Como queria John Lennon
Três décadas depois de ter pertido, algumas ideias políticas do beatle John Lennon continuam bastante atuais num mundo cada vez mais globalizado e repleto de relações tensas. Em suas canções e nas muitas declarações que deu à imprensa, ele enxergava soluções simples para problemas tornados complexos pela sociedade e por governantes.
De uma atualidade surpreendente, a sua frase “pense globalmente e aja localmente” é, hoje, a confirmação dos rumos positivos que muitas pessoas vêm tomando. Aparentemente simplória, ela carrega em si uma filosofia positiva, que pode ser amplamente aplicada nos mais diferentes temas. Afinal, ninguém consegue negar as turbulências que abalam as estruturas do mundo neste início de milênio, muito menos a necessidade urgente de encontrar formas de resolvê-las ou, ao menos, amenizá-las.
Os avanços da ciência conseguiram revolucionar a medicina, a comunicação e diversas outras áreas do conhecimento. Por outro lado, as misérias sociais e individuais avançaram em ritmo parecido. A primeira década do século 21 chega ao seu final imprimindo uma triste constatação: a humanidade se empobreceu espiritualmente na mesma velocidade de suas conquistas tecnológicas. Um verdadeiro prato cheio para pessimistas convictos e profetas de plantão, anunciando o fim dos tempos.
Por outro lado, há um fio de esperança de se reverter todo esse lamaçal criado por nós mesmos. Nele estão os que assimilaram o conteúdo da frase de Lennon; os que resolveram parar de esperar tudo dos poderes constituídos e começaram a assumir sua parcela de responsabilidade na construção de um mundo melhor. São pessoas que iniciaram esta mudança com uma revolução individual, buscando qualidade de vida desde a escolha de uma alimentação mais saudável até a busca de satisfação plena no trabalho e nos relacionamentos.
Dessa revolução surge um ser humano mais maduro, que anseia recuperar exatamente a sua humanidade perdida. Alguém que tenta superar a doença da ganância e do individualismo; que entende o próprio bem estar como parte inseparável do bem estar do restante do planeta; que deseja de verdade fazer algo de concreto por isto.
Vale ressaltar que as organizações não governamentais (ONGs) estão cheias dessas pessoas. São indivíduos que se reúnem em torno de um mesmo ideal e fazem o melhor que podem em algum lugar do globo. Geralmente agem nas cidades onde moram, atuando em áreas específicas, como educação, saúde, cultura e meio ambiente.
Se por um lado é, de fato, angustiante assistir pela TV aos problemas existentes do outro lado do mundo sem poder fazer nada para resolvê-los (angústia esta que facilmente pode se transformar em estresse e depressão), por outro podemos conhecer de perto os problemas que afligem a nossa rua, nosso bairro, nossa cidade e estar presentes e atuantes para resolvê-los, sem prejuízo dos nossos projetos individuais e da nossa vida privada.
É cômodo usar a velha máxima de que já pagamos impostos para que o Poder Público solucione as mazelas sociais. Sim, é verdade que os impostos são altos e precisam ser revertidos no bem estar coletivo, assim como é verdade que devemos exigir a sua legítima aplicação. No entanto, temos que ser capazes de fazer algo mais, até mesmo para que nossos discursos inflamados contra quem quer que seja tenham base numa prática efetiva. Caso contrário, “let it be”...