ASSIM DESCAMINHA A HUMANIDADE
ASSIM DESCAMINHA A HUMANIDADE
Rangel Alves da Costa*
Desde a idade da pedra lascada aos tempos modernos, que tudo parecia em rotineiro progresso para a humanidade. As inventividades e transformações demonstraram o potencial do homem para ajustar a vida sobre a terra aos seus anseios de sobrevivência. Contudo, nem tudo aconteceu no passo do esperado, vez que as mentalidades nem sempre progrediram no mesmo patamar. E parecendo mesmo regredidas em muitas situações.
A mente humana vive num descompasso histórico sem precedentes. Mesmo que os séculos tenham feito surgir mentes verdadeiramente brilhantes, demasiadamente prodigiosas nos seus ofícios e afazeres, a grande maioria da humanidade se contenta apenas em possuir pensamentos improdutivos ou mesmo perniciosos. Em muitos casos, as ideias que chegam são transformadas em malefícios.
Verdade é que nem todos nascem com as luzes de um Einstein, de um Leonardo da Vinci ou de um Aristóteles. As genialidades pontificam em apenas alguns, mas apenas para exemplificar o poder e a capacidade do homem para, através do pensamento, transformar o seu tempo e o mundo. Ademais, ao criar o homem e dar-lhe a sabedoria, o Criador não estabeleceu diferenças nem predestinou que apenas alguns se sobressairiam a outros nas suas realizações.
Do mesmo modo, em meio à criação não foi estabelecido que muitos seriam tão medíocres que envergonhariam o mundo em que vivessem. Certamente ninguém nasceu já carregando a sina da insignificância ou da preguiça mental. Contudo, o que se observa é justamente a letargia assolando mentes que bem poderiam ser produtivas ou compromissadas com ações mais importantes. Isto porque o conhecimento útil é fruto de uma constante busca de aquisição e aperfeiçoamento.
O progresso da mente vai produzindo resultados úteis a partir do interesse, do desejo de realização, do questionamento, da incessante necessidade de transformação. E a todos, indistintamente, é dado o direito de fazer uso de suas faculdades mentais perante suas capacidades. Contudo, se apenas uns se sobressaem nas suas investidas, tal fato não deve ser visto como incapacidade dos outros, mas de falta de perspicácia e perseverança para realizar algo proveitoso e diferenciado perante o seu mundo e sua existência.
Verdade é que muitas mentes humanas agem com a mesma inteligência de um sábio no intuito de produzir algo nocivo, inútil, imprestável. Não somente na falta de proveito para a sociedade, mas também pelas consequências desastrosas que podem ter. Não se discute a brilhante inteligência que fez surgir a bomba atômica, mas a inteligência negativa que, por exemplo, tem a ideia de lançar gases mortais sobre populações inteiras. Ademais, nem sempre os inventos nascem com as intencionalidades mortíferas.
Muitas vezes mentes proveitosas se confundem com inteligências perniciosas e acabam produzindo consequências nefastas. Passar meses e até anos estudando a melhor forma de provocar atentados terroristas e matar dezenas ou centenas de pessoas é um claro exemplo de como a mente humana pode trabalhar para o mal. Colocar bombas sobre o corpo e explodi-las com o único intuito de matar inocentes e com falsa ideia de salvação, é outra vertente dessa tão disseminada incongruência mental.
Tais atitudes não se restringem a apenas alguns, pois a astúcia do homem é desmedida. Não raro que passe a vida inteira sem produzir nada proveitoso, vez que toma todo o seu tempo pensando em fazer o que não presta, exatamente aquilo que nenhuma consequência benéfica terá para a sociedade. Neste rol são avistáveis pessoas que lucram com os vícios, que produzem em laboratórios drogas cada vez mais potentes e destrutivas, que participam de torcidas organizadas com o único intuito de praticar violências.
Assim é que descaminha a humanidade. E descaminhos que levam a sociedade a esquecer e até perder seus valores, a ter de abraçar modismos inaceitáveis, a ter de se curvar diante de tudo o que não presta. Inconcebível que depois de tantas transformações e aprimoramentos da sociedade, de repente o ser humano passe novamente a viver na pedra lascada do pensamento.
Paradoxalmente, é na cultura - se assim se pode chamar uma vertente da vergonhosa produção musical brasileira - que hoje em dia se assenta a exemplificação maior de que como grande parte da população perdeu de vez a noção de ridículo, jogou por terra os últimos resquícios de inteligência. Eis que não se concebe na normalidade do dito mundo do conhecimento e da educação que pessoas aplaudam, rebolem e se encantem com as letras de duplo sentido ou essa praga infecta chamada arrocha.
E é por isso que grande parte das máscaras da inteligência humana começa a cair quando uma mala de carro é aberta e alguém começa a impor aos outros verdadeiras abominações musicais. Pornografias cantadas, bebês amados e bilus bilus, coisas somente comparáveis ao que não era para existir dentro de uma cabeça humana.
Poeta e cronista
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