A simplicidade da moral II - o reverso

A simplicidade da moral II

O reverso

Vimos, esta semana, o exemplo de dois catadores de papel, em São Paulo, que devolveram, aproximadamente, R$ 20.000,00, resultante de um roubo, aos seus legítimos donos.

Pessoas simples, humildes, que foram tentar a vida na maior metrópole da América Latina, com o objetivo de melhor de vida e que, por reveses que acontecem a muitos, se viram morando debaixo de uma ponte e trabalhando como catadores de papel.

Deixaram para trás, em sua cidade natal, famílias, histórias e valores que aprenderam, como toda criança, no ambiente em que nasceram e cresceram.

Estes valores, conforme demonstrado neste ato, principalmente, de humildade não foram esquecidos, apesar da situação de extrema penúria em que se encontram.

Conforme já disse em textos anteriores, quando a mídia torna um ato de ética, um feito “extraordinário”, podemos ter certeza que algo no mundo – não só no Brasil – está errado.

Podemos generalizar este ato? Lógico que não. É um erro querer generalizar tudo. Com certeza existem pessoas, vivendo nas mesmas condições que este casal, e que de forma alguma devolveria este dinheiro.

Mas, por incrível que possa parecer, a lógica do moralismo encontra-se, invariavelmente, arraigada nas famílias mais pobres. Famílias sofredoras que aprendem, desde cedo, que o que não é dela, não lhe faz jus tomar posse.

Esta afirmação é certa?

Como disse, não podemos generalizar, mas por mais incrível que possa parecer e à contento do que estamos tratando, ontem saiu em várias mídias uma notícia, referente à pesquisa realizada entre executivos de Wall Street, onde afirma que 24% deles diz que é preciso ser desonesto para ter sucesso.

Incrível, não?

Pessoas cultas, ricas – ou no mínimo com boas condições financeiras -, com excelente profissão, fazer este tipo de afirmativa é contraproducente ao que lemos e ouvimos sobre o casal de morador de rua.

Será que estes executivos não tiveram enraizados os mesmos valores que os moradores de rua, em sua infância? Será que o dinheiro muda opiniões e/ou valores? Será que vale tudo pelo poder?

É difícil de responder a estas questões, uma vez que temos que dimensionar o que seria ser desonesto, ou cometer um delito, em várias situações.

Conforme disse, anteriormente, cometemos – sempre – pequenos delitos para levar vantagem em determinadas situações.

Mas, no mundo da moral e da ética, não existe pequeno ou grande delito. Existe, simplesmente, O delito.

Fica complicado para nós passarmos valores que não concordamos ou que não praticamos para nossos filhos.

O que vamos preferir: que nossos filhos nos admirem como pessoas honestas, ou que se envergonhem por sermos desonestos?