Efeito borboleta

Não dá mais para duvidar que estejamos bem próximos do dia em que os destinos de cada habitante da Terra estarão diretamente atrelados. É o que pressupõe a teoria do "efeito borboleta", que afirma que o bater de asas de uma borboleta num extremo do mundo pode iniciar uma reação em cadeia que culmine em tempestade no outro extremo.

No âmbito das relações humanas, a força simbólica dessa teoria está no fato de que a comunicação em todas as esferas, as economias locais e mundiais, as decisões políticas isoladas ou ampliadas e tudo mais que faz girar a grande ciranda global estão cada vez mais amalgamados. Isso faz com que a humanidade seja vista por um prisma realmente planetário.

Cada nação e cada um de seus habitantes são peças de um dominó gigante, que em si pode até ser muito resistente, mas enfileirado se torna muito fácil de ser derrubado. Vide as crises econômicas recentes ou as consequências após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos.

A verdade é que daqui para frente todos os tetos serão de vidro e nada mais conseguirá escapar de ser alvo do que quer que seja. Pouco a pouco vão sendo retirados os tapetes que escondiam os lixos que não eram expostos. Em seu lugar satélites, câmeras de vídeos e microfones escondidos monitoram até mesmo quem os concebeu com a intenção de espionar. O clima de medo que isso tem gerado é apenas um dos pontos de partida para que as pessoas construam por livre e espontânea vontade suas próprias celas de segurança máxima (que nem são tão seguras assim).

Se queremos entender porque nossa sorte hoje depende tanto de todos, basta andarmos pelas ruas de nossas próprias cidades. Basta que observemos como vivem muitos dos cidadãos que dividem ruas e calçadas com cada um de nós. Basta que nos questionemos sobre o que eles têm em suas casas, o que fazem para sobreviver, para dar a suas famílias alguma dignidade e uma perspectiva diferente de futuro, melhor do que seu passado, seu presente.

O que está em jogo não é a busca por culpados nem o entendimento dos motivos que levaram sucessivos governantes a não fazer aquilo que deveriam ter feito em prol da coletividade. O que nós e as novas gerações precisamos entender é que os rumos do mundo que conhecemos dependem de todos, e não adianta tentarmos achar desculpas para tirar o corpo fora. Neste caso a conclusão é simples e direta: se o sucesso de uns significar o fracasso de outros, então o fracasso terá sido geral.

Certamente a nossa cidade, nosso estado e o nosso país não são os mais castigados socialmente, se comparados a inúmeros outros lugares do planeta onde a miséria reina absoluta. Por outro lado, eles estão longe de se posicionar entre os que alcançaram o topo de uma boa qualidade de vida de seus habitantes.

Todos nós fazemos parte desse grande dominó enfileirado. Ricos ou pobres, bem sucedidos ou fracassados. Não há como escapar das consequências das desigualdades sociais, do abismo que separa o caviar do pão velho. É uma questão de lógica: quem nada tem, nada tem a perder, e fará de tudo para ter. Os problemas, a partir daí, só mudam de dimensão: sai do batedor de carteira que deseja algum para comprar drogas e vai até uma nação que domina outra por incalculáveis interesses econômicos. Estas são apenas nuances do efeito borboleta.