O mal Primordial
Palestra – O mal primordial: o orgulho nosso de cada dia
Um dia, o mais belo arcanjo, Lúcifer, disse Eu ao invés de Nós. Surgia o ser individual que se destacava da criação e buscava um lugar de consciência de si, onde antes só havia o coletivo da criação. Iniciava-se a história. Na mitologia religiosa, o mensageiro do Mal preside ao pecado original da soberba e da vaidade. O mundo contemporâneo rebatizou a soberba como autoestima e a necessidade de se amar acima de tudo, como repete o mantra de quase toda a literatura que vende felicidade em drágeas nas bancas dos aeroportos. A humildade, o recato e a modéstia passaram de virtudes a deficiências de lítio. O encontro trata do mais original e primordial de todos os pecados, o orgulho, capaz de seduzir a todos, especialmente aqueles que se consideram humílimos. De atributo maléfico, o orgulho virou parte do mundo burguês contemporâneo. A virtude/defeito erigiu estátuas, criou biografias e deleites pessoais. Perdida a inocência/humildade original, resta o anseio pelo Nós, rejeitado pelo pai da mentira, ou seja, pelo pai de todos nós. Filhos legítimos do individualismo orgulhoso, lutamos pela adoção de um mundo humilde e voltado ao outro, ou seja, o mundo oposto a todos nós. Apátridas,vagamos fixados na miragem do humilde modelo criado por nós, que insiste em estar além do espelho borgiano. Parte deste Aleph pode ser encontrado ao se destrinçar o fascinante mundo do Orgulho.
Com Leandro Karnal, historiador, doutor em História Social pela USP, professor da UNICAMP e autor de diversos livros.