Amor sem fronteiras
Cristãos do mundo inteiro relembraram na semana passada um dos momentos mais sublimes e simbólicos da história da humanidade. A Paixão de Cristo continua viva após dois milênios muito mais pela força e atualidade de sua mensagem do que pela necessidade das instituições religiosas em mantê-la acesa.
Provavelmente não há lição mais difícil para o ser humano do que a prática do amor incondicional, aquele que se sente por qualquer manifestação da vida, aquele que se nutre sem quaisquer interesses. Direta ou indiretamente tudo de ruim que vivenciamos ontem e hoje é pela falta de amor (nunca por excesso dele, como querem alguns justificar os seus erros passionais).
O martírio vivido por Jesus é o maior exemplo de altruísmo que se possa imaginar. Nenhuma de suas memoráveis parábolas (através das quais deixou incontáveis mensagens) foi tão convincente quanto seus atos, principalmente o derradeiro. Ele morreu para ensinar que a própria morte é tão-somente uma forma de renascimento; para ensinar que o maior e melhor de todos os caminhos é para ser percorrido com o espírito, mesmo aqui na Terra.
Desde pequeno me intrigou o fato da Semana Santa ser chamada de Paixão de Cristo. A palavra “paixão” talvez seja a que melhor traduza um sentimento levado ao extremo, e é assim que vejo a história de Jesus: o Filho de Deus que deseja viver como uma das criaturas do Seu Pai para melhor compreender as suas virtudes, defeitos e, principalmente, para manter acesa a fagulha divina capaz de levá-las para mais perto Dele. Somente uma paixão assim levaria alguém a querer ser o cordeiro que aceita ser sacrificado para que os demais entendam que não é necessário tal sacrifício para encontrar o fio condutor do espírito.
Como não aprender uma lição ensinada tão exaustivamente? É esta sensação que tenho quando vejo que gerações se sucedem revivendo a Paixão de Cristo sem compreendê-la em sua dimensão mais elementar; e, o que é pior, sem conseguir colocá-la em prática. Falta de inteligência? Impossível. Afinal, quem conseguiu sair das cavernas para viajar no espaço deve saber que são extremamente mais simples as lições ensinadas pelo Filho de Deus.
Por que temos tanta dificuldade em enxergar o óbvio? Seria desnecessário ler a Bíblia ou até encenar a vida de Cristo se pudéssemos entender e praticar apenas a síntese do tanto que Ele nos disse em sua breve passagem por aqui. Amor: palavra curta em praticamente todas as línguas; sentimento vasto para qualquer raça. Eis o primeiro motor, o princípio de tudo, o principal motivo da criação divina do universo. Amar o próximo como a si mesmo; amar a si como quem aceita ser parte da grande obra de Deus. Todo o restante funcionaria bem se esse motor estivesse funcionando.
+Não sei ao certo, mas acho que nossa superficialidade espiritual nos leva erroneamente a acreditar que a ideia de perfeição está atrelada à ideia de tudo aquilo que é complicado. No entanto, o conceito e a prática do amor pregados por Jesus são tão simples que dispensariam todos os aparatos criados para disseminá-los.