POÇO REDONDO: ASPECTOS SOBRE O REFÚGIO DO SOL (Décima terceira viagem)
POÇO REDONDO: ASPECTOS SOBRE O REFÚGIO DO SOL (Décima terceira viagem)
Rangel Alves da Costa*
Diferentemente do que se poderia imaginar em se tratando de um município sertanejo, onde as pessoas que não conhecem a realidade começam logo a espalhar feitos inexistentes de valentias, cangaceirismos e mortes, as disputas partidárias, e a política em si, sempre ocorreram na normalidade permitida perante os embates adversários. Verdade é que nos primeiros momentos da vida política do município ocorreram fatos extraordinários, com consequencias trágicas, mas este é um capítulo histórico que deve ser analisado à parte.
De início, pode-se afirmar que a história politíco-partidária de Poço Redondo possui três momentos distintos, três fases com características próprias. A primeira, que denomino de fase emancipatória, que vai da emancipação política, em 1953 e a primeira eleição em 1954, até a segunda eleição de 1958 (de Artur Moreira de Sá a Eliezer Joaquim de Santana). A segunda fase, que denomino de confirmatória, que vai da terceira eleição em 1962, até a décima eleição em 1992 (de Durval Rodrigues Rosa a Ivan Rodrigues Rosa). E a terceira fase, aqui denominada expansionista, que vai desde a eleição de 1996 até os dias atuais (de Enoque Salvador de Melo até o presente).
Fase Emancipatória (de Artur Moreira de Sá a Eliezer Joaquim de Santana)
Na fase emancipatória (1053-1958) foram realizadas duas eleições municipais. A primeira, realizada no dia 03 de outubro de 1954, contou com 626 eleitores inscritos e apenas 278 votantes. Disputaram o pleito Artur Moreira de Sá, candidato do Partido Republicano (PR) e José Francisco do Nascimento, o ex-cangaceiro Cajazeira, pelo Partido Social Democrático (PSD).
Os dois candidatos empataram em número de votos, obtendo cada um o apoio de 134 eleitores. Como a legislação eleitoral previa que em caso de empate o mais velho dos candidatos ganharia o pleito, Artur Moreira de Sá foi eleito o primeiro prefeito de Poço Redondo. Cinco vereadores também saíram vitoriosos e passaram a compor a recém criada Câmara Municipal: Francelino dos Santos, João Emídio de Souza, Lourival Félix de Azevedo, Lucas Evangelista de Sousa e Oscar Feitosa Matos. Essa primeira administração compreendeu o periodo entre 06 de fevereiro de 1955 a 31 de dezembro de 1958.
A segunda eleição municipal, e a última do período emancipatório, marcada para ser realizada no dia 03 de outubro de 1958, não se concretizou por fatos extraordinários que aconteceram nessa data, e que serão adiante citados, e o pleito acabou sendo realizado, e não disputado, no dia 26 de outubro desse mesmo ano. Disputavam a prefeitura Eliezer Joaquim de Santana, pela União Democrática Nacional (UDN) e novamente José Francisco do Nascimento, pelo Partido Social Democrata (PSD).
Após os inúmeros incidentes ocorridos, foi eleito o candidato da UDN Eliezer Joaquim de Santana. Para a Câmara Municipal foram eleitos Antonio Campos (genro do então prefeito Artur Moreira de Sá), Agenor Rodrigues da Silva, Augusto José Fernandes, Lucas Evangelista de Sousa e Abdenago Ferreira de Sá.
Os fatos envolvendo o candidato José Francisco do Nascimento merecem uma rápida análise. Como já citado noutros textos que compõem este trabalho, este rapaz era filho de família abastada na povoação poço-redondense. Por uma dessas circunstâncias da vida, segue o sonho de muitos outros rapazes e meninos da região e entra para o bando de Lampião, que à época também reinava nas caatingas em volta de Poço Redondo.
No bando do capitão, José Francisco do Nascimento, o Zé de Julião, recebe a alcunha bandoleira de Cajazeira. Ao lado de sua esposa Enedina, permanece na vida cangaceira até o fatídico 28 de julho de 1938, quando Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, dentre eles sua Enedina, são mortos na Gruta do Angico, ali mesmo em Poço Redondo, às margens do Velho Chico.
Após fugas e esconderijos, depois de passar um período no estado do Rio de Janeiro (Nova Iguaçu), retorna ao seu Poço Redondo e tenciona disputar a primeira eleição que seria realizada. Assim o faz e enfrenta nas urnas Artur Moreira de Sá. Contados os votos, 134 a 134, havia dado empate. Sendo mais novo que o outro pleiteante, vê Artur Moreira de Sá ser reconhecido como primeiro prefeito do recém emancipado município.
O fato de não ter sido derrotado e mesmo assim não haver alcançado seu objetivo, não desanima Zé de Julião. No pleito seguinte candidatou-se novamente, dessa vez para enfrentar Eliezer Joaquim de Santana, candidato do então prefeito municipal e do líder estadual da UDN, Leandro Maciel.
Contra Zé de Julião não havia somente um candidato, mas sim uma potente e fervorosa máquina política que não admitia ser derrotada de jeito nenhum. Segundo relatos, todos no município sabiam que aquela eleição de 58 seria vencida de qualquer jeito, e com todas as armas possíveis, por Elizer Santana. E sabiam disso porque os títulos de eleitores não chegavam às mãos dos simpatizantes de Zé de Julião, além de muitas outras manobras que estavam sendo praticadas.
Indignado com a situação, o candidato Zé de Julião, no dia marcado para a eleição, a 03 de outubro de 1958, resolveu que os adversários até poderiam ganhar, só que não com a votação daquele dia. Daí, juntamente com alguns companheiros montados em cavalos, roubou urnas, espalhou o terror e desafiou as forças constituídas. O candidato adversário só foi confirmado vitorioso na eleição posteriormente realizada, a 26 de outubro de 1958.
Daí por diante a vida desse grande sertanejo se tornaria num grande calvário, com processos judiciais, fugas e mais traições, até ser encontrado morto no dia 19 de fevereiro de 1961.
Fase Confirmatória (de Durval Rodrigues Rosa a Ivan Rodrigues Rosa)
Na segunda fase, a fase confirmatória (1962-1992), foram realizadas oito eleições e nove administradores municipais estiveram à frente dos destinos de Poço Redondo. Nove prefeitos porque a gestão 1963-1967 teve início com a posse e destituição do prefeito Durval Rodrigues Rosa, e a posterior posse do vereador Cândido Luis de Sá à frente da prefeitura municipal.
Assim, a terceira eleição municipal, disputada a 03 de outubro de 1962, teve como pleiteantes o candidato do prefeito Eliezer Santana, Joaquim Fernandes de Barros (conhecido como Joaquim Itabira) pela União Democrática Nacional (UDN); Francisco Néri de Araújo (Chico de Lulu) pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); e Durval Rodrigues Rosa, herdeiro político de Zé de Julião, pelo Partido Social Democrático (PSD).
Com larga vantagem de votos sobre os demais, Durval Rodrigues Rosa foi eleito o terceiro prefeito de Poço Redondo. Para a Câmara de Vereadores foram eleitos os seguintes postulantes: Luís de Sousa (Luís Maranduba), Francisco Anicácio Silva, Cândido Luis de Sá, Lourival Félix de Azevedo e Darcy Cardoso de Souza (teve o mandato cassado e em seu lugar assumiu João Batista Filho, o Joãozinho de Bizu).
Contudo, Durval Rodrigues Rosa ficaria no cargo somente até a eclosão da Revolução de 64, pois assim que os ditadores lançaram seus olhares sobre o estado de Sergipe cassaram o mandato do governador do estado, Seixas Dória, e dos prefeitos de Poço Redondo e Canindé do São Francisco. Nos documentos oficiais consta que houve renúncia de Durval Rodrigues, mas a verdade dos fatos apontaria para a imposição feita pelos militares, como não haveria de se duvidar. Com a vacância do cargo, o escolhido foi o vereador Cândido Luis de Sá, recém eleito presidente da câmara e a seguir nomeado novo prefeito.
A quarta eleição municipal foi realizada no dia 03 de outubro de 1966. Os candidatos que se apresentaram para a disputa do pleito foram o ex-prefeito Artur Moreira de Sá e o jovem, então com 26 anos, Alcino Alves Costa, apoiado pelo prefeito cassado Durval Rodrigues Rosa. Foi eleito Alcino Alves Costa, pelo PSD, tendo como vice-prefeito (a primeira vez que a figura do vice passou a ser exigência eleitoral) Lourival Félix de Azevedo. A posse ocorreu no dia 12 de março de 1967, com a gestão indo até 31 de dezembro de 1970.
Juntamente com Alcino, foram eleitos para compor a Câmara Municipal os seguintes vereadores: José Francelino dos Santos (Zé Preto), Francisco Vieira dos Santos (Chico Bilato), Francisco Luís dos Santos (Nonô de Sítios Novos), Nivaldo Alves de Sousa e João Rodrigues da Silva (João Tutu).
A quinta eleição municipal foi realizada a 03 de outubro de 1970. Diferentemente dos demais pleitos, o eleito teria dessa vez sua gestão diminuída pela metade, sendo apenas de dois anos o período em que ficaria à frente dos destinos do município. Ao cargo de prefeito se candidataram o jovem João Rodrigues Sobrinho (João de Durval), filho do ex-prefeito Durval Rodrigues Rosa, pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), tendo como vice Tertuliano Lima e Silva, genro de Artur Moreira de Sá, e Manuel Machado Feitosa (Mané Joaquim), pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
O vitorioso nesse pleito foi João Rodrigues Sobrinho, o João de Durval. Foram os seguintes os vereadores eleitos: Lucas Evangeista de Sousa, Francisco Vieira dos Santos (Chico Bilato), Francisco Luís dos Santos (Nonô de Sítios Novos), Nivaldo Alves de Sousa, José Ednalvo Feitosa e Antônio José Filho (Tonho Bento de Santa Rosa).
A sexta eleição para a escolha do prefeito de Poço Redondo ocorreu no dia 03 de outubro de 1972. Pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA I) concorreu um candidato apoiado pelo ex-prefeito Durval Rodrigues Rosa, José Florêncio Neto, o Zé de Lídia, um bem conceituado rapaz da comunidade; e também pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA II), o candidato escolhido foi o ex-prefeito Alcino Alves Costa.
Alcino Alves Costa, juntamente com o vice-prefeito Darcy Cardoso de Sousa, foi o vencedor e pela segunda vez seria o prefeito do município no período compreendido entre 1973/1976. Foram também eleitos os seguintes candidatos a vereador: Francisco Vieira dos Santos (Chico Bilato), Lucas Evangelista de Sousa, Adilson Costa Mendes, Antônio Alves de Sousa (Tota), João Vieira da Costa (Joãozinho de Bel) e Francisco Bezerra Caldas (Francisquinho de Santa Rosa).
A sétima eleição foi realizada no dia 03 de outubro de 1977 e o prefeito eleito ficaria no cargo durante seis anos. Os candidatos foram o ex-prefeito Durval Rodrigues Rosa, tendo como vice Nivaldo Alves de Sousa, de Santa Rosa do Ermírio, e Darcy Cardoso de Sousa, então vice-prefeito municipal.
O escolhido pelo povo foi Durval Rodrigues Rosa, o mesmo que fora cassado pela Revolução de 64 e que se impunha como poderoso chefe político do município. A sua administração compreenderia o período de 1º de janeiro de 1977 a 31 de dezembro de 1982. Os vereadores eleitos foram: Francisco Luís dos Santos (Nonô de Sítios Novos), Francisco Vieira dos Santos (Chico Bilato), João Florêncio de Santana (Nanã de Lídia), José Rivaldo Feitosa (Vadinho de Mané Joaquim) e Sebastião Lucas de Sousa (Tião de Sinhá).
A oitava eleição municipal de Poço Redondo, disputada em 15 de novembro de 1982, teve como candidatos a prefeito João Bernardino de Sá (João Pinguinho), do Partido Democrático Social (PDS I), apoiado pelo então prefeito Durval Rodrigues Rosa; e o ex-prefeito por duas gestões Alcino Alves Costa, também pelo Partido Democrático Social (PDS II).
O vencedor do pleito foi Alcino Alves Costa, eleito para o terceiro mandato. A posse se deu a 1º de janeiro de janeiro de 1973, com o término do mandado em 31 de dezembro de 1988. Os sete vereadores eleitos, todos do mesmo grupo político que apoiou Alcino, foram: João Florêncio de Santana (Nanã de Lídia), José Rivaldo Feitosa (Vadinho de Mané Joaquim), João Paulo Nunes, Mauro Cardoso Varjão, Antônio Marques Neto (Toinho de Cordélia), José Bezerra Caldas (Zé Preto de Francisquinho) e João Rodrigues da Silva (João de Zé da Silva).
Durante essa terceira gestão de Alcino Alves Costa houve intervenção estadual no município durante quatro meses, sob a alegação de má gestão das finanças públicas municipais. Nesse breve período, o interventor nomeado pelo governo do estado foi Raimundo Ferreira da Silva. Após esse período, Alcino retornou à frente da administração municipal para terminar sua gestão.
A nona eleição municipal, para o período de 1989 a 1992, ocorreu a 03 de outubro de 1988.Os candidatos eram o jovem advogado Ivan Rodrigues Rosa, filho do ex-prefeito Durval Rodrigues Rosa e irmão do também ex-prefeito João Rodrigues Sobrinho, o João de Durval. Candidato pelo Partido da Frente Liberal (PFL). O outro candidato era José Roberto de Barros Godoy, um empresário pernambucano com família naquelas redondezas, apoiado pelo prefeito Alcino Alves Costa.
Depois de uma disputa renhida, o vitorioso nas urnas foi José Roberto de Barros Godoy, tendo como vice-prefeito José Laurindo Filho (Zé Pequeno, um rapaz de Santa Rosa do Ermírio. Desta vez, treze foram os vereadores eleitos: Antônio Marques Neto (Toinho de Cordélia), Edeilson Titico dos santos (Edilson Titico), João Rodrigues da Silva (João de Zé da Silva), João Florêncio de Santana (Nanã de Lídia), João José de Oliveira (João de Eredia), Manoel Zacarias dos Santos (Zominho), Joemil Rodrigues Rosa, José Bezerra Caldas (Zé Preto), José da Silva (Guilherme de Sítios Novos), Jeová Idalino Alves, Manoel Messias Militão, José de Sousa Barros e José Rivaldo Feitosa (Vadinho de Mané Joaquim).
A décima eleição, a última da fase confirmatória, para a gestão de 1993 a 1996, foi realizada a 03 de outubro de 1992, tendo como candidatos o derrotado na eleição anterior, Ivan Rodrigues Rosa, pelo Partido da Frente Liberal (PFL) e o seu vice Gerino Alves Costa, irmão do ex-prefeito Alcino Alves Costa; e José Azevedo Dias, o Zé Dias, apoiado pelo então prefeito José Roberto de Barros Godoy, tendo como vice outro irmão de Alcino Alves Costa, Nilton Alves Costa. Quer dizer, nesse pleito dois irmãos disputaram a vice-prefeitura.
O embate entre os candidatos foi dos mais duros, contudo prevaleceu o apoio das duas maiores lideranças municipais, Alcino e Durval, e assim Ivan Rodrigues Rosa e Gerino Alves Costa saíram vitoriosos como prefeito e vice, respectivamente. Os vereadores eleitos foram: Aderaldo Rodrigues caldeira, Antonio Marques Neto (Toinho de Cordélia), Delmiro Alves de Matos, Edileuza Vieira dos Santos, Heleno Batista dos Santos (Leno de Santa Rosa), João Florêncio de Santana (Nanã de Lídia), João Rodrigues da Silva (João de Zé da Silva), Joemil Rodrigues Rosa, Manoel Messias Militão, Manoel Messias Gregório, José Reinaldo farias, Sebastião Lucas de Sousa (Tião de Sinhá) e Maria Sônia Godoy Nascimento.
continua...
Poeta e cronista
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