CRIADO À IMAGEM E SEMELHANÇA DO CRIADOR - IMAGINEM
Andei externado, alhures, um pensamento sobre a isonomia natural das posições, onde eu dizia: “há duas posições em que todos os seres humanos são rigorosa e inexoravelmente iguais: na horizontal, em óbito ... e sentados num vaso sanitário”.
Pretensiosamente cheguei a pensar que era meu esse pensamento, mas pensando bem, penso que é de todos. Quanto pensar não é? Mas pouco demorei em constatar que este é um pensamento de todos, nuns mais incrustado, noutros latente e por vezes camuflado no inconsciente, mas é do saber, conhecimento e propriedade geral.
Mas agora penso, também pretensiosamente, estar constatando que se a humanidade aceita conformada a posição do vaso como geral e irrestrita, ainda que intima e possivelmente constrangida com o que dela resulta, nem tão conformada e resignada o é quando se trata da segunda posição – a da horizontal em óbito.
Penso que morte é a suprema humilhação para os seres vivos, mas em particular para os humanos, é o desastre fatal de tudo que ele constrói na sua consciência: as vaidades, a ganância, a prepotência, a gulodice insaciável, os vícios, defeitos e virtudes, a sede de Poder com o qual ele massacra o semelhante.
Até mesmo a fé e a descrença se igualam na posição fatídica.
Por mais que se queira negar, a morte é uma interrogação infinita, pelo menos até hoje, longe de uma resposta e aí está a suprema humilhação, para tudo e para todos, com ou sem fé, crendo, descrendo ou comodamente ignorando, como este quase agnóstico que escreve.
É que ao se apegar vorazmente à vida material e assumir uma minúscula capacidade diante do universo incomensurável, o ser humano se acha capaz de quase tudo questionar e dominar. De impor suas mudanças tendenciosas e nefastas, como vem fazendo no planeta, levando esta minúscula partícula Terra, para um minúsculo desastre cósmico que se aproxima. Digo minúsculo desastre porque esta esfera não passa de um grão de poeira em relação apenas à galáxia por onde vagueia.
Mas aí estão a comprovar a façanha deste pretensioso ser criado à imagem de Deus: a poluição e destruição dos rios, o degelo das calotas polares, as catástrofes sísmicas e humanas como as guerras, a fome e a miséria confrontando com a opulência de uma minoria e as injustiças evoluindo em progressão geométrica, enquanto a razão e o amor caminham, se é que caminham, em progressão aritmética.
E no seu desvario, chega o ser humano ao despautério de se dizer criado à imagem do seu próprio criador; com certeza um ser infinito e ao qual ele se iguala, como se tão grandioso e infinito ser, fosse se nivelar a tão minúscula criatura que humilhantemente Ele condenou a eternos ocupantes dessas duas posições inexoráveis: a do vaso sanitário e a horizontal fatal.
Daí surge, dentro de uma lógica menor à disposição de um reles mortal, uma conclusão inevitável: se a primeira posição incomoda ou deveria incomodar tanto, até pelo produto e o odor que dela decorre; a segunda, preferida pela insondável morte, é a humilhação final e suprema, para um ser com tamanha pretensão.