeta e cronista

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