Seguindo em frente

O dia 27 de janeiro de 2013 ficará marcado como um dos dias mais tristes da história do nosso país. A morte de mais de 230 jovens em uma boate da cidade gaúcha de Santa Maria chocou e comoveu o Brasil e o mundo.

Para os que acreditam na vida pós-morte e nas teorias sérias sobre como se dá a passagem dos espíritos quando desencarnam, é possível imaginar a extrema dor sentida pelos que partiram de forma tão violenta nessa tragédia. Do outro lado certamente chegaram ao mesmo tempo muitos espíritos fragmentados, que sequer tiveram tempo de entender o que aconteceu durante sua passagem.

Mesmo conhecendo muito pouco da doutrina espírita, gosto da ideia passada no livro/filme “Nosso Lar”, cuja autoria é atribuída ao espírito André Luiz, através da psicografia do famoso médium (já falecido) Chico Xavier. A obra detalha o que existe do outro lado, o que acontece imediatamente após a morte. Lá há espíritos que realizam uma espécie de trabalho voluntário, recepcionando e orientando as pessoas que chegam, na maioria das vezes, sem entender o que aconteceu com elas.

Para os ateus, por exemplo, a tragédia com os jovens na boate representa apenas um fim de tudo, ocorrido de maneira estúpida e decorrente de uma sequência de atos negligentes e irresponsáveis de várias pessoas. De fato, para o olhar científico de especialistas em segurança, foi exatamente o que aconteceu.

Na minha visão espiritualista, a tese de que a vida se encerra aqui não me interessa, até porque, partindo-se da hipótese de que seja isso mesmo, não haverá sequer alguém para tripudiar mencionando algo do tipo “eu disse que não havia nada”. Esta tese, do ponto de vista prático, só constata a nossa impotência diante das desgraças, das desventuras e da grande fonte de desesperança que a humanidade conseguiu erguer ao longo de sua história.

Gosto de acreditar (ainda que seja, como sugerem alguns ateus, para efeito psicológico) de que haja entre todos os espíritos que possam habitar os seres vivos algo em comum: a imortalidade e a possibilidade de evolução. Como a maioria dos ocidentais, não fui preparado para perder nada no plano físico (uma unha a menos e minha vida seria um caos!). O que dizer, então, de uma perda com conotação mais espiritual, inexplicável?

Os povos orientais, por mais que tenham tanto medo de morrer quanto qualquer ocidental, lidam culturalmente com a morte de forma muito mais leve. Há entre eles até quem encontre motivos para festejar quando um ente querido se vai. Acredita-se que seu espírito esteja partindo para um estágio de existência bem melhor.

Nosso pouco entendimento da morte nos faz, erroneamente, percebê-la de maneira sombria, mórbida. Sempre evitamos falar no assunto e quase sempre definhamos depois da partida de alguém que amamos. Não se trata de defender a tese de que devamos abafar os sentimentos de tristeza e vazio por uma perda assim (o tempo do luto é absolutamente necessário). Afinal, a saudade é um dos efeitos do amor.

O que nos falta é compreensão, disposição para entender melhor a dimensão da morte, ainda que sem instrumentos científicos para comprovar as hipóteses. Acredito que antes de uma pessoa ser pai, filho ou irmão, ela é um espírito que tem a sua própria trajetória a cumprir. O tempo que cada um tem para vivenciar o papel que escolheu (ou não!) desempenhar nesta existência é único e intransferível. Este é um dos mistérios para se descobrir individualmente.

Rezo, então, para que os espíritos dos que partiram precocemente de forma tão trágica em Santa Maria possam receber conforto e orientação na próxima etapa de suas existências. Rezo ainda para que seus familiares e amigos encontrem, em algum momento, paz e determinação para seguir em frente.