Ano de Copa e de eleição
Ano de Copa do Mundo de Futebol é também ano de eleições gerais no Brasil. Por enquanto reina absoluto o clima festivo em torno deste mega-evento esportivo, marcado para começar na próxima sexta-feira (11).
No geral, uma minoria da população se vê tocada com as campanhas eleitorais para presidente, governadores, senadores e deputados estaduais e federais. Talvez isto seja consequência da despolitização histórica dos brasileiros ou de um passado marcado por desilusões provocadas pelo lamaçal que envolve o mundo político.
Um ótimo termômetro para medir o grau de interesse do povo por um e outro assunto é a televisão. Em dia de transmissão de jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo a maioria das pessoas vai para a sala, acomoda-se no sofá e deixa por perto cerveja, refrigerante, tira-gostos e tudo mais que inspira distração. Ao contrário, durante o horário eleitoral gratuito ou os programas dos partidos políticos, praticamente todos saem da sala, desligam a TV e vão para a cozinha preparar o lanche antes do começo da novela.
Críticos ressaltam que tal comportamento é reflexo de uma sociedade alienada, que prefere futebol, cerveja e novela a questões importantes que envolvem os destinos da nação. Do outro lado há os que defendem que o processo eleitoral no Brasil é tão enfadonho e indigesto que assisti-lo também pela TV é um passo para se gostar ainda menos do assunto.
Em 2002, no ano da conquista do pentacampeonato, cheguei a tirar a prova dos nove, fazendo um teste de avaliação prática das duas partes. Lembro-me bem que comecei vendo um amistoso do Brasil contra a Malásia, propondo-me a ficar até o fim, inclusive no intervalo do jogo, com uma rápida ida à cozinha para não sacrificar demais o estômago nesta “pesquisa” informal. Considerei até satisfatória a minha tolerância diante da televisão, mesmo com um primeiro tempo bastante insosso. Os gols no segundo tempo, mais algumas informações adicionais sobre a Copa do Mundo, fizeram daquele passatempo algo um tanto prazeroso.
Uma semana depois foi a vez de avaliar as propagandas eleitorais, assistidas na íntegra pelo mesmo tempo do jogo da Seleção Brasileira. Até o momento em que as imagens estavam dentro dos padrões das propagandas convencionais, produzidas pelas grandes agências de publicidade, foi possível me manter quieto no sofá. Quando entraram os candidatos ou líderes de partidos, com aqueles olhares fixos para a câmera, senti certo incômodo. A princípio fui tomado pelo tédio das lembranças de aparições semelhantes no passado, com os mesmos discursos de sempre e com aqueles chavões repetitivos. Ao primeiro ronco do estômago, fui à cozinha preparar um lanche sem a menor pressa de retornar.
O balanço que fiz da minha avaliação certamente seria o de milhões de brasileiros se se propusessem a fazer o mesmo. No jogo da seleção, mesmo sendo amistoso e mesmo eu não sendo fanático por futebol, fiz meu lanche na sala diante da TV; no entanto, não fui capaz de fazer o mesmo com os programas políticos.
Em ano de Copa do Mundo e de eleições não adianta se falar de política antes da definição do campeão mundial. Ambos têm até alguns pontos em comum, como a aparição de quatro em quatro anos, as cifras milionárias que envolvem e o forte apelo verde-amarelo. A diferença é que a Copa desperta prazer e alegria (ainda que fugidios)...