HOMENAGENS, EXCESSOS E CINZAS
HOMENAGENS, EXCESSOS E CINZAS
Rangel Alves da Costa*
Que os políticos ainda vivos e vaidosos não passem dessa para melhor - ou... - achando que talvez sejam reconhecidos com seus nomes em prédios públicos, logradouros ou quaisquer outros espaços na capital e municípios sergipanos.
O estado de Sergipe é pequeno demais para tantas homenagens, principalmente quando tudo agora é lembrado para ter o nome Governador Marcelo Déda, falecido na madrugada do primeiro dia de dezembro.
Justíssima homenagem, pois além de governador e ex-prefeito de Aracaju, Déda foi um político projetado nacionalmente através de sua atuação na câmara federal e pela sua prestigiada verve oratória. Mas principalmente por tido sido alguém que solidificou uma forte liderança em meio ao conservadorismo reinante desde muito no estado.
Num excesso de comoção, e logicamente com excessiva hipocrisia por parte daqueles que ainda seguram na mão do morto na tentativa de colher frutos eleitorais, agora não se fala em outra coisa senão colocar o seu nome em todo lugar. Naquilo que já possui homenageado e no que será inaugurado ou ainda construído.
Ao menos é isso que pretendem. Pelo que a imprensa noticia e se ouve de boca em boca, nada menos que quatro obras, somente em Aracaju, são lembradas para ter o nome do governador.
Já está decidido que o Viaduto do Detran será Governador Marcelo Déda, do mesmo modo o viaduto (“Mergulhão”) construído pelo prefeitura de Aracaju na Av. Tancredo Neves e o futuro Hospital do Câncer. Já o deputado Márcio Macedo apresentou Projeto de Lei alterando o nome do Aeroporto Santa Maria para Aeroporto Internacional Governador Marcelo Déda Chagas.
E os demais municípios sergipanos certamente prestarão muitas outras homenagens. Fóruns, avenidas, prédios públicos e muitas outras obras serão inauguradas com o nome do saudoso governante. E ouvi de um militante petista que se pudesse mudaria o nome do estado. Deixaria de ser Sergipe para ganhar outro nome. Adivinha qual?
Não sei, mas algo me diz que as cinzas do governador - pois o mesmo ainda em vida desejou que fosse cremado - provocarão exaltações onde sejam espalhadas. Dizem que uma parte será jogada nas águas litorâneas de Sergipe, outra ficará em poder da família e ainda outra será mantida no Parque da Sementeira, numa pequena capela ao lado de uma árvore plantada pelo próprio Déda e sua esposa.
Acaso assim aconteça, desnecessário será colocar seu nome até mesmo no mais suntuoso palácio, eis que a igrejinha da Sementeira certamente se tornará num local de adoração, culto e peregrinação. E adorado e cultuado pelo desejo e reconhecimento de expressiva parcela da população, que um dia tenha sido ou não seu eleitor, e não pela hipocrisia interesseira de determinados políticos.
Creio, contudo, que o culto maior deve ir além das cinzas para se eternizar no seu grandioso legado. Como homem comum, Déda também tinha defeitos. Era vaidoso e egocêntrico, individualista e autoritário. Mas também cativante e carismático; construtor de uma nova identidade na política sergipana.
E o grandioso legado está precisamente na sua primorosa arte de transformar a política num diálogo de possibilidades, onde os diversos interlocutores acabavam sempre confluindo para o que fosse do interesse maior para o progresso e desenvolvimento de Sergipe.
Essa incansável luta pela evolução desenvolvimentista de Sergipe só não foi maior que a sua luta pela própria sobrevivência. Não ganhou todas, mas Sergipe sempre saiu vitorioso nas suas batalhas.
Poeta e cronista
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