Ser honesto é pressuposto básico
Às vésperas das eleições municipais, lemos e ouvimos em todo o país falas de candidatos e eleitores defendendo uma tese que não consegue mais se sustentar neste terceiro milênio. Escolher um prefeito ou um vereador tomando como referência apenas a sua idoneidade moral é desconhecer as demandas que giram em torno das atribuições do Executivo e Legislativo municipais.
Tomando como base o que ouço com frequência em conversas informais em Viçosa e em Boa Nova-BA (minha cidade natal), a honestidade continua sendo uma referência importante para as pessoas quando o assunto é administração pública. Obviamente, tal preocupação reflete um aspecto muito positivo no modo de pensar da população; no entanto, também revela o quanto ainda precisamos amadurecer em nossa percepção do que seja ideal em um prefeito, governador, presidente da República e nos legisladores em suas diversas instâncias.
A verdade é que não é de se estranhar a valorização da honestidade num país com tanta tradição no campo da corrupção; num país em que a devolução de dinheiro achado vira reportagem na TV em horário nobre. Em minha formação familiar aprendi que ser honesto não é mais do que uma obrigação; que a retidão de caráter já deve estar implícita nas relações interpessoais. Felizmente, não precisei aprender esses conceitos elementares nos primeiros anos de escola; muito menos na época de faculdade, em que tive acesso às grandes teorias filosóficas que alicerçaram o pensamento ocidental nas suas mais variadas ciências. Aprendi com meu saudoso pai e com a minha querida mãe – ambos com escolaridade que não ultrapassou a 4a série.
Tendo como pressuposto básico o fato de que todas as pessoas devem ser honestas, o que se espera de um administrador público é que ele seja realmente capaz de administrar. Há exatos quatro anos um trabalho acadêmico desenvolvido na FDV (Faculdade de Viçosa) por três estudantes do curso de Administração abordou o tema "A inserção do administrador profissional nas prefeituras municipais".
Débora Dias da Silva, Luciana Moraes Almeida e Pékos Ryokai Monteiro (hoje já graduados), sob a orientação da professora Maria Inês do Carmo, levantaram em Viçosa e em outros seis municípios da microrregião informações sobre o conhecimento e a percepção dos prefeitos ou chefes do Poder Executivo local em relação ao profissional de Administração e sua inserção nas organizações municipais. Os levantamentos apontaram a seguinte conclusão: “na nossa microrregião é exígua ou praticamente diminuta a acepção da maioria dos dirigentes sumos do Poder Executivo Municipal, questionados quanto à importância do administrador profissional, tal como sua função na administração pública. Em apenas 14,29% dos sete municípios pesquisados identifica-se a presença do administrador profissional. Grande parte das funções e atribuições pesquisadas nas Prefeituras da região é ocupada por pessoas não qualificadas, ou, até mesmo, pelos próprios prefeitos”.
Muito provavelmente essa é a realidade da maior parte dos municípios brasileiros, principalmente os de pequeno porte. Outra probabilidade de difícil contestação: se a maioria dos prefeitos assumisse a direção de empresas privadas com o mesmo grau de complexidade de uma Prefeitura teríamos um recorde de falências após quatro anos. Alguém duvida?