Redenção pelos livros
No último domingo, em meio às celebrações pelos 10 anos do atentado aos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, acontecia no Rio de Janeiro outro tipo de celebração, genuinamente positiva. Nesta data terminava a 15a edição da Bienal do Livro do Rio, que contabilizou números surpreendentes para uma época em que a internet e o universo virtual parecem chamar todas as atenções.
Segundo dados divulgados pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), em onze dias de funcionamento o evento contou com 670 mil visitantes - um público 5% maior do que o da última edição, em 2009. Ao todo, foram vendidos 2 milhões e 815 mil exemplares, o que representou um aumento de 15% em relação a 2009.
O fantástico é imaginar que milhões de pessoas serão diretamente beneficiadas. Crianças, adolescentes e adultos terão muitos motivos a mais para mergulhar no rico universo das palavras, das ideias e da transformação advinda disto. Este é um mergulho profundo e instigante, já que nos livros estão impressos os pensamentos e sentimentos mais universais da humanidade, traduzidos em comédias, tragédias, romances, contos, poemas...
Podemos até constatar que este terceiro milênio seja mesmo a era da imagem atrelada à informática - e que isso muda definitivamente o comportamento e as expectativas das novas gerações. No entanto, se queremos que os adultos do futuro sejam pessoas criativas, sensíveis e desembaraçadas, temos que oferecer bons livros às crianças. É possível até que inventem maneiras mais dinâmicas de se ler ou criem livros com material mais resistente à ação do tempo, mas o que importa é fazer deles passaportes certos para um voo que pode repercutir a vida inteira.
Semana passada, no programa Reclame, o publicitário Anselmo Ramos - vice-presidente nacional de criação da agência Ogilvy & Mather - disse algo que tem tudo a ver com essa teoria. Perguntado como se dá o seu processo de criação, ele foi enfático: "eu me preocupo com a qualidade do que eu coloco dentro do meu cérebro". Anselmo, que trabalhou em agências nos Estados Unidos e Europa durante doze anos, referiu-se ao conteúdo do que lê, ouve e assiste. Afinal, a formação de qualquer geração também se dá através da sua bagagem literária, musical e proveniente de outras fontes artísticas.
Fato é que antes do computador, da internet e mesmo da televisão e do videocassete terem ocupado grande parte do interesse de adultos e crianças, os livros representavam as maiores e melhores referências de descoberta do mundo. Neste universo real e imaginário buscamos muitos dos modelos de vida a seguir.
Algumas crianças têm uma forte tendência a gostar de ler, ainda que sejam criadas em ambientes pouco favoráveis a este hábito. Este grupo, infelizmente, é a minoria. Daí a necessidade do incentivo dos adultos, seja na família, na escola, nas associações de bairro, nas igrejas e por onde mais transitem as crianças e os adolescentes.
Esse incentivo é sempre mais frutífero quando parte de pessoas que também gostam de ler. Aí a criança recebe bem mais do que livros; recebe uma injeção de ânimo - aquela mesma que costumamos dar quando indicamos, cheios de entusiasmo, um bom filme. Mesmo não fazendo parte desse rol de aficionados por leitura, os adultos também podem promovê-la, levando as crianças a bibliotecas, livrarias e bancas de revistas como um programa tão comum quanto levá-las ao parque, ao shopping ou à sorveteria. Quando a leitura se torna um hábito cotidiano seus bons resultados têm alcance idem.