Ainda a Falsa Alegria
Ainda a “Falsa Alegria’
Lembro-me que nos anos 60, eu morava na cidade de Santa Maria, e para ajudar a custear meus estudos, trabalhava em uma das Emissoras de Rádio, sendo chefe da redação de notícias.
Paralelamente, escrevia artigos “do dia a dia” da cidade para os jornais “A RAZÃO” de Santa Maria e “A PLATEIA “de Santana de Livramento.
Não recordo exatamente o ano, mas foi antes de 1963, porque eu ainda era solteiro, quando escrevi um artigo que foi publicado nos dois jornais que mencionei, e lido na Rádio onde eu trabalhava, e que teve o titulo de “FALSA ALEGRIA.”
Não guardei nenhuma cópia, mas agora dadas às circunstâncias atuais me veio a mente aquele assunto em que me baseei, para escrevê-lo.
Fazendo um parêntese no caso atual, acho que serve muito bem lembrar um verso do, sempre atual tango, escrito por Francisco Discépolo , em 1935,“CAMBALACHE” que assim diz “Que el mundo fue y será uma porqueria yá lo sé. En el quinientos seis y en el dos mil tambien...”
Desde a época em que escrevi aquele artigo, nada mudou continua a mesma falsidade e hipocrisia. Quando publiquei aquele trabalho, levei em conta o fato da sociedade da época no dia de Natal oferecer comida, bebida e presentes para os pobres, de uma vila chamada “ Vila das Latas.”
Chamavam a imprensa, que na época era o Jornal e as rádios. Santa Maria possuía três emissoras de rádio e dois jornais, e faziam um verdadeiro espetáculo.
Aí, eu recordo claramente que perguntei a uma das “Damas” organizadoras, se nos dias que se seguissem iriam continuar com a festa, e ela simplesmente me deu as costas e não respondeu.
Voltando aos dias atuais, vejo que nada mudou. Aliás, mudou sim, pois agora chamam a estes espetáculos de “DIA DA CIDADANIA”.
Muito bonito, mandam pedir para as entidades sociais, como, LYONS, ROTARY, OAB, EXERCITO e tantas outras, que graciosamente oferecem, seus serviços, como verificação de pressão arterial, testes de glicose, manicure, pedicure, orientação jurídica, confecção de CPF, Carteira de Trabalho, de Identidade e por aí afora.
Como diria “Jack o estripador”; vamos por partes: Verificada a pressão arterial, se houver alteração, apenas se informa que não está regular e manda-se procurar atendimento médico.
Mas será que esta pessoa tem condições de tratar-se; será que tem plano de saúde, pois os postos e hospitais, se necessitar um exame, leva tanto tempo para realizar, que é possível quando chegar o resultado, o paciente já tenha morrido
E o mesmo caso com o teste de glicose. O paciente fica sabendo que tem um determinado índice de açúcar no sangue, mas não recebe tratamento para resolver o problema.
Nada mais fazem do que informar que precisam consultar um advogado, ou a defensoria pública. Aí começa o verdadeiro martírio do paciente, pois, não tendo como pagar um advogado particular, vai enfrentar filas, e ser atendido por um estagiário que nada pode resolver.
Ah, mais o CPF é feito na hora, mas isso em qualquer repartição autorizada é feito, tal como a CTPS; mas a simples confecção desta, não garante que vai ter um emprego.
Realmente no mundo atual, o sofrimento é mercadoria bastante rentável. Cito aqui, mais uma vez, como já havia feito naquele artigo que mencionei no início, é tudo uma falsa alegria, pois no dia seguinte, os problemas são os mesmos do dia anterior.
Mas dirão alguns: “Pelo menos fizemos alguém sorrir”! Aqui me vem à lembrança, daquele quadro de uma certa emissora de Televisão “REPORTER POR UM DIA”. Perguntem a um desses artistas, se no dia seguinte continuaram a ter alguma recompensa ou reconhecimento dos Diretores da Emissora.
Pai, tu conseguiste o emprego que falaram que iam de conseguir quando fizeram a tua Carteira de Trabalho?... Mãe como tu tava bonita ontem lá na praça, vai ter de novo penteado, de graça? Oi Guri, aprendestes a escovar os dentes? Vais fazer isto todos os dias agora? Ora tio, eu bem que queria, mas o pai não tem dinheiro para me comprar uma escova, nem pasta de dentes. Pai agora que tu tens CPF pode abrir uma conta no Banco?
Estas e outras perguntas surgem na boca dos incautos e inocentes que são enganados pela sociedade, pelos governos e ainda riem, entre si, gabando-se de bonzinhos, e felizes por terem proporcionado aos menos afortunados, de um dia de “FALSA ALEGRIA”.