MOURA LIMA,UM CONTISTA DE MÃO CHEIA

MOURA LIMA, UM CONTISTA DE MÃO CHEIA

*Liberato Póvoa

Leitor dos mais ávidos e de certa forma apaixonado pela literatura regionalista, já li de tudo, dissecando toda a obra de Carmos Bernardes, Guimarães Rosa, Bariani Ortêncio e muitos outros, chegando, certa vez, a quase apanhar quando, lá nas alterosas, ousei escrever que Carmo Bernades era melhor que Guimarães Rosa. Mas isso é outra história.

Nesta minha avidez de ler de um tudo, às vezes fico na conta de desatencioso, pois, desde a primeira edição do excelente Serra dos Pilões-Jagunços e Tropeiros, de Moura Lima, fiquei a dever-lhe uma apreciação, e o livro de tão bem aceito, já caminha para a quarta edição, sem ele receber a minha singela opinião.

Meu propósito não é voltar àquele fabuloso romance, que já teve os elogios de sumidades da nossa literatura, não bastasse haver aquela obra ter sido distinguida com o Prêmio Personalidade Cultural, pela UBE do Rio de Janeiro, como o romance destaque do Tocantins e da Região Norte. Sobre ele falaram Josué Montello (então presidente da Academia Brasileira de Letras), Arnaldo Niskier(também daquela Academia), o sociólogo Clóvis Moura, da USP, O saudoso Eli Brasiliense, o consagrado crítico literário Assis Brasil, a acadêmica Ana Braga e o Presidenta da Academia Goiana de Letras, José Mendonça Teles, sem se falar em outros, que teceram rasgados elogios ao seu romance. Minha opinião, no meio dessa plêiade de ilustres escritores nada acrescentaria, já que seguramente não teria eu as palavras adequadas para suplantar aquelas que foram bem colocadas.

Mas, malgrado a excelência de Serra dos Pilões, que já se firmou no cenário tocantinense e pulou fronteiras para brilhar no cenário nacional, creio que não é exagero nenhum dizer que há muito tempo não lia um livro de contos tão bem escrito e gostoso como Veredão.

Moura Lima soube escolher o enredo de cada conto, situando-o geralmente no cenário tocantinense, de forma que nós, gente da terra, sentimos o gostinho dos nossos costumes, acompanhamos as manifestações populares, as tocaias de beira de corgo e as abusões retratadas pelo magistral contista.

O inusitado de certas circunstâncias demonstra a criatividade do contista, como, principalmente, o desfecho de certos contos, que têm o sabor de Guy de Maupassant, com aquela surpresa no final, sem se falar na trama enredada, sendo impossível destacar qual deles é o melhor, tal a excelência do linguajar e da teia tecida pelo autor, de forma a prender o leitor de capa a capa.

No pertinente ao regionalismo, o nosso contista coloca seus termos expressões de forma natural, sem o artificialismo de certos escritores que se arvoram de regionalistas, e os introduz na descrição e nos diálogos de forma tão simples, que, no mais das vezes, o próprio leitor já lhe antevê o significado. Com isto, além de rememorar os termos de tão bom gosto que estavam empoeirados nas prateleiras de nossa memória, vem de oferecer preciosa contribuição aos dicionaristas e filósofos. Vemos ali palavras sacadas da boca do sertanejo, sem burilamento (às vezes perniciosos) e sem os neologismos e os exageros roseanos, pois Moura Lima firma-se como autêntico e original regionalista, a exemplo do insuperável Carmos Bernades, enriquecendo sobremaneira o vocabulário sertanejo que acabaria por morrer pelo esquecimento do desuso.

Meses atrás, Osvaldo Póvoa fez uma bela apreciação de Veredão no Jornal do Tocantins, e enfocou mais o aspecto histórico e regionalístico, e, ao acabar de ler o livro, tive convicção de que ele não exagerou, pois também comungo de sua opinião.

Além da trama urdida, que faz com que o leitor não despregue os olhos de cada linha de seus contos, Moura Lima introduziu centenas de regionalismo, que fluem de forma natural, sem artificionalismo, como se a boca do povo se abrisse para narrar-lhe as passagens, a emoldurar os diálogos muito bem colocados.

Prefaciado pelo consagrado folclorista e contista brasileiro Eduardo Campos, que reconhece no nosso contista qualidades que o credenciam a passar as fronteiras estaduais. Veredão é, sem favor algum, e sem intenção de magoar qualquer colega da pena e digo isto como contista que tento ser,é o melhor livro de contos até o momento produzido em nosso Estado.

* Liberato Póvoa, escritor, historiador, crítico literário, desembargador, ex- Presidente do Tribunal de Justiça do Tocantins e da Academia Tocantinense de Letras. Autor de vasta obra jurídica e literária.

MOURA LIMA
Enviado por MOURA LIMA em 19/05/2007
Código do texto: T492833