O Fim do Mundo e o Inconsciente Coletivo
Não é de hoje que ouvimos que o fim do mundo está próximo. Tenho 58 anos e já ouvi em várias épocas da minha vida o temido “apocalipse”. Na infância, a moda era a mensagem de Fátima. Diziam que o terceiro dos três mistérios somente seria revelado, no futuro, pelo Papa, que ouvira a confissão das crianças pastoras. Seria anunciado antes da morte da última delas, no caso a Irmã Lúcia. Diziam, também, que o Papa Paulo VI desmaiou quando leu a última revelação, uma vez que se referia ao fim do mundo. Entretanto, mais tarde, na era de João Paulo II, foi revelada como uma profecia sobre o assassinato do Sumo Potífice, que seria sucedido, pouco antes do final dos tempos, por um Papa negro. Bem..., depois, foram simplificando. Os dois primeiros “mistérios” referiam-se, sucessivamente, à visão do inferno e a conversão da União Soviética. Pelo menos era assim que se contava naquele tempo.
De lá pra cá, veio a falsa citação bíblica que dizia que “de dois mil não passarás”, referindo-se ao ano dois mil. Profetas do fim do mundo afirmavam que Jesus Cristo teria dito isto, quando indagado sobre o final dos tempos.
Choques de asteróides, terremotos, maremotos, mudança de eixo da terra, nova era glacial, explosões solares, pragas, câncer, AIDs, profecias de Nostradamus, estudo de Newton, e um sem número de profecias, vem abalando o sossego humano, desde sempre, e alimentando a moderna indústria cinematográfica, que bate recorde com os seus filmes do chamado cinema catástrofe.
Evidente a tendência de elevarmos exponencialmente o nosso nível de insegurança neste mundo incerto, onde não sabemos de onde viemos, nem para onde iremos, quando descobrimos, a cada novo dia, através da ciência, o caos que impera no universo e a insignificância do nosso planeta no cenário cósmico. Impossível negarmos o sentimento de insegurança acarretado pelas contingências existenciais, a não ser que sejamos muito “desligados”, seja através de algum sentimento de fé ou por absoluta falta de reflexão mais aprofundada quanto ao destino humano, além da alienação mental, é claro.
A bola da vez, agora, é a previsão dos Maias sobre o fim da humanidade ou da quase totalidade desta, em 21 de dezembro de 2012, com o alinhamento do sol e dos planetas do sistema solar, incluindo a Terra, com o centro da nossa galáxia. Especulações sobre o pico máximo da atividade solar e a inversão dos pólos magnéticos do nosso planeta, que poderão ocorrer em 2012, segundo previsões científicas, isso mesmo, científicas, robustecem os cálculos dos Maias que possuem outros tantos estudos válidos e interessantes.
Recentes observações sobre a oscilação dos pólos magnéticos da Terra confirmam a aceleração, nos últimos anos, do deslocamento do pólo norte magnético, que passou de 8 para 60km por ano, em aceleração crescente. Por outro lado, a ciência prevê o clímax da atividade solar para 2012, que inicia o seu ciclo a cada 11 anos. Nos últimos anos, ocorreu uma surpreendente calmaria da atividade solar, já despertada por explosões impressionantes para o mundo científico. Dizem os cientistas que a mudança dos pólos magnéticos ocorrem repentinamente a cada 780 mil anos, como confirmado por análises de gelos profundos dos pólos e de rochas, e que já estamos com este tempo vencido, podendo acontecer a qualquer momento. Prevêem que se tal ocorrer, no clímax da atividade solar, seria como dar um tiro de cartucheira numa bola de futebol a uma pequena distância, pois o nosso planeta perderia o seu manto magnético protetor por alguns dias, meses ou anos, tornando-se extremamente vulnerável à imensurável energia solar liberada pelas suas explosões, além do ataque dos raios cósmicos de diversas naturezas.
Resta-nos cruzar os dedos e rezar para que tudo isto não coincida ou contenha erros de cálculo.
Deus nos livre!
NOTA: Este artigo foi publicado também no jornal Folha de São Paulo - Painel do Leitor - com o título: Profecias do Fim do Mundo Só Aumentam Insegurança, na data de 19-12-2012.
Às (aos) amigas (os) poetas que ficaram muito preocupados(as) com o fim do mundo, digo que:
O mundo nunca acabará para nós.
Enquanto persistir a insaciedade
desta curiosa amizade
de diálogos de sentimentos,
sobreviveremos, ainda que sós,
sob a frondosa árvore do conhecimento.
Nota: A minha pretensão neste texto é de apenas mostrar como o fim do mundo impregna o inconsciente coletivo, atingindo gerações, desde sempre. Nada mais.