PRESERVAÇÃO

PRESERVAÇÃO

Rangel Alves da Costa*

O lixo da humanidade se acumula por todo lugar. Não são apenas os resíduos sólidos e líquidos, os restos e as sobras que se acumulam pelos esgotos, lixões, leitos de rios e onde a sede poluente do homem possa alcançar. Há também o lixo da consciência, da falta de conscientização, do descaso e da negligência, da degradação e da permissividade destruidora. Tudo isso causa enorme prejuízo ao ambiente planetário e humano.

O ser humano é agressivo demais consigo mesmo e com o seu meio natural. Não obstante suas disfunções comportamentais, ainda acumula em si o próprio lixo do descuido, do tanto faz, da irresponsabilidade nos atos e ações. E acaba consumindo aquilo que envenena a alma e o organismo. O fisicamente imprestável lhe serve como alimento, como gula e insaciedade, e o resto desse consumo é descartado no próprio ambiente da vida. E então tudo acaba se transformando numa poluição só, afetando o ser e o seu meio.

O mais doloroso é que ninguém parece se dar conta da lei da causa e efeito, ou da lei das consequências pelos maus atos, ou ainda de todas as leis que prevejam o pagamento de alto preço pelas incoerências cometidas. Somente quando o rio que passa pela aldeia morre é que começa a perceber o que motivou aquela destruição, somente quando o calor diário chega perto dos quarenta graus é que começa a se perguntar o porquê de estar acontecendo assim. Quer dizer, tem de sentir o efeito para conhecer as causas.

Tudo parece ser uma questão de responsabilidade do homem, desde a sua fase infância. Desde cedo deveria aprender que o consumo desenfreado pode lhe causar prejuízos, engordar e provocar danos à saúde. Desde criança deve aprender que jogar lixo na rua não só é falta de educação como entope bueiros e prejudica a vazão das águas das chuvas. Desde muito cedo que deveria saber que devastar as florestas, poluir o ar, desmatar as matas ciliares e abusar dos recursos naturais poderão trazer graves consequências futuras.

Talvez somente no mesmo passo dos modismos que a preocupação ambiental vingaria de vez nas mentes jovens. Ora, se tanta coisa que não presta, não tem serventia humana alguma, de repente aparece e se enraíza na sociedade e passa a ditar comportamentos, pensamentos e atitudes, então bem que a questão ambiental poderia ser experimentada e consumida pela juventude. E somente assim teríamos algo realmente sério sendo fruído sem imposições.

Atualmente, após o aumento da preocupação com as questões ambientais e do progressivo desenvolvimento do meio ambiente como objeto de estudo, não mais se admite uma educação escolar dissociada da educação ambiental. Permeando diversas disciplinas ou sendo objeto de currículo específico, a verdade é que a questão ambiental tornou-se de fundamental importância no processo de ensino-aprendizagem.

Muito justifica que seja assim, que a educação ambiental tenha alcançado o reconhecimento como objeto de estudo, seja enquanto disciplina específica, com currículo próprio, ou permeando, de forma transversal, diversas outras disciplinas. Ademais, enquanto as disciplinas geralmente se voltam para temas específicos, a educação escolar possui abrangência quase que globalizante, pois seus temas já eram objeto de abordagem das ciências em geral.

Por muito tempo, a questão ambiental pontuou em temas relacionados, por exemplo, à biologia, à geografia e outras disciplinas relacionadas às ciências do homem e da natureza, mas sem a profundidade exigida para a ampliação e o aprofundamento de seus conceitos, parâmetros e diretrizes. Contudo, a partir do instante em que a sociedade passou a ser alertada para os graves problemas ambientais planetários e, consequentemente, o surgimento de novos conceitos voltados à questão ambiental, então a educação teve de chamar para si a incumbência de ser o nascedouro de uma nova forma de se pensar e se proteger a natureza e os recursos naturais. O que, no todo, serve de base à educação ambiental.

E que o ensino escolar sirva também para o aprendizado acerca do ambiente pessoal e interior do ser humano. A natureza intrínseca de cada ser necessita também ser preservada contra a devastação da própria pessoa.

Poeta e cronista

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