Casinhas para cães-de-rua
Existe uma cidade no Brasil onde se encontrou uma forma simples para cuidar melhor dos cães errantes, mais comumente conhecidos como cães-de-rua. Em Bagé-RS o chamado “projeto das casinhas amarelas”, apesar de ainda estar em fase inicial, já ganhou a simpatia da população.
Com a ajuda de pessoas da própria cidade e até de Pelotas-RS, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, foram implantadas na rodoviária, na semana passada, seis casinhas de madeira para os cães que circulam pelo local. Vale ressaltar que eles já são cuidados pelos taxistas que lá trabalham, que mantêm água, comida, vermífugos e outros cuidados básicos. O que ganharam foi um teto para se abrigar da chuva e do sol.
A idealizadora do projeto é uma cidadã que, além de gostar muito de cães, é uma defensora atuante dos que vivem nas ruas. Stefânia Corrêa contou a um jornal de Bagé que tudo começou quando ela adotou uma cadela, que, acostumada a viver livre, não se acostumou a morar no pátio de sua casa. Stefânia, então, começou a alimentá-la na rua e colocou uma casinha amarela no canteiro para sua segurança.
A partir daí, segundo ela, vários curiosos começaram a se interessar pela sua atitude, levando-a a buscar apoio para o projeto. Com a proposta montada, Stefânia a divulgou na cidade com o nome “Bagé: cidade das casinhas amarelas”, objetivando abrigar cães-de-rua adotados pela comunidade. No caso dos cães da rodoviária, todos são castrados, vacinados e têm suas casinhas regularmente limpas pelos taxistas, seus familiares e voluntários.
Quem dera pudéssemos fazer algo parecido em Viçosa-MG, que tem nos cães errantes um sério problema social. Além de não contar com uma política pública voltada para programas de esterilização animal (castração), a cidade ainda recebe de forma covarde os cães-de-rua dos municípios vizinhos, que costumam ser abandonados na “calada-da-noite”.
A SOVIPA – Sociedade Viçosense de Proteção aos Animais, fundada em 2000 e reconhecida oficialmente como entidade de utilidade pública municipal, faz um trabalho fabuloso de educação da comunidade, além de realizar feiras de adoção de cães e gatos. Somente na feira semanal na Estação do Pet, a entidade já encaminhou, desde setembro de 2011 (em 133 “edições”), mais de quinhentos animais. Ótimo para eles, que ganharam um lar; ótimo para as famílias que os adotaram, que ganharam um tipo infalível de terapia; ótimo para o mercado de produtos pet, que ganhou muitos consumidores; e ótimo para a sociedade, como um todo, que deixou de ter todos estes animais circulando pela cidade.
Respaldada por estudos sérios, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que “o sucesso dos programas de controle de natalidade canina ou felina depende da esterilização de, no mínimo, 70% dos animais de cada espécie com acesso livre às ruas, englobando os errantes e os semidomiciliados (os que têm donos, mas têm também acesso à rua)”. A partir de programas bem-sucedidos, desenvolvidos em vários países, já se sabe, por exemplo, que é possível alcançar tal meta em médio prazo (cerca de cinco anos), esterilizando-se anualmente cerca de 10 a 20% destas populações. Recomenda-se que pelo menos 2/3 dos animais esterilizados devam ser fêmeas.
Enquanto Viçosa e municípios vizinhos não adotam essa eficaz política de controle populacional de cães e gatos, que certamente seria aprovada por quem gosta e por quem não gosta deles, uma atitude inteligente é justamente seguir o exemplo de Bagé. Muitos já cuidam dos cães errantes em Viçosa, dando água, comida, remédio e afagos, mas todo este cuidado seria ampliado de forma significativa com um teto seguro para eles. Além de deixá-los mais dóceis e acessíveis (inclusive para cuidados básicos, como vacinação, vermifugação e castração), faria a cidade ser um ótimo exemplo também nesse aspecto educacional. Quem sabe não possamos pintar as casinhas daqui de verde, azul, laranja...