O estrondoso caso do australiano que reagiu ao bullying

Na última semana um vídeo tomou conta da internet, circulando via e-mail com um link para o site Youtube. Nele aparece um garoto em pleno exercício do bullying, provocando com socos no rosto um colega de escola visivelmente tímido e pacato, enquanto um terceiro filmava a cena, provavelmente para divulgar as humilhações no mundo virtual.

O surpreendente no vídeo foi a súbita reação da vítima do bullying, que, num acesso de fúria, segurou seu agressor pela cintura e o golpeou de forma violenta e mesmo perigosa (poderia até tê-lo matado), levando-o a experimentar do próprio veneno. Em poucos dias o ocorrido virou manchete em sites, jornais e TVs de todo o mundo, com a história do australiano Casey Heynes, de 15 anos, que, cansado de ser alvo de brincadeiras maldosas na escola, resolveu dar um basta.

Numa entrevista a uma emissora de TV do seu país, o adolescente contou que chegou a pensar em suicídio diante das humilhações diárias que teve que aguentar calado na escola por mais de três anos, principalmente com agressões físicas, xingamentos e deboches a sua obesidade. Ao receber apoio de pessoas de todas as partes do mundo, ele disse ter melhorado a autoestima, não pela sua reação violenta, mas por ter dado um basta à condição de derrotado a que seus colegas lhe faziam acreditar.

A cena do vídeo é triste por si só. Confesso que tive a mesma reação das milhares de pessoas que apoiaram o garoto; senti certo orgulho da sua capacidade de superar as próprias fraquezas para se defender. Na verdade, um sentimento parecido ao que temos quando o herói do filme derrota o vilão depois de sofrer durante muito tempo as suas maldades. Por outro lado, este é um sentimento muitíssimo distante do que ensinou Cristo em sua grandiosidade espiritual.

Todo tipo de guerra é nocivo, sem exceção. Pode até haver justificativas para muitas delas, a exemplo da legítima reação de alguém a quem não foi dada a opção de seguir em paz. No entanto, a violência é um dominó enfileirado que tende a ser derrubado até a última peça.

Embora a palavra bullying seja recente para significar a ameaça, a intimidação e a opressão que permeiam muitas relações entre colegas dentro da escola, o ato em si é muito antigo. Provavelmente todos têm alguma história para contar, seja na condição de vítima, de algoz ou mesmo de testemunha. O que mudou de fato é que o assunto se tornou um tema educativo recorrente, estudado em teses acadêmicas e debatido nas próprias instituições de ensino. Dar um nome ao problema ajuda a torná-lo conhecido e, consequentemente, a combatê-lo.

A história de Casey Heynes chamou a atenção por trazer ingredientes que vão além da língua, da cultura e das próprias peculiaridades da instituição onde ele estuda. Neste caso, tanto faz que tenha ocorrido na Austrália, na China ou no Brasil. Ela também é um alerta para a família, que muitas vezes se ausenta da escola e, por isso, termina desconhecendo uma parte importantíssima do cotidiano dos seus filhos.