Fotos antigas - memórias -
Crônica
Fotos, memória e Proust
Apolinário Ternes, historiador
Essas coisas de guardar fotos antigas acontecem pela última vez com a geração de 50. De lá para cá, as novas gerações já "arquivam" fotos apenas no computador.
Assim, da máquina digital direto para o PC e, eventualmente, para o CD.
A fotografia perdeu o encanto. Há pouco tempo, por exemplo,
quando os cinqüentões de hoje eram crianças,
ainda folhearam grossos álbuns de fotografias dos pais e avós.
Aquelas fotos posadas, verdadeiro acontecimento em família.
Primeira Comunhão, 60 anos de vovó, reunião de família
pela formatura do tio (técnico em contabilidade),
casamento da tia Ernestina - ninguém mais se chama Ernestina, já repararam - e assim por diante.
Fato importante, foto no álbum.
Tínhamos, portanto, uma certa memória da família.
Aquela família de antigamente, de pai, mãe e filhos,
com quatro avós e um monte de tios e primos. Tudo isso acabou.
A família de hoje geralmente é constituída de pai e mãe,
que já trazem filhos de outros casamentos e tudo, portanto, é duplo ou triplo.
Oito avós, dezenas de tios e montoeira de primos.
Os casamentos não são mais "até que a morte os separe".
Antes disso, o pessoal vai separando mesmo.
Assim, o sujeito chega aos setenta e coleciona fotos de vários casamentos,
de diferentes famílias, com diferentes sogros,
sogras e uma infinidade de cunhados,
de forma que tudo deve mesmo ser arquivado em computador,
com um soft especial.
Outro dia retirei um livro antigo da estante e estava lá, amarelecida, uma foto antiga.
Fiquei a imaginar se naquele tempo, naquele instante, poderia imaginar os anos que viriam pela frente.
Impossível! Surpresas vieram de todos os lados.
E foram tantas... Algumas ótimas, outras nem tanto.
A vida é feita de vaivéns. Mais vai do que vem.
Acontecimentos, pessoas, eventos, tudo vai escorrendo na ampulheta do tempo. E cada um de nós trilha caminhos diferentes.
Daquela foto, cada personagem seguiu um tipo de vida.
Alguns já se foram, outros persistem.
Muitos foram felizes, saudáveis, previsíveis.
Outros surpreenderam mesmo, ficaram exatamente onde estavam.
E alguns simplesmente sumiram.
A foto antiga serve para nos atiçar a imaginação e tentar remontar os anos vividos e sentir, de novo, o sabor da vida,
especialmente quando cai nas mãos de forma inesperada,
numa manhã cinzenta, inteiramente gasta
nestes passeios da memória em busca do tempo vivido,
e não "perdido" como queria Proust,
também ele um mestre da memória e do passado,
colecionador de fotografias.
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Autorizado a publicação pelo autor do texto:
Jornalista Apolinário Ternes.
Fonte:
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