TRÊS MIL E NOVECENTOS PARES DE ORELHAS DE NEGROS

TRÊS MIL E NOVECENTOS PARES DE ORELHAS DE NEGROS

SSPÓVOA

(observou-se a grafia da época)

Nenhum lugar em Goiás foi ou é mais assombrado do que o sitio das antigas minas de ouro de Pilar, Guarinos e Papuã(hoje Crixás). Moradores mais antigos daquelas regiões contavam que era comum ouvirem-se nos descampados e até mesmo nos quintais das casas, gritos, lamentos ou rugidos de ódio saídos do nada. Outros juram terem visto longas filas de negros andrajosos marchando para lugar nenhum, enquanto a “mãe do ouro”(*) acende o seu fogo nas grupiaras das lavras antigas.

Pilar e Crixás, nos idos de 700, foram os dois maiores centros de mineração e onde se verificaram as maiores concentrações de negros escravos mineradores, e onde foram praticadas as maiores barbaridades co0ntra os mesmos.

Segundo o mestre historiador Afonso de E. Taunay, “ em Pilar era comum amarrar-se um negro na ponta de uma corda e introduzi-lo num fosso ou catra, para ver se havia gases e vapores venenosos no fundo. Descia-se o preto.Se ele voltasse vivo, começava-se o trabalho.Não havia gases.”

É natural, pois, que num lugar como esse existam fantasmas até hoje, perambulando pelos locais onde trabalharam e morreram.

Muito mais do que isso: entre Pilar e Crixás(Papuã na época)(*) as coisas do além eram presentes , e a história registra uma guerra entre dois feiticeiros , cada qual contratado pelos mineradores das respectivas cidades e que se consumiram devorados pelos próprios feitiços e pela intervenção milagrosa de Nossa Senhora do Pilar, segundo os crédulos.

Hoje, apesar da negação de muitos mineradores que trabalham nas antigas lavras de ouro daquelas localidades, continuam vendo o triste desfile das almas penadas dos negros de Pilar, Guarinos e Crixás.

Existindo ou não fantasmas naquelas terras, tudo o que aconteceu ali marca uma página negra na história do Brasil e transforma em brincadeira de criança a tão falada campanha contra o QUILOMBO DOS PALMARES. Não se entende porque o epsódio que se narrará agora, seja tão desconhecido dos doutos historiadores.

Acontece que os pretos naquelas bandas e naquela época, não eram, lá, grandes coisas. Eram cruéis e cometiam crimes com requinte de barbaridade. Quase sempre assaltavam, matavam e tratavam os cadáveres fúria incontida. O que nesta história, está registrado nos Anais da antiga Casa da Câmara de Vila Rica (hoje Tiradentes-MG.), e o fato foi narrado pelo linhagista Pedro Taques de Almeida Paes Leme que era, na época,Escrivão das Minas de Pilar e Crixás. Em l751, por causa de um crime cometido pelos negros,, a vingança da família dos mortos e da população enfurecida resultou, nada mais nada menos, do que o extermínio de 3.900 negros. Transcrevemos a narrativa, na linguagem da época, 1.751, e os personagens que aparecerão podem ser encontrados n’alguns compêndios de história do Brasil. Se não, vejamos:

“ José de Almeida Lara, que resistindo por espaço de meio...(sic) a um grosso troço de negros foragidos, a que no Brasil chamam “CALHAMBOLAS”, sem mais forças que a de três armas de fogo, que manejavam ele e mais dois mulatos seus escravos, de dentro de casa, e tendo boa pontaria morreram muitos e ficaram feridos quase todos, até que, acabada a pólvora, avançaram os negros e lhe acabaram a vida dos mulatos; e, depois de mortos lhes cortaram a cabeça e todos os membros, sem escapar da violência destes bárbaros, as partes pudentes; de tal forma que aqueles cadáveres feitos um crivo de chagas pelas muitas facadas com que o ódio dos pretos empregou em sua fúria.

“Este infeliz sucesso aconteceu nas Minas do Pilar, Sítio de Paqpuã, da Comarca de Vila Boa dos Goiazes. Estando o pai do morto ausente de casa, que era construída nas suas lavras minerais ao pé da estrada chamada “dos Guarinos”, e recolhendo-se a ela com os escravos que o acompanhavam, achou o filho morto.

“ Do massacre escapara um jovem mulato de 12 anos, que se escondera no fundo de uma catra profunda, que pôde transmitir ao pai do morto Manoel de Manoel de Moraes Navarro, tudo o que acontecera.

Sem encontrar apoio da Justiça, em Pilar, Manoel de Moraes Navarro saiu em busca dos negros assassinos e não conseguiu topar com os fugitivos.

Logo em seguida, segundo noticia o linhagista Taques, os negros foragidos continuaram a cometer novos crimes.

“Porém antes de muitos dias, em diversos sítios, experimentou(sic) outras vidas e tirania dos tais foragidos, que puseram em consternação aos moradores daquele continente, o que deu ocasião a que o Conde dos Arcos.Dom Marcos de Noronha, governador e capitão general da Capitania dos Goiazes em 1.751, a passar em pessoa ao dito arraial e com ele o Dr.Ouvidor Geral Sebastião José da Cunha Soares que permitiram, a partir do então que livremente se atacassem os quilombos, matando-se neles os negros que se pusessem em resistência,como se pratica nas Minas Gerais.

“Mesmo assim não cessaram os roubos, mortes e insolências. De sorte que, para se evitar um futuro levantamento dos pretos contra os brancos, se empenhou na atividade com ardor,zelo e desembaraço, o coronel José Antonio Freire de Andrade, Conde de Bobadella, Governador da Capitania de Minas Gerais, a convencer Bartolomeu Bueno do Prado, natural de São Paulo,por si e seus avós, para capitão-mor e conquistador de um quase reino de pretos foragidos, que ocupavam a campanha desde o Rio das Mortes(hoje MT. Nota do autor) até o Rio Grande , que se atravessava na estrada de São Paulo para os Goiazes.

“Bartolomeu Bueno do Prado (neto do Anhanguera) desempenhou tanto o conceito que formava do seu valor e disciplina de guerra contra esta canalha, que se recolheu vitorioso, apresentando 3.900(três mil e novecentos) pares de orelhas dos negros que destruiu em quilombos, sem mais prêmio que a honra de ser ocupado no real serviço.

Foram levadas pelo capitão Bartolomeu Bueno do Prado, 3.900 pares de orelhas dos negros foragidos. Logo foram3. 900 cadáveres mutilados e, segundo os entendidos,ficam sem paz aqueles que morrem de morte violenta e teem os seus corpos mutilados.

Como, então, não existirem tais fantasmas?

*PAPUÃ(espécie de capim )

SSPóvoa
Enviado por SSPóvoa em 21/05/2012
Reeditado em 01/12/2012
Código do texto: T3680468
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