BASTARIA IBOPE E DATAFOLHA: PRA QUE ELEITOR?
BASTARIA IBOPE E DATAFOLHA: PRA QUE ELEITOR?
Rangel Alves da Costa*
A lei não deveria permitir pesquisa eleitoral às vésperas da realização do pleito. Chega até ser criminoso sepultar candidaturas antes do tempo e tornar outras vitoriosas antecipadamente.
Além disso, é como se tais institutos estivessem se expressando pelo eleitor, usurpando-lhe o direito de escolher livremente, em segredo, a opção por qualquer candidato. E principalmente quando se sabe que há um peso enorme ser apontado como vencedor numa eleição ainda não realizada.
Ora, é culturalmente assente no povo brasileiro que é muito mais confortável e promissor acompanhar o vitorioso àquele já tido como derrotado. Basta buscar um exemplo no futebol. Grande parte do torcedor silencia após derrotas do seu time, deixa de usar a camisa e se mantem como que escondido. Igualmente ocorre na política.
Quando um desses institutos de pesquisa de peso e influência afirma a ascensão de um candidato e a derrocada de outro, tudo se transforma numa bola de neve. E quando os prognósticos e as estatísticas começam a apontar vitória já no primeiro turno ou no segundo, então é como se nenhuma valia tivesse mais aquele que realmente deveria decidir, que é o votante.
Na verdade, os institutos de pesquisa nada mais fazem que descaracterizar o voto como algo sigiloso, de escolha livre, sem interferência de quem quer que esteja. Eis que acabam interferindo muito, prejudicial e antecipadamente. Se um candidato já é tido como eleito, então não teria cabimento votação.
Tal fato se torna mais grave ainda quando o eleitor começa a se perguntar qual o seu papel na escolha dos candidatos. E se indaga se o seu voto terá alguma valia quando tal instituto diz que alguém já está eleito. Ou ainda quando se questiona se vale a pena enfrentar uma fila imensa para o exercício do seu dever cívico, vez que tanto faz votar ou não.
Não é difícil constatar situações onde o desânimo se generaliza nas hostes de uma candidatura diante da divulgação de uma pesquisa. Assim ocorre porque os candidatos sabem muito que duplica o trabalho de convencimento de novos eleitores e até para manter aqueles que imagina ter.
Perante uma pesquisa ruim, com números que chegam inesperados, o candidato se vê num dilema terrível. Precisa manter o otimismo em seus eleitores, necessita mostrar que aquele quadro não corresponde à realidade, que seu pleito está sendo reconhecido e abraçado por uma maioria confiável. Contudo, sabe que não é fácil convencer, ainda que ele mesmo esteja convencido dos números erroneamente divulgados.
E não é fácil porque – como afirmado anteriormente – o povo em geral, e o eleitor de modo específico, gosta de redirecionar seus caminhos, mudar de lado e acompanhar aquilo que está sendo mostrado como vitorioso. É como alguém de repente decidisse gostar do azul porque um instituto de pesquisa disse que a maioria está vestindo azul. E o seu gosto pessoal, o seu voto pessoal, sua escolha?
As escolhas, infelizmente, passam a não ser mais do povo, mas sim de quem se arvora no direito de dizer quem vai ser o eleito e quem já está derrotado. A imensa maioria do povo brasileiro jamais foi pesquisada, mas de repente é forçada a se reconhecer dentre aqueles que disseram que votam neste ou naquele candidato. Isso está correto?
Claro que não, principalmente quando as pesquisas são divulgadas na véspera de um pleito. O Ibope e o Datafolha apontam, por exemplo, que Dilma está em torno dos 45% dos votos. E assim fazem porque pesquisaram dois, três ou cinco mil eleitores em diversas cidades e regiões do país. Mas o Brasil tem quantos milhões de eleitores?
O número de pesquisados acaba correspondendo a um número que chega a ser ínfimo com relação aos votantes, mas ainda assim afirmam que ali está o espelhamento da tendência eleitoral. A verdade é que mesmo não refletindo a realidade, acabam a transformando segundo seus objetivos.
E assim ocorre pela Teoria do Jiló: Todo mundo sabe que amarga, mas começa a ficar menos amargoso se pesquisas disseram que chega a ser açucarado. E depois todo mundo começa a saborear como se fosse uma delícia. Até mesmo veneno se experimenta assim.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com