A cidade que morre em silêncio

Cidade tranquila, acolhedora e segura era o que melhor definia Luziânia. Todos andavam pelas ruas, becos e vielas sem nenhum medo ou preocupação. Famílias tradicionais sentavam nos bancos das praças nas manhãs e fins de tarde e ali entretinham-se em prazerosos e saudáveis diálogos, enquanto as crianças brincavam livremente em meio aos jardins. A extinta praça do tamboril, por exemplo, foi um dos palcos que marcou esses momentos,

imortalizando-os na memória de cada um.

A sociedade luzianiense sentia orgulho de sua cidade, sentia um imensurável contentamento em viver harmoniosamente nesse lugar repleto de fatos históricos, de incansáveis batalhas e incontáveis conquistas. Um lugar que acolhia seus habitantes como uma mãe acolhe os filhos, e que, na maioria das vezes, o bom senso e o diálogo substituíam as leis. Era na verdade uma cidade livre, que proporcionava liberdade ao seu povo.

Atualmente, por circunstâncias adversas, Luziânia apresenta impiedosamente as mazelas de uma cidade destituída, largada e perdida, no que se refere à organização político-administrativa. A cidade que outrora instituía a paz fundamentada no diálogo e na compreensão, onde a convivência também era baseada na honestidade e solidariedade, hoje, constitui-se em um verdadeiro aglomerado de desordem e uma nítida ausência de imposição de leis que controle a organização social.

Semear a paz entre as pessoas tornar-se-á cada vez mais difícil. Não existe uma fórmula mágica para restabelecer a ordem mediante tanto caos. Existe sim a esperança de um povo que ainda quer ver “cabra de peito” para acudir, salvar Luziânia que se encontra em sucessiva degradação.

Educação, saúde e segurança? São temas que afligem assiduamente essa sociedade escravizada, agredida, massacrada, que já não aceita mais conviver em meio à corrupção, tampouco presenciar a cidade sendo constantemente administrada de forma esdrúxula e mesquinha.

Uma cortina enegrecida de desgraças esconde o brilho que ainda existe em Luziânia. Tudo vem se deteriorando, se exaurindo a cada dia que passa. Luziânia vem perdendo gradativamente suas principais características e o que mais tem de genuíno; sua identidade, sua história. Afinal, são 266 anos de história para contar. A cidade está de luto e grita por ajuda, implora por socorro. Sangue, lágrima, miséria... Em um futuro não muito distante essa será a herança que Luziânia deixará para o seu povo, caso não consiga apagar a mancha da criminalidade, da improbidade, da injustiça e da pobreza.

Quem sabe esse “cabra de peito” mencionado anteriormente possa surgir milagrosamente e abordar as problemáticas dessa caótica cidade de uma perspectiva mais complexa. Pensar em um novo modelo de cidade adotando medidas emergenciais priorizando as necessidades e anseios dessa população cansada e sofrida, bem como organizar programas e projetos de leis que visam a contenção da violência, a recuperação de drogados, melhorias nos sistemas de saúde e educação, entre outros. Será? Enquanto o santo não faz o milagre só restará: orar, crer e esperar.

Texto: Nádia Miranda

10/2012