Quero apenas chorar
Estou aqui numa estação da minha vida. Se com nove anos eu não sei, se com onze também não, nesse momento todas as minhas feridas se reabriram e estão sangrando muito. Estou plangente, insegura e acamada. Quisera eu, que alguém me trouxesse um daqueles chás que minha mãe me trazia. Acho que até acalmaria o coração da criança que ainda habita em mim e que agora só quer chorar. Pensamentos da infância me vem em mente, um dia pedi tanto uma boneca de verdade a um tio e ele me negou, eu queria muito uma, pois as minhas eram de frutas ou legumes, tipo, espiga de milho, pepinos e de pano... Mas ele morava na cidade e não entendia o quanto a boneca de verdade, era importante para mim. Mas enfim, nesse momento recordo também as dúvidas, os medos e inseguranças que me assolavam e eu não tinha coragem de falar nada aos meus pais, nem à ninguém. Quantas vezes fui deixar comida na roça para o meu pai e chorava pelo caminho, um caminho tão bonito entre as matas sombrias, um cenário encantador, córregos de águas tão límpidas, o canto alegre dos passarinhos, o arrulhar das árvores sob o vento, o chão forrado de folhas secas, tudo isso me encantava, eu me distraia, parecia um paraíso e eu me encantava com ele, esquecendo-me um pouco daquilo que me entristecia. Esquecendo-me até que estava à caminho da roça, com a comida do meu pai. Agora, algo dentro de mim se derrama, sinto saudade, tristeza e dor. Dentro de mim, tudo é lembrança dolorosa. Sinto novamente as dores das pancadas que levei. Apanhei muito. Desculpem, mas minha poesia hoje é essa. Vai passar, eu sei que vai. Mas agora, tem um mar revolto dentro de mim, abalando minhas estruturas. E minha alma torna-se insurgente e em revel, eu sinto frio, frio como se chovesse dentro de mim, estou encolhida num canto da cama, e uma grande tempestade revolve o meu ser. Eu queria me agasalhar como quando eu era apenas uma criança, ainda ao lado dos meus pais. Quero me encolher ao máximo e ficar na posição de um feto. Pois estou nos porões de mim, gostaria de ouvir aquela musiquinha daquelas caixinhas musicais... Elas parecem um sonho mágico e fazem a gente viajar para tão longe... Já tive uma, que me levava a viajar para outros mundos distantes. Nesse momento, sinto vontade amar alguém, de receber um abraço, afetuoso, sinto saudade da minha mãe, do meu pai, das minhas irmãs, saudade de mim... Recordo também a primeira vez que vi um parquinho... Quando fui à uma cidade pela primeira vez, mas não pude chegar perto dele, eu tive medo das pessoas que estavam la. De longe vi umas luzes brilhando, que lindas eram elas! Até então eu não havia visto outra luz se não a da lamparina, que por sinal tenho saudade dela também, porque era suave tinha cor e ar de mistério e me dava inspiração para escrever. Foi lá no interior, que escrevi os meus primeiros rabiscos. Agora, em uma outra estação da minha vida entre vinte e cinco anos a trinta e cinco, nessa estação eu pirei. Vaguei sem rumo certo, por ruas e becos escuros da vida, perdida, pelos abismos do vício, presa às armadilhas e visgos do destino. Me bateram muito, nessa estação da minha vida, o meu ex-esposo, que era muito violento, me espancou de mais, eu não sabia que podia denunciá-lo e assim, Quebrada, ferida, humilhada, uma ingênua mulher e eterna menina... Agora sozinha, reflete sobre os seus dissabores, sob a força dos ventos contrários, que lhe fizeram mergulhar nessa angústia revoltante que tende a arrebentar as comportas de mim e implodir todo o meu ser. Eu quero muito chorar, eu já estou chorando, queria minha mãe... O aconchego da família, um cafuné... Um abraço... Que saudade de todo mundo. Minha mãezinha, Deus já levou como também o meu pai. Saudade sem fim... É... Hoje, estou assim... Sentindo-me sozinha no mundo, querendo um afago, um acalanto que traga à mim mesma, de volta para mim... Em 05/11/13 terça feira. Manhã chorosa...