LUIZ EDUARDO COSTA E SUA BRINCADEIRA DE MAU GOSTO
LUIZ EDUARDO COSTA E SUA BRINCADEIRA DE MAU GOSTO
Rangel Alves da Costa*
Nosso querido e saudoso Jorge Amado, num de seus romances cuida exatamente da escolha dos literatos para integrar a Academia Brasileira de Letras. Assim, em “Farda, Fardão, Camisola de Dormir”, o escritor tece uma irônica crítica às maracutaias e conchavos vergonhosos na escolha daquele que deve ocupar a cadeira de imortal.
Escritor sem ter escrito nada, gente que se eleva à glória de literato através da encomenda de textos, rabugentos que deveriam se contentar com a insignificância de suas rimas pobres ou de seus discursos mesmistas, tudo isso é retratado no universo amadiano. Algo assim extremamente parecido com a Academia Sergipana de Letras.
Nos seus túmulos revirariam os grandes nomes da verdadeira literatura, das letras jurídicas, da melhor poesia. E isto diante da vergonhosa opção em deliberadamente rasgar seus estatutos; desconhecer o que seja ser escritor e literatura; a nata da intelectualidade; e fazer daquele prédio outrora tão respeitado, uma vergonhosa teia política, de apadrinhamento e acolhimento de qualquer um, principalmente que não seja escritor e nem tenha qualificação alguma para a imortalidade literária.
É vergonhoso que a Academia Sergipana de Letras mais recentemente se paute pelo acolhimento de tanta insignificância no mundo das letras. Urge lembrar que a Academia é de letras e não de compadrio. Lamentável demais para uma casa onde já tiveram assento Antonio Garcia Rosa, Hermes Fontes e Ranulfo Prata, dentre outros de ilustre memória. E que dirá dos patronos Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Ivo do Prado, Gumercindo Bessa!
Talvez recebendo os maus exemplos da Academia Brasileira de Letras, que também se transformou numa palhaçada para receber os Maribondos de Fogo da vida e os Mervais sem história, fardões que lamentavelmente se confundem com as galhardias palacianas. Collor de Mello também já foi imortalizado na Academia Alagoana de Letras. Dizer mais o que?
Seguindo esses maus exemplos, nossa Academia há muito deixou de refletir a intelectualidade, o cerne da mais lídima cultura sergipana e o respeito pela criatividade literária e pela pesquisa, para ser alçada ao panteão de qualquer um. Assim, qualquer um ex-deputado, ex-governador ou pseudo-literato que tenha influência no metiê, basta mandar imprimir seus discursos feitos por outros, seus poemas de rima quebrada ou qualquer insignificante brochura que ainda assim terá escolha unânime.
E agora me vem o jornalista, secretário de Estado e também imortal, Luiz Eduardo Costa, anunciando numa notinha de canto na sua página dominical do Jornal do Dia (5/6 de fevereiro de 2012), que com a morte de Seixas Dória já se ventila a possibilidade de que o nome do governador Marcelo Déda seja indicado para concorrer à vaga aberta. Igual Tribunal de Contas ou de Justiça, lá também se dará por indicação, aclamação geral, numa vergonhosa bajulação.
E diz o imortal jornalista: “Há um forte movimento entre os membros da Academia Sergipana de Letras para convencer Marcelo Déda a ser o substituto de Seixas. Alegam que só um grande tribuno, intelectual, partícipe dos mesmos sonhos e também governador, estaria credenciado a sentar na cadeira que foi de Seixas”. Fala-se então em convencer o homem, não precisando nem ser votado, e porque o mesmo é tribuno, intelectual e governador. Absurdo dos absurdos. Igualzinho a Collor que já foi até presidente.
Não tenho certeza, meu caro Luiz Eduardo Costa, mas creio que a produção literária do Senhor Marcelo Déda deve ser mínima, principalmente enquanto poeta, trazendo os resquícios ainda das tantas lutas estudantis onde esboçava sonhos em letras apressadas. Mas somente isso, a não ser que pretendam ver na sua oratória espontânea palavras tão grandiosas que cimentam no espaço. Talvez também estejam lendo os seus discursos enquanto parlamentar e governador e vendo ali um verdadeiro Cícero.
Por causa disso, por essas escolhas políticas que se faz até mesmo na Academia, é que a cultura e a literatura sergipanas não alcançam o prestígio que deveriam merecidamente ter. Ora, os bons e verdadeiros escritores não são reconhecidos nem valorizados, os pesquisadores se esmeram em codificar verdades essenciais apenas para o desconhecimento, para tudo ser relegado ao plano do esquecimento.
Tem gente imortalizada com um livreto da gráfica do senado, outro com um caderno que diz ser de poesia, e já outro sem jamais ter escrito uma linha sequer na vida. Verdade é que a Academia Sergipana de Letras acolhe com honrarias gente desse quilate, sem qualquer qualificação cultural ou literária. E tudo porque há safadeza, maracutaia braba, processo eleitoral criticado (que o diga Mellins), suspeitas de toda ordem na indicação e escolha daqueles que tenham força política.
Politicamente tenho tudo contra o Senhor Marcelo Déda, mas até que gostaria de resenhar alguma obra sua, ler algumas páginas de sua profícua inteligência. Dizer o que, em comparação à obra literária de Seixas Dória? “Eu, réu sem crime”, por exemplo, ou os cadernos vermelhos de um petista sem cor?
Não se compara o que não existe, mas nesse fosso de separação é que pode ser avistada a vergonhosa opção que poderá recair sobre os acadêmicos. Mas há que se observar que a maioria dos que estão ali não pode nem levantar qualquer crítica, vez que alcançou a imortalidade dentro do mesmo vergonhoso processo. É o compadrio, o apadrinhamento, a indecência vestida de fardão e tecendo suas conveniências por debaixo do pano.
Monsenhor Fernandes da Silveira, Manuel Luiz, Jackson Figueiredo, Gilberto Amado, Artur Fortes, Costa Filho, Monsenhor Carlos Costa, Clodomir Silva, Helvécio de Andrade, Hermes Fontes, Oliveira Teles, D. Mário Vilas Boas, Pires Wynne, Alfeu Rosas, Maurício Cardoso, João Passos Cabral, Orlando Dantas, Silvério Fontes, Prado Sampaio, Julio Albuquerque, Carvalho Neto, Florentino Menezes, Gervásio Prata.Vocês não mereciam isso, juro que não mereciam.
Poeta e cronista
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