No túnel do tempo
Como muitos da minha idade, vivo viajando no fio da memória em busca de lembranças que me garantam coerência no presente e boas perspectivas para o futuro. A literatura e o cinema sempre viram no tema “viagem no tempo” um prato cheio para enredos fantásticos neste sentido.
Meu fascínio por isso vem desde a infância, no fim da década de 1970, época em que passava na TV o seriado “Túnel do Tempo”. Dois agentes bem treinados e monitorados por uma base de cientistas faziam as viagens de volta aos fatos mais marcantes da história da humanidade. Embora não coubesse a eles interferirem em nada, isso não conseguia ser seguido à risca, pois ambos eram sempre obrigados a se envolver nos episódios que deveriam apenas observar.
Da mesma época, o maravilhoso Sítio do Pica-Pau Amarelo também apostava nas idas e vindas no tempo através do “Pirlimpimpim” – uma espécie de passaporte irrestrito que dependia única e exclusivamente da imaginação dos viajantes. Seja na Grécia conversando com filósofos e divindades ou no auge do império romano, Pedrinho, Narizinho, Emília, Visconde, Dona Benta e outros da turma faziam a ponte entre passado e presente como se estivessem indo a Arraial dos Tucanos.
A década de 90 também foi bastante promissora para as obras cinematográficas com essa abordagem. Filmes como a trilogia “De Volta para o Futuro”, “O Exterminador do Futuro”, “Os Doze Macacos” e “Alta Frequência” enfocam as viagens ao passado em busca da reversão dos acontecimentos nefastos constatados no futuro.
Na década seguinte, mais especificamente em 2004, foi lançado “O Efeito Borboleta”, um dos melhores do gênero. Seu título é uma referência à tão badalada Teoria do Caos, que menciona que o simples bater de asas de uma borboleta num ponto do planeta pode desencadear um tufão no outro extremo. Ele traz a instigante história de Evan, um jovem estudante de Psicologia que teve diversos problemas enquanto criança e adolescente, sofrendo de desmaios e bloqueios de memória. Após reencontro com Kayleigh, seu amor de infância, ele descobre que, ao ler seu diário, consegue enviar a consciência adulta ao passado em seu corpo de criança. Nesta travessia Evan consegue mudar completamente o seu destino e o de todos a sua volta.
Se o cinema é insuperável na abordagem desse assunto, a literatura nos propõe ir ainda mais fundo. Em se tratando de viagens no tempo, a série “Operação Cavalo de Tróia”, do escritor espanhol J.J. Benitez, é algo indescritível. Apresentada como uma transcrição verídica do diário de um major da Força Aérea norte-americana sobre uma experiência de recuo no tempo, a obra tem quase três mil páginas em oito volumes (fala-se do nono e último).
Benitez conta que a Operação Cavalo de Tróia teria realmente acontecido na década de 70 depois que cientistas da Força Aérea dos Estados Unidos descobriram as “chaves” para os saltos no tempo. Ele, como escritor de livros de temáticas similares, teria sido escolhido pelo médico militar que vivenciou a experiência de retornar à época de Jesus para publicar, após a sua morte, uma cópia do que seria o seu diário de bordo. Do nascimento à morte de Cristo, tudo é testemunhado e registrado por dois homens céticos do século 20 em páginas e páginas de uma história fascinante.
Mesmo tendo a certeza da impossibilidade concreta de qualquer volta ao passado, fazê-la mentalmente é sempre um bom exercício para entendermos melhor as nossas vidas no presente. Desta viagem é, sim, possível fazermos valer a teoria do efeito borboleta, em que a tomada de uma simples decisão, de uma simples atitude, possa se reverter em ganhos (ou perdas) lá adiante.