PREVISÕES MAIS QUE PREVISÍVEIS

PREVISÕES MAIS QUE PREVISÍVEIS

Rangel Alves da Costa*

Não é preciso ser profeta, mago, vidente ou adivinho para apontar certas coisas que irremediavelmente acontecerão. Em muitos aspectos, o futuro já começou a ser semeado há muito tempo.

Daí que nenhuma daquelas profecias afirmando sobre o fim do mundo se confirmou ou se confirmará. Ao menos quando falam em repentinas catástrofes, explosão do planeta ou o céu se abrindo para espalhar espadas de fogo.

Contudo, não duvidem que o mundo realmente um dia acabe. Indubitavelmente acabará porque o homem está propenso, decidido a todo custo, a destruí-lo. Ora, no passo dos acontecimentos não há mundo que suporte ser tão aviltado.

É tudo uma questão de lógica, ou quem sabe de física. Se alguém pressiona uma bola, mesmo que seja de plástico maleável, chegará o momento que ela explodirá. Se alguém todos os dias tira um grão de areia da parede, chegará um tempo que surgirá um buraco. E mais tarde nada da parede restará.

O velho ditado da água mole em pedra dura tanto bate até que fura, também serve para exemplificar. Com isto quero simplesmente dizer que chegará um momento da ebulição, da insuportabilidade, do desfazimento total. E porque tudo foi longe demais sem pensar nas consequências.

Não é preciso ser cientista para saber que o mundo não possui infinita suficiência. Ele está sustentado em pilares que precisam ser respeitados, preservados, conservados. E tais pilares se estendem pela natureza, pelo meio social, pela religião, pela ciência e até perante as transformações.

A história da horta serve de alerta. Se alguém ganhou uma casa e no seu quintal uma horta verdejante, maravilhosa, com uma imensidão de plantas e legumes, e todos os dias se preocupa somente em ir até lá e colher um bocado, chegará um dia que tudo acabará.

Restando somente a terra, se esta não for novamente cultivada se transformará em pó e será levada pela ventania. Igualmente acontece com o homem perante a natureza. Quando a colheita é maior que a plantação, logicamente haverá falta; quando a destruição é maior que a conservação, certamente tenderá ao desaparecimento.

Do mesmo modo, é fácil observar as transformações sociais interferindo negativamente no curso normal das coisas, dentro da suportabilidade do mundo. Neste aspecto, as mudanças são extremas. O núcleo familiar nasceu forte e por muito tempo continuou sendo o principal sustentáculo moral do indivíduo. Desde o berço aprendeu a conviver dignamente e a respeitar o próximo.

Contudo, com o esfacelamento da família já se sente cada um, por menor que seja, querendo ser dono do seu destino e fazendo o que bem entender, sem respeitar pais nem parentes. Consequência disso é uma sociedade marcada por indivíduos indiferentes à responsabilidade e sem observar nem as leis morais nem as estatais.

E o estágio em que estamos agora é exatamente a do indivíduo vivendo por si mesmo, querendo passar por cima de tudo, se dar bem de qualquer jeito. Tanto faz como tanto fez se derrotou um irmão para ter muito mais, tanto faz se feriu para conseguir o que quis. O lobo como lobo do homem é a face mais visível nessa sociedade.

E o que dizer para o futuro? Ora, chegará um tempo em que o homem estará totalmente desumanizado, sem fé, sem acreditar em nada, sem religião, sem nenhum respeito a nada. O mundo será ele mesmo e pronto. E como o mundo não suportará tantos donos entrará em colapso. Será desfeito pela guerra solitária de cada um contra qualquer um.

Para se ter uma ideia de como o mundo inevitavelmente acabará, basta olhar a sexualidade atual. Não precisa nem buscar exemplos no passado para se perceber o caos em que tudo se transformou. Coisas importantes como o namoro, o noivado, o casamento, vão perdendo a razão de ser. Tudo se basta nos prazeres repentinos, e pronto.

O sexo em si se banalizou de tal forma que se transformou em brinquedo, em comércio, em coisa de uso comum e de descarte rápido. Hoje a situação já está assim, assustadoramente assim. E agora imaginem daqui a cem ou duzentos anos. Certamente que o mundo não suportará o convívio na extrema devassidão.

Ainda que tente suportar o quanto puder, será o próprio homem que não mais sentirá razão nenhuma para existir. Ninguém suporta viver onde tudo se banalizou de tal forma que a existência não tem mais nenhum significado. Lutar pelo que, esforçar-se para que?

Quando o mundo perder essa razão de ser, de existir, será o seu fim. Não há dúvida disso. Não significa que uma fenda se abrirá e todo mundo sumirá como formiga. Nada disso. Apenas o caos tendo suas entranhas reviradas por fantasmas e loucos.

Poeta e cronista

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