AS VELHAS RAPOSAS E SUAS CRIAS

AS VELHAS RAPOSAS E SUAS CRIAS

Rangel Alves da Costa*

A cada novo pleito eleitoral surgem as propagandas de candidatos se apresentando como o novo, a renovação, a mudança. Como nenhuma candidatura prospera se já não houver um alicerce dando sustentação, geralmente esta base é caracterizada por longo percurso nos meandros políticos.

Ora, se o novo está alicerçado no velho, a renovação é apresentada pelo já conhecido, e a mudança é só no nome do candidato, então não há que se falar em novas ideias, novos modos de pensar e agir, novas maneiras de administrar. Talvez, muito tempo depois, isto possa realmente acontecer, mas só quando a novidade se desvincular totalmente do velho. Mas aí também já não será novo.

É do conhecimento de todos que as velhas raposas políticas, os coronéis interioranos e as lideranças de longa estrada, jamais acordam apoio a um candidato se não for firmado compromisso de influência e até interferência daqueles na administração do apoiado. Então, ao ser eleito, o novo terá margem muito reduzida para mostrar o que realmente pretende fazer como renovação.

Não adianta que o carcomido coronel apresente o seu filho ou neto como opção política de renovação, como um candidato que se eleito será o contraponto às velhas e arcaicas administrações. E não adianta porque a interferência será tamanha que o cidadão mais arguto logo se perguntará quem realmente administra.

A estratégia das velhas raposas para permanecer no poder ou saboreando das tetas dos cofres públicos possui várias feições. Quando não podem ser candidatos, os líderes políticos escolhem candidatos benquistos pelo povo, mas que não tenham capacidade de mais adiante alçar voo próprio como liderança. A tática maior é que continuem submissos, rezando na cartilha do líder, pois assim será mais fácil exercer ocultamente o poder.

Outros, agindo como profundos conhecedores dos labirintos da política e suas benesses, não medem esforços para eleger seus pupilos, seus escolhidos. Gastam rios de dinheiro com três objetivos principais: mostrar a força que têm; receber com juros e correção todo o dinheiro investido na campanha; tornar os eleitos subservientes ao seu mando, rezando na sua cartilha.

É neste contexto que surgem os conceitos de exercício do poder de fato e de direito. O primeiro, o poder de fato, sempre repousa numa liderança oculta, que mesmo não votada e nem eleita, age com tamanha influência na administração que é até ameaça para os objetivos de gestão daquele que pensa ter o poder.

Pensar ter o poder e não exercê-lo na sua plenitude, principalmente porque toda decisão tomada pode ser contradita pela liderança externa que o elegeu, leva, ainda que paradoxalmente, ao conceito do exercício de direito do poder. Neste caso, poder de direito é aquele alcançado legalmente através do voto, da escolha popular. A princípio, todo governante eleito é ungido pelo direito.

A fronteira entre o poder de fato e de direito está precisamente na qualidade ou característica do seu exercício. Assim, se há, por exemplo, um prefeito eleito, mas quem manda é aquele que o elegeu, constata-se um poder administrativo sem força alguma, existente apenas de fato, quando deveria ser de fato e de direito.

E será assim toda vez que o administrador ignore as tentativas de interferência e procure exercer seu mandato dentro de seus objetivos e em obediência ao arcabouço jurídico-legal. Ora, se durante toda a campanha trabalhou ideias novas, revolucionárias, prometeu ser o diferencial na administração, não tem cabimento que tudo seja esquecido depois de assumir o poder.

Ocorre, contudo, que o eleito até que gostaria de fazer valer seus ideais, levar a efeito uma administração renovadora, expurgada dos velhos laços políticos do apadrinhamento e do clientelismo. Mas não pode. E absolutamente não pode porque sobre si pesa a força do outro, daquele que o lançou candidato e elegeu. Não pode porque deve favores, está compromissado até o pescoço com o velho.

Ou as crias rompem com as criaturas para dar uma feição nova à suas administrações ou estas continuarão sob o mando dos criadores ou identificadas apenas com estes. Costumeiramente isto ocorre no Brasil. E é preciso coragem do novo para desvencilhar-se do velho e dar uma feição própria ao que administra. Ou faz assim ou terá a vida curta dos aparentes, dos que apenas estão sem jamais terem sido.

Neste contexto, contudo, sempre prevalece a velha máxima: Na política, o novo já nasce tão envelhecido que corre o risco de jamais renovar-se pela senilidade provocada pelo poder.

Poeta e cronista

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