FÉ E POLÍTICA NA HISTÓRIA HUMANA
Fé e Política estão presentes na história humana de todos os tempos. Quando estudamos ou lemos a Bíblia Sagrada observamos essa relação que marca fortemente os acontecimentos, nos vários momentos históricos e, mesmo na forma e gênero dos vários autores sagrados vamos encontrar a dimensão política do ser humano se relacionando com a sua dimensão religiosa.
Quando aprofundamos os livros dos profetas do Antigo Testamento, o que vemos? Vemos a luta que eles assumem em defesa do Povo de Deus contra o sistema de injustiça estabelecido. É sempre um tirano, um poderoso, um rei, um governante que pratica a injustiça, maltrata a vida do povo, humilha e escraviza os pobres e despossuídos. É sempre a luta entre classes: de um lado os poderosos, os dominantes explorando e escravizando os pobres. E os pobres? Quem são os seus defensores? Vemos nos textos bíblicos que em primeiro lugar, o próprio Deus se coloca incontestavelmente do lado dos pobres. Vemos que a ação dos profetas vai ao encontro do povo para educá-lo para a salvação e libertação, inspirados e orientados pelo próprio Deus.
Foi assim com Moisés, com Baruc, com Elias, com Isaias, com Jeremias e com tantos outros profetas maiores e menores. Deus firmou uma aliança com seu povo e através da ação dos profetas, sempre e obstinadamente buscou resgatá-lo da escravidão. Qual escravidão? Tanto a escravidão social da opressão dos poderosos, quanto à escravidão pessoal dos falsos valores produzidos pelo sistema. Desvio moral social e conduta pessoal antiética: duas vertentes que conduzem o ser humano para a vala da destruição e da demência. No sentido mais religioso esta afirmção ganha a definição de "pecado social e pecado pessoal".
Mas a aliança de Deus com seu povo vem sempre, ao longo da história humana sendo restaurada. A cada escorregão da humanidade e quando tudo parece chegar ao fim trágico, o Deus da esperança reage e faz o ser humano agir em defesa da vida.
É só lembrar a grande luta que foi a caminhada do Povo de Deus rumo à Terra Prometida. Quarenta anos foi o curso que durou a persistência do Povo para conquistar a liberdade. A terra, o ter onde morar e produzir o sustento representava o sentido concreto da liberdade.
No Novo Testamento vemos a ação de João, o precursor. Aquele que veio aplainar os caminhos. Anunciar o que viria depois dele. E quem seria Ele? Jesus. Jesus de Nazaré. Filho unigênito de Deus, segundo a tradição bíblica. Mas como é que Jesus chega? Revestido de ouro, com muita pompa? Não. Jesus nasce como qualquer menino do seu tempo e do nosso tempo. Uma mulher do povo, dar a luz como tantas outras que dão a luz. E Jesus chega e já se estabelece o conflito. Por quê? Porque ele chega para restaurar o sentido da vida e da liberdade. Para anunciar o ano da graça e para denunciar o sistema sócio-político e econômico dominante e escravizador, o império romano. E logo que Jesus é retirado do ventre de sua mãe já começa a perseguição política. Quem perseguiu Jesus? O sistema romano, corrupto e entregue à cultura da violência e da morte. E quem perseguia o povo do tempo de Jesus? O mesmo sistema político chefiado por Herodes e outros poderosos daquele tempo. E Jesus, o filho amado de Deus, irmão da humanidade, Deus presente em carne e osso, vivenciando a natureza humana resistiu. Lutou, anunciou, denunciou, esbravejou e não se calou em nenhum momento. Foi à luta para propagar um novo reino. Morreu lutando. Mas como lutou se se entregou? Lutou para defender suas idéias e os ditâmes do seu Pai até a morte. E o sistema que matou Jesus não conseguiu matar sua coragem de propagar o novo reino, a nova sociedade.
A força da sua mensagem inaugurou o momento mais grandioso e marcante da vida: o texto sagrado assegura que Jesus ressuscitou. E até hoje Ele vive presente na vida de todos que nele acreditam. Triunfante! Nasceu pobre, viveu pobre e tudo o que Ele veio fazer foi nos orientar para conquistarmos a vida plena. E Ele mesmo falou: “EU VIM PARA QUE TODOS TENHAM VIDA!”.
E Nós? Criaturas humanas vivendo no terceiro milênio? Como estamos agindo? Acreditamos na força da união? Sentimos-nos chamados a desenvolver nossa luta em favor da vida? Como cidadãos e cidadãs buscamos construir o movimento de Jesus hoje? O Movimento de Jesus é um apelo e um ato limite de justiça social, de consciência e de luz.
Todos nós temos a vocação humana de buscar conscientemente construir o bem. E dessa forma, a força da fé vai ao encontro da política. Da boa política. Da política que educa e organiza o povo para conquistar os seus direitos. Da política que, fundamentalmente deve ser um instrumento dos homens e das mulheres de bem. Assim como Moisés, Jeremias, Isaias, Elias, João e todos os outros, nós podemos ser profetas no nosso tempo para mudar a história.
É isso que queremos anunciar hoje. A fé deve orientar a política e a política deve ser feita com muita fé. Fé verdadeira. Política verdadeira. Só assim podemos mudar a nossa realidade.
Que na atual conjuntura saibamos renovar nossas convicções e interpretar os acontecimentos. A cultura da indiferença e da apatia é um subproduto do sistema sócio-político e econômico vigente que submete e torna deploráveis a prática política e as as práticas ditas religiosas movidas por falsos valores e falsos conceitos. Os partidos políticos em maioria sem projetos e ideários coletivistas e humanitários, suas ideologias sexistas, preconceituosas, extremistas e fascistas; igrejas e suas doutrinas estão como que contaminadas por esse caos de falsos valores que assola a humanidade. A cultura da morte e da violência caminha de mãos dadas com a corrupção. É importante se refletir, que quando a Justiça não se faz tão justa e quando a coisa pública não se faz tão ética, a moral social vai sendo diluída nos descaminhos políticos e religiosos do tempo presente.
Aqueles que lutam pelos direitos sociais, que não são corruptos, que não compram voto, onde estão?
Num cenário político onde tudo parece tão igual é fundamental analisar a história, os acontecimentos e os interesses que permeiam todas as relações sociais. Só pelo conhecimento construído dialeticamente, o sujeito social pode perceber a real diferença e contradição entre os diversos processos e projetos sociopolítico e econômico, bem como compreender o fosso que separa o ideário e a mística do verdadeiro movimento de Jesus, das inúmeras tendências e siglas religiosas, pragmáticas no sentido econômico e nada emblemáticas no plano da fé e da educação cristã.
No tocante aos partidos e aos políticos de carreira faz-se mister asseverar: muito cuidado com os compradores de voto e com os programas partidários. Eles compram a eleição e passam quatro anos enganando o povo, votando por aumentos abusivos de energia, gás de cozinha, telefone, água... E retirando os direitos dos trabalhadores. Quanto aos partidos, é fundamental pesquisar a origem, o programa e se a sua trajetória mantém uma linha de coerência histórica. Existem partidos que só jogam contra o povo.
Um indivíduo ou uma comunidade de fé esclarecida e de consciência cidadã saberá separar o joio do trigo e, distinguir, em matéria de fé e política, o caminho da coerência e da autonomia como sujeito, exercitar a prática da liberdade e assumir no plano político a cidadania ativa e responsável, em conexão com o sentido maior da vida em comunidade e com o ideário do desenvolvimento humano, no plano local e universal.