Terapia animal

As pessoas que têm em casa algum animal de estimação fazem necessariamente um tipo de terapia com grande poder curativo. Esta não é uma afirmação baseada em teorias científicas, embora muito provavelmente elas devam existir. É apenas uma observação de quem conviveu desde a infância com cachorros, gatos, pássaros e cágados de estimação e que há mais de dois anos acompanha o dia-a-dia de dois irmãos felinos.

Sem qualquer constrangimento, posso confessar que, em muitos aspectos, prefiro a companhia dos animais à de certas pessoas. Há neles uma entrega sincera e desinteressada, que, ao contrário do que muitos possam pensar ou dizer, extrapola o mero interesse por abrigo e comida. Eu me arriscaria a dizer que eles manifestam um tipo de amor instintivo e primitivo que vem se tornando raro no convívio humano.

Com as duas figuraças que tenho lá em casa eu vivo me transportando para a infância, rompendo a barreira entre a sisudez da vida adulta e a leveza que permeia uma brincadeira de criança. Exatamente aí reside a terapia que mencionei no início. Ao encontrar momentos de leveza infantil, acionada pela dupla (vale ressaltar que os gatos são super carinhosos, brincalhões e interativos), consigo canalizar de forma positiva aqueles pensamentos e sentimentos corrosivos que todos, mesmo sem querer, adquirem em seus cotidianos atribulados e estressantes.

Por tudo de bom que nos dão os animais de estimação fica difícil entender como há pessoas que decidem tê-los para maltratar. Esta semana na Grã-Bretanha a Real Sociedade de Prevenção à Crueldade contra Animais estava tentando identificar o homem que aparece num vídeo de 34 segundos arrastando o que parece ser seu próprio cachorro pela coleira antes de chutá-lo duas vezes com força. Lá, casos deste tipo podem gerar punições que vão de multa de 20 mil libras (mais de 50 mil reais) à detenção de até seis meses.

Em agosto último internautas ajudaram a identificar uma mulher da cidade inglesa de Coventry que jogou dentro de uma lata de lixo uma gata que passeava à sua frente. Filmada por uma câmera de vigilância de rua, a crueldade foi parar no YouTube. A gata ficou presa por 15 horas até ser encontrada por seu dono. A desumana foi processada pela mencionada entidade de proteção aos animais.

Naquele mesmo país, um mês depois, um homem foi também flagrado por câmeras de vigilância, abandonando um cão na rua. Uma pessoa que viu tudo contou que o cachorro ainda tentou correr atrás do carro de seu dono, mas sem sucesso, já que estava mancando. Pouco tempo depois ele foi levado a um canil, onde certamente terá um tratamento mais digno do que o que devia receber na casa do monstro que o abandonou.

Uma sociedade que não consegue dar um tratamento decente para seus animais de estimação e para os que perambulam pelas ruas dificilmente conseguirá fazer o mesmo com humanos. Aqueles que vivem nas ruas deveriam ser prioridade para qualquer Administração Municipal, se não por compaixão, pelo menos por uma questão de saúde pública.

Existem inúmeras pessoas e entidades que, espontaneamente e de forma voluntária, dedicam-se a cuidar principalmente de cães e gatos abandonados. Por que não destinar a elas apoio e recursos para que possam fazer, de forma mais eficaz e abrangente, o que os órgãos públicos não conseguem? Esta seria, com toda certeza, uma terapia de amplitude coletiva.