Os covardes e os que fazem a diferença

Na edição da semana passada o jornal Tribuna Livre publicou uma reportagem sobre um gato que foi brutalmente espancado por um homem no distrito de Silvestre, em Viçosa-MG. A matéria menciona ainda outra recente brutalidade cometida contra uma cadelinha de rua, que foi morta a pancadas no Bairro Vale do Sol por um ser que se diz humano. Este último crime, segundo disseram testemunhas, foi praticado na frente de duas crianças, que choravam, desesperadas, pedindo clemência para o animalzinho indefeso.

A cadelinha, que se chamava Xereta, era alimentada por moradores do bairro. Os que cuidavam dela disseram se tratar e de um animal dócil e afável. O mesmo é dito de Sidy, o gato que foi espancado, mas que sobreviveu e se recupera graças ao amor de sua dona, que pediu ajuda à SOVIPA – Sociedade Viçosense de Proteção aos Animais, em seu perfil no Facebook. Nos dois casos, houve grande comoção de centenas de pessoas que frequentam esta rede social da internet.

Estas barbaridades contra animais indefesos aconteceram em Viçosa e foram denunciadas. Outras tantas passam despercebidas na própria cidade e acontecem no restante do Brasil e no mundo inteiro. Histórias como a do filhote de cachorro que, na semana passada, foi enterrado vivo em Novo Horizonte-SP, e assim ficou por 12 horas até ser resgatado por um integrante da associação de proteção aos animais da cidade. Segundo apurou a Polícia, foi o próprio dono quem praticou o crime. O sobrevivente passa bem e ganhou um nome à altura do seu feito: Titã. Na última segunda-feira, em Guarulhos-SP, um homem amarrou um cachorro de rua no para-choque do seu carro e o arrastou por mais de 500 metros. A sua justificativa para a Polícia: o cão perturbava os moradores do bairro. Felizmente, ele resistiu e foi devidamente medicado, enquanto o monstro foi preso.

Precisaria de um jornal inteiro só para citar as histórias divulgadas pela mídia de agressões e maus tratos aos animais. Elas são testemunhas da podridão de uma parcela significativa da humanidade. A mesma que mata, que rouba, que trapaceia, que usa a corrupção para subir na vida, que espalha intrigas para gerar discórdias, que semeia guerras, que permite a fome e a sede de milhões de pessoas.

Tenho plena consciência de que há dois tipos de evolução em se tratando do ser humano: a individual e a coletiva. Uma está atrelada à outra, mas não acontece no mesmo ritmo. Quando se diz, por exemplo, que uma nação é mais desenvolvida do que a outra, há aí muito mais do que um componente econômico. É uma constatação de que seus habitantes conseguiram evoluir coletivamente mais do que os de outras nações. Isso explica, entre outras constatações, porque um país tem um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) maior; porque tem uma taxa de analfabetismo bem menor; porque possui leis e políticas públicas mais eficazes...

A covardia de alguém que agride seu semelhante, que maltrata seres inocentes como crianças e animais é a prova inconteste de que a evolução humana é realmente desigual. Também é prova da mesma tese o seu outro extremo. Há inúmeros seres humanos que fazem a diferença no mundo; que fazem do altruísmo uma missão de vida; que doam o que têm em prol do bem estar coletivo; que se doam para ver a própria humanidade trilhar no rumo certo.

Repetindo aqui o que postei recentemente no Facebook logo depois de ver a foto de oito cadelinhas que foram resgatadas numa casa abandonada no Bairro Novo Silvestre, desde que me tornei voluntário da SOVIPA tenho testemunhado histórias belíssimas de pessoas abnegadas, que não medem tempo, esforço e recursos materiais para dar um lar a seres inocentes que foram abandonados à própria sorte e que normalmente não têm ninguém por eles. Elas vêm alimentando o meu otimismo neste tempo de tanto egocentrismo. A estas pessoas, dedico este texto e a minha gratidão.