Terá fim o BBB?
Começou na última terça-feira (8/1) a 13ª edição do Big Brother Brasil (BBB), que chega como um prenúncio de que a Globo fará deste programa uma atração centenária. Como se não bastasse a versão anual da “casa vigiada”, tem ainda a “fazenda vigiada” da emissora concorrente.
Como já tive a oportunidade de registrar aqui mesmo há mais de uma década, o escritor George Orwell não consegue descansar em paz. Afinal, o Big Brother é uma referência desencontrada ao Grande Irmão criado por Orwell em um de seus livros mais famosos: “1984”.
A relação do programa com a obra literária, no entanto, não passa do nome e do conceito essencial que ele carrega. Ou seja, na casa onde se amontoam os anônimos candidatos à fama fugidia existe um “olho” que a tudo vigia.
Indiano de nascimento, Eric Arthur Blair assumiu o pseudônimo de George Orwell quando foi morar na Inglaterra, onde teve a sua principal formação literária e onde morreu em 1950. Em 1945 ele lançou a sua obra mais popular (“A Revolução dos Bichos”) e três anos depois publicou “1984” (o inverso dos números do ano em que foi escrito). É nesta última obra, uma sátira sombria sobre o futuro da humanidade, que aparece o Big Brother.
A história gira em torno de três grandes potências intercontinentais – a Oceania, a Eurásia e a Lestásia – que se mantêm em guerra permanente, sem qualquer possibilidade de paz. Neste mundo imaginário as pessoas são como Winston Smith, um pobre peão manipulado pelo Estado (o Grande Irmão), que usa os mais intrincados recursos da propaganda para controlar as mentes dos cidadãos.
O todo-poderoso comandante se faz onipresente através de cartazes, pôsteres e das telas do cinema e da televisão. “O Grande Irmão te vigia”, adverte o principal slogan divulgado pelo Estado. Tentado a escapar daquela opressão, Winston Smith termina capturado e torturado, vindo a ser devidamente reciclado pelos guardiões da ordem.
Mais de seis décadas depois de lançado “1984”, o quadro político mundial é mais superficial do que previa George Orwell, mas não menos tenebroso. Milhões de telespectadores ocupam preciosas horas de seus dias espiando a vida de pessoas em tudo iguais a eles. O BBB, importado pela Globo para cobrir as férias de boa parte do seu elenco, não tem nada de interessante nem tem o impacto do formato inusitado que foi no ano de estreia. Se cada um que o assiste prestar atenção verá que todas aquelas figuras podem ser encontradas em suas próprias famílias ou nas famílias dos vizinhos.
O que as câmeras “escondidas” revelam é o que todo mundo já sabe: mulheres seminuas à espera de um convite da Playboy; homens confabulando a melhor maneira de tirar uma casquinha destas mulheres; e os neutros arranjando um jeitinho de ganhar algo mais além do prêmio milionário. O BBB (que bem poderia ser chamado Big Baixo Brasil) é a cara de um País que não se leva muito a sério. Enquanto isso o Som Brasil, um programa de altíssimo nível, produzido com esmero pela própria Globo, é reprisado no mesmo horário em que foi exibido pela primeira vez: de madrugada.