FILOSOFIA DOS CONCEITOS

FILOSOFIA DOS CONCEITOS

Rangel Alves da Costa*

Sendo também a filosofia um modo de buscar o conhecimento acerca do visível e do imaginado, logicamente que deve abranger o entendimento da existência dos seres e fenômenos a partir da ideia conceitual que se tem sobre estes. Por consequência, os conceitos, definições e significados também prevalecem no âmbito da filosofia.

Ora, assim porque a primeira ideia que se tem sobre algo surge de sua percepção e posterior denominação. Mesmo que nem tudo possa ser percebido, nada existe sem que possa ser denominado e a partir daí conhecido como tal. Contudo, muitas situações existem onde permanece apenas o conceito e a ideia sem um conhecimento plausível sobre sua aparência, dimensão e real existência.

Um primeiro exemplo: eternidade. Tem-se como eternidade aquilo que é imorredouro, que jamais perecerá, de existência permanente. Entretanto, tem-se apenas o conceito sem qualquer possibilidade de comprovação. E simplesmente porque eternidade não passa de uma ideia, de pressuposto que algo jamais pereça. Abstrata, a ideia de eternidade nada mais é que uma possibilidade apenas mental.

No âmbito da filosofia, o eterno se distancia como o próprio pensamento, de forma idealizada, mas tomada de abstrações, e assim porque não é possível conhecer sua existência, se algo possa ser asseverado como de duração infinita. Desse modo, nada mais resta a fazer que não imaginar a eternidade como aquilo que permanece até que a ideia de sua existência desapareça. E dessa forma o eterno não mais existirá.

Um segundo exemplo: amor. Que de início se diga que jamais foi possível chegar a uma definição ao menos aproximada da amplitude do que envolve o amor enquanto sentimento. Todas as definições tendem a situá-lo no contexto do romantismo, da afeição, da feição humanista e da religiosidade. Mas jamais foi proposto um conceito definitivo e abrangente sobre o amor, e assim porque impossível fazê-lo.

O amor ganha contornos mais definidos na ideia que mesmo numa possível definição. É tão difícil definir o amor quanto a sua verdade. Tem-se apenas como um sentimento de apego pessoal, de afeição, de gostar, de querer. Ou ainda como algo que faz bem ao espírito, anima a alma, alegra o coração, tornando a pessoa intimamente interligada ao que é amado. Mas não há uma certeza nem uma extensão desse sentimento, de modo a dizer que o amor pode ser reconhecido porque atendeu aos pressupostos da alma. Quais, senão situações muitas vezes apenas passageiras?

Outro exemplo: infinito. O que é mesmo infinito? Há comprovação que algo não tenha fim, cuja distância vá para além da eternidade? Mas é usual que se encontre respostas dizendo que infinito é aquilo que não tem início nem fim, que não tem limites nem medidas, que vai sempre além de todo pensamento. Logo se vê, entretanto, que não passam de respostas abstratas, apenas conceituais, sem qualquer fundamentação ou de possível comprovação. Seria apenas retórico afirmar sobre a infinitude de algo, vez que confronta com o próprio conceito de fim. Ademais, é mais fácil compreender e comprovar que tudo tem um fim.

Mais um exemplo: solidão. Insistem em afirmar que solidão é a condição de quem está sozinho, retirado da realidade ao redor, em completo isolamento. Mas isolado do que e de quem, vez que ninguém pode deixar de ter algo a seu lado? Ainda que numa bolha ou redoma não estaria sozinho, vez que acompanhado e ao redor do próprio invólucro. Ademais, sempre com a mente buscando e rebuscando pessoas e acontecimentos, tomada de presenças que jamais permitiriam pensar em completa solidão.

Os exemplos seriam muitos. Saudade, gratidão, tristeza, alegria, morte, ressurreição. Todos conceitos abrangentes e quase sempre abstratos, principalmente quando a confirmação mental não pode ser comprovada na realidade. Mas cabe ao pensamento filosófico indagar sobre suas reais existências, ou não.

Poeta e cronista

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