Astrologia: a mais inofensiva – ou inútil? – entre as ciências ocultas
Talvez a mais inusitada experiência profissional que tive na vida foi a de astrólogo: algumas vezes eu fiz previsões no extinto Jornal de Minas, jornal diário que desapareceu em Belo Horizonte na década de 1990.
Reconto a minha única e inusitada experiência no mundo do ocultismo:
Em 1973 eu era um muito jovem repórter de esportes especializados no extinto Jornal de Minas, de Belo Horizonte, instalado na avenida Francisco Sales, na bairro da Floresta, entre a rua Aquiles Lobo e a linha de trem.
Esportes especializados era a expressão usada para representar o conjunto de todos os esportes, com exceção do futebol. Havia, então, um abismo entre a popularidade do futebol e dos demais esportes; dai a aglomeração destes em uma única página sob o titulo de "especializados".
Com menos de 20 anos de idade eu era repórter, redator, titulador, copidesque e editor da página inteira. Pior era a situação do responsável pelo caderno de cultura, João Antônio Alvim Gomes, hoje um advogado ligado ao Instituto Cultural Newton Paiva. Ele recebia algum material já pronto, mas tinha que finalizar várias páginas por dia. Sozinho.
Durante algum tempo a coluna de horóscopos já vinha pronta. Era assinada por Madame Natascha, na verdade um pseudônimo do seu criador e autor, o fotógrafo Carlos Alberto Franco.
Careca, meio baixo, em torno dos 50 anos, meio gordinho, ele também era o chefe do departamento fotográfico, cujos comandados se resumiam ao Alencar, ao Zezinho e ao responsável pelo arquivo. Morava em Santa Tereza, bairro com larga tradição em bares e noitadas, com duas casas – sobrados – de serestas e danças na praça Duque de Caxias. Carlos Alberto era boêmio e certamente devia se divertir bastante enquanto datilografava os horóscopos. Faleceu talvez um pouco antes da chegada dos anos 80.
Por mais de uma vez, leitores telefonaram para o jornal tentando marcar uma consulta com a Madame. A resposta era padrão: a nobre senhora enviava o material por correio e não queria ser incomodada.
Depois de algum tempo, a Madame original se cansou do brinquedo e aumentou a responsabilidade do Alvim, que herdou a incumbência. Sexta-feira era o pior dia, pois ele tinha que fechar as edições de sábado e domingo. Para ajudar o amigo, me travesti de astrólogo e virei horoscopista da edição dominical.
A única exigência era evitar previsões fortes e assustadoras, que pudessem transformar algum crédulo em vítima. Fora isto, o texto era o que a imaginação deste cético alcançasse.
Ao reler o livro "3x30 - Os bastidores da imprensa brasileira'' encontrei um relato semelhante nas memórias de um dos três autores, José Maria Mayrink. Em 1963 ele era redator da revista Aconteceu, ligada a um jornal muito mais importante, O Globo, no Rio de Janeiro. Na página 174 assim escreveu:
"Eu armava também o horóscopo, tirado de minha imaginação, sem nenhuma base científica – ciência, aliás, em que jamais acreditei. Ignorava os astros e fazia previsões a partir de um quadro familiar e concreto – os signos das amigas de Maria José, nessa altura minha noiva, em Belo Horizonte. Podia não ser honesto, mas era muito divertido. Uma mocinha de Vitória, no Espírito Santo, escreveu à revista, para dizer que nenhum horóscopo antes tinha dado tão certo na vida dela."
O fato é que tenho uma formação científica, só acredito no que existiu no passado ou existe no tempo presente.
O futuro é o que ainda não existe, e ninguém sabe como será.
A propósito, um colega de trabalho me alertou sobre uma previsão para o signo de Touro, estampada na coluna de Oscar Quiroga, jornal Hoje em Dia, edição de 18/09/2009.
Achei o texto subjetivo, algo inofensivo, poético até.
Convido meus leitores para uma rápida sessão astrológica:
"De todos os desejos, o desejo. Isso significa que no turbilhão de desejos que agita sua alma, produzindo ansiedade e frustração, há um só desejo que libertaria você para sempre e produziria felicidade verdadeira."
Uma aula de como praticar a futurologia sem prever absolutamente nada.