POÇO REDONDO: ASPECTOS SOBRE O REFÚGIO DO SOL (Décima quinta viagem)

POÇO REDONDO: ASPECTOS SOBRE O REFÚGIO DO SOL (Décima quinta viagem)

Rangel Alves da Costa*

Como já foi citado, a partir do trágico episódio do ônibus que explodiu na estrada de Santa Rosa do Ermírio, lá pelos idos de 1995, a primeira-dama do estado de então, Leonor Franco, começou a moldar, sob os aplausos de um grupo de pessoas do município, o tipo de liderança que desejava que Frei Enoque fosse, não só em Poço Redondo como em todo o sertão: um homem do seio da igreja, defensor das classes mais humildes e sofredoras, o nome ideal para conjugar num só objetivo de poder a religião e a política.

E assim indubitavelmente se fez. Enoque Salvador de Melo, o missionário franciscano pregador das palavras de Deus e sempre envolvido nas lutas em defesa do homem do campo, chegando mesmo a ser preso nesses embates campesinos, assim que foi alçado à condição de político-partidário e candidato, logo preferiu passar a agir sob o manto e escudo de Frei Enoque.

Como Frei Enoque, soube manejar como ninguém a mística própria de todo homem da igreja e trouxe para o seu redor uma verdadeira procissão de eleitores que se fanatizavam pelas sempre suaves palavras e promessas. Com o temor de ofender a igreja, beatos, fanáticos, gente humilde e todos os tipos de pessoas passaram a caminhar atrás da terra prometida por Enoque. Enfim, o fruto de Leonor brotou, criou raiz e se fez grande, imensa demais numa pessoa que se dizia tão humilde.

Com um carisma impressionante, possui o dom de ferir sem que o outro se pareça ressentido com o ferimento. Impondo o medo, faz com que o humilde eleitor recue e se ajoelhe a seus pés; usando palavras duras, faz com que o outro silencie e até se sinta realizado por ser usado e abusado; e assim vai carregando sua boiada de eleitores para qualquer estrada que queira seguir, pois bicho do mato não tem opção nem discernimento para sair do laço. Até que se prove o contrário, é parte de um povo que não se contenta em sofrer com as agruras próprias do sertão e procura se humilhar perante um político que sempre lhe trata com desdém e desprezo.

Mas a verdade é que o povo é livre para escolher o governante que quiser, eleger quem bem entenda para administrar seu município, mesmo que depois, falsamente, diga que está arrependido e que nunca mais voltará a errar. Verdade é que Frei Enoque se impõe como ninguém na liderança política municipal, provando repetidas vezes que é amado e respeitado pela maioria, e tanto é assim que se perpetuará no poder se assim desejar e fará vencedor qualquer um que indique como candidato seu. Será assim porque o povo mostra descontentamento, mas esquece as mágoas logo na eleição seguinte e, mais uma vez o franciscano sai vitorioso e fortalecido para humilhar e submeter o sertanejo cada vez mais.

Conquanto homem da igreja e pessoalmente, a realidade tem-no demonstrado dentro dos patamares de pessoa sincera e honesta. Contudo, o mesmo parece não ocorrer com suas administrações, pois a imprensa de vez em quando testemunha para a história fatos reprováveis com relação ao político e prefeito:

"PREFEITO DE POÇO REDONDO TEM PRISÃO REVOGADA - O Frei Enoque, prefeito de Poço Redondo, foi preso nesta quarta-feira por determinação do desembargador Antônio Gois, presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Ele decretou a prisão do prefeito por causa de uma ação que rola na Justiça há mais de seis anos. O Frei é contra admissão de funcionários que passaram num concurso público que a própria Justiça considera irregular. “Foi um trem da alegria feito por outro prefeito em 1995”, afirma Frei Enoque. O prefeito foi preso na Secretaria de Ação Social em Aracaju e teve o privilégio de ser levado para o 1o Batalhão da Polícia Militar no carro do presidente do tribunal e na presença do chefe de segurança do TJ o delegado Jocélio Fróes. A prisão fez o padre afirmar que abandonará a política e renunciar ao cargo de prefeito. No final da tarde ele teve a prisão revogada e foi posto em liberdade. A primeira-dama do Estado Leonor Barreto Franco, acompanhou o Frei a todo instante e considerou a decretação de prisão fruto de motivação política. Ela é vice-presidente do PPS, o mesmo partido do prefeito, e que está ao lado do opositor do marido, o governador Albano Franco (PFL), João Alves Filho, candidato ao Governo pelo PFL. Ela está se afastando do partido" (24/07/2002, Informe Sergipe http://www.informesergipe.com.br/pagina_data.php?sec=7&&rec=743).

"FREI ENOQUE TEM CANDIDATURA MANTIDA - O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eros Grau, reconsiderou sua decisão anterior e deferiu a candidatura do prefeito eleito de Poço Redondo, Frei Enoque Santiago (PSB). Com isso, Frei Enoque, que obteve 7.016 votos, poderá ser empossado no próximo dia 1º de janeiro. O ministro havia cassado o registro do prefeito de Poço Redondo, em decisão monocrática no último dia 13 de novembro, tendo o Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe, que organizar uma nova eleição no município. Na decisão desta terça-feira, 10, Eros Grau afirmou que a Câmara de Vereadores é o órgão competente para apreciar as contas do prefeito. E que a desaprovação das contas pelo Tribunal de Contas não é suficiente para que se conclua pela inelegibilidade do candidato" (Infonet - http://www.infonet.com.br/politica/ler.asp?id=80485&titulo=politicaeeconomia).

"SANGUESSUGA: PREFEITO DE POÇO REDONDO (SE) E MAIS SETE SÃO PROCESSADOS - O Ministério Público Federal em Sergipe (MPF/SE) ingressou ontem, 17 de dezembro, com mais uma ação contra o esquema que ficou conhecido como máfia das sanguessugas. Os alvos desta ação são o prefeito de Poço Redondo, Enoque Salvador de Melo, o Frei Enoque, o ex-secretário de Saúde do município, três ex-membros da Comissão de Licitação e seis empresários. Eles são acusados de fraudar a licitação de uma unidade móvel de saúde adquirida com verbas provenientes do Ministério da Saúde em 2002. O veículo custou cerca de R$ 50 mil em valores não atualizados. Em 2002, o município de Poço Redondo era administrado por Frei Enoque, que foi novamente eleito em 2008. Como em outros casos da Sanguessuga, estavam envolvidas no esquema as empresas do grupo Domanski: Vecopar, Divesa e Saúde sobre Rodas. “O prefeito de Poço Redondo, juntamente com os membros da Comissão Permanente de Licitação, direcionaram a licitação de modo a permitir somente as participações das empresas integrantes do Grupo Domanski”, destaca o procurador da República Bruno Calabrich, que assina a ação. A Saúde sobre Rodas foi a empresa vencedora do processo fraudado. (...) Caso sejam condenados na ação de improbidade, os envolvidos na manipulação da licitação em Poço Redondo poderão ser obrigados a devolver o dinheiro desviado, pagar multa, perder o cargo público, perder os direitos políticos e ficar proibidos de contratar com o poder público por até oito anos" (Investidura: Portal Jurídico - http://www.investidura.com.br/ultimas-noticias/228-mpf/126338-sanguessuga--prefeito-de-poco-redondo-(se)-e-mais-sete-sao-processados.html).

QUADRO-SÍNTESE DAS ELEIÇÕES EM POÇO REDONDO

(Principais candidatos e prefeitos eleitos)

1ª Eleição: 03 de outubro de 1954

Candidatos: Artur Moreira de Sá e José Francisco do Nascimento (Zé de Julião).

Eleito: Artur Moreira de Sá (1955-1958).

2ª Eleição: 03 de outubro de 1958

Candidatos: José Francisco do Nascimento (Zé de Julião) e Eliezer Joaquim de Santana.

Eleito: Eliezer Joaquim de Santana (1959-1962).

3ª Eleição: 03 de outubro de 1962

Candidatos: Joaquim Fernandes de Barros (Joaquim Itabira), Francisco de Néri de Araújo (Chico de Lulu) e Durval Rodrigues Rosa.

Eleito: Durval Rodrigues Rosa (1963-1964).

Observação: O Golpe Militar de 64 cassou o mandato do prefeito do Durval e em seu lugar assumiu o presidente da Câmara Municipal Cândido Luis de Sá (1964-1966).

4º Eleição: 03 de outubro de 1966.

Candidatos: Artur Moreira de Sá e Alcino Alves Costa.

Eleito: Alcino Alves Costa (1967-1970).

5ª Eleição: 03 de outubro 1970.

Candidatos: Manuel Machado Feitosa (Mané Joaquim) e João Rodrigues Sobrinho (João de Durval).

Eleito: João Rodrigues Sobrinho (1971-1972).

6ª Eleição: 03 de outubro de 1972.

Candidatos: Alcino Alves Costa e José Florêncio de Santana (Zé de Lídia).

Eleito: Alcino Alves Costa (1973-1976).

7ª Eleição: 03 de outubro de 1976.

Candidatos: Darcy Cardoso de Sousa e Durval Rodrigues Rosa.

Eleito: Durval Rodrigues Rosa (1977-1972).

8ª Eleição: 15 de novembro de 1982.

Candidatos: João Bernardindo de Sá (João Pinguinho) e Alcino Alves Costa.

Eleito: Alcino Alves Costa (1983-1988).

9ª Eleição: 03 de outubro de 1988.

Candidatos: José Roberto de Barros Godoy e Ivan Rodrigues Rosa.

Eleito: José Roberto de Barros Godoy (1989-1992).

10º Eleição: 03 de outubro de 1992.

Candidatos: José Azevedo Dias e Ivan Rodrigues Rosa.

Eleito: Ivan Rodrigues Rosa (1993-1996).

11ª Eleição: 03 de outubro de 1996.

Candidatos: Enoque Salvador de Melo e Gerino Alves Costa.

Eleito: Enoque Salvador de Melo (1997-2000).

12ª Eleição: 03 de outubro de 1999.

Candidatos: Enoque Salvador de Melo, Manoel Rodrigues da Silva (Manoel da Farmácia) e Roberto Araújo (Roberto do MST).

Eleito: Reeleito Enoque Salvador de Melo (2000-2004).

13ª Eleição: 03 de outubro de 2003.

Candidatos: Iziane Maria Oliveira de Alcântara Pionório (Dra. Iziane) e Manoel Rodrigues da Silva (Manoel da Farmácia).

Eleito: Dra. Iziane (2004-2008).

14ª Eleição: 03 de outubro de 2007

Candidatos: Enoque Salvador de Melo e Manoel Rodrigues da Silva (Manoel da Farmácia).

Eleito: Enoque Salvador de Melo (2009-).

Ainda sobre o tema eleições municipais e eleitos, alguns fatos marcantes e curiosos no processo eleitoral poço-redondense merecem ser citados. Por exemplo, Alcino Alves Costa, prefeito eleito por três vezes (1967-1970, 1973-1976, 1983-1988), foi o administrador municipal com mais tempo de gestão, totalizando 14 anos.

Antônio Marques Neto, o Toinho de Cordélia, eleito pela primeira vez nas eleições de 1982, é o vereador que mais se elegeu para o legislativo municipal, contando com seis pleitos vitoriosos. Lucas Evangelista de Sousa, Francisco Vieira dos Santos (Chico Bilato) e João Florêncio de Santana (Nanã de Lídia) foram eleitos por quatro vezes. Com três legislaturas estão os vereadores Sebastião Lucas de Sousa, José Rivaldo Feitosa, Aderaldo Rodrigues Caldeira, Manoel Messias Militão, José Augusto Lima (Góis) e João Rodrigues da Silva.

A atual Lei Orgânica Municipal promulgada em 990 foi elaborada na gestão dos seguintes vereadores: João José de Oliveira, João Rodrigues da Silva, Edeilson Titico dos Santos, Luiz Carlos dos Santos, José de Souza Barros, João Florêncio de Santana, José da Silva, Sebastião Lucas de Souza, José Rivaldo Feitosa, Joemil Rodrigues Rosa, Manoel Messias Militão, Antonio Marques Neto e José Bezerra Caldas.

continua...

Poeta e cronista

e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

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