Faltou fair play para Luís Fabiano
No domingo passado o país inteiro comemorou o segundo gol de Luís Fabiano, no jogo da Seleção Brasileira contra a Costa do Marfim pela Copa do Mundo de Futebol 2010. De fato, teria sido um gol belíssimo se em vez do braço ele tivesse “matado” a bola no peito antes do chute certeiro contra o goleiro marfinense.
Luís Fabiano, usando do já bastante conhecido “jeitinho brasileiro”, não só comemorou seu gol irregular como, logo após o lance, afirmou categoricamente para o árbitro da partida – o francês Stefen Delanoy – que não usou o braço. Sabe-se lá por qual motivo, o juiz riu ironicamente depois da sua resposta, como que dizendo que sabia ser mentira, embora fosse tarde demais para anular.
Em entrevista depois da partida o jogador brasileiro disse textualmente que foi o gol mais bonito da sua carreira. Questionado sobre o uso do braço (duas vezes no mesmo lance, diga-se de passagem), ele riu e deixou toda a responsabilidade para o árbitro que não marcou a irregularidade.
Qual a diferença entre o gol de Luís Fabiano e aquele, também com ajuda da mão, que deu à França o direito de disputar este mundial? Ou para o de Maradona na Copa do Mundo de 1986, na vitória de 2 a 1 da Argentina sobre a Inglaterra? Este último, que chega à África do Sul na condição de técnico da seleção do país vizinho, chegou a chamar seu gol de “mão de Deus”.
É por essas e outras que o Barão de Coubertin (o educador francês Pierre de Frédy) deve estar “rolando no túmulo” de vergonha. Para quem não conhece a história, foi ele quem idealizou as primeiras Olimpíadas da era moderna, realizada em 1896 em Atenas, na Grécia. Numa declaração oficial, o Barão de Coubertin teria dito que "não pode haver jogo sem fair play” e que “o principal objetivo da vida não é a vitória, mas a luta".
A própria organizadora da Copa do Mundo de Futebol – a FIFA – tem se esforçado por divulgar o fair play (“jogo justo” ou “jogo limpo”) como a sua grande bandeira. Assim, o fair play é, na prática, a ética aplicada no meio esportivo. Algo que vai na contramão das agressões físicas, do doping e de atitudes antidesportivas como o gol de braço de Luís Fabiano.
Verdade seja dita: dificilmente veremos algum jogador de futebol parar um lance como o do nosso camisa 9, acusando a própria irregularidade. Caso haja alguém que o faça muito provavelmente será chamado de otário e crucificado pelo técnico, pelos colegas e pela torcida. É que em competições esportivas costuma prevalecer a mesma lógica que, infelizmente, norteia a vida em sociedade: o erro é perdoável desde que ele nos beneficie. É o mesmo princípio daquela máxima popular “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Se um gol com participação do braço tirar o Brasil da Copa será motivo de incansáveis debates sobre a falta de ética no futebol, sobre a importância do fair play. Se acontecer o contrário, “Deus é brasileiro”.