O homônimo honesto é a maior vítima do homônimo des...

Dia desses (outubro de 2008) eu usei (utilizar é mais bonito, mas os gramáticos e lexicógrafos não recomendam) os serviços de um taxista de nome, no mínimo, incomum: Elviro.

Como tinha uma fisionomia simpática, puxei o nome dele como assunto de conversa.

Explicou que tinha sido uma homenagem do pai à mãe, portanto avó do bebê que agora é sessentão.

Pisando em ovos sobre a memória paterna, comentou que os pais não deviam agir assim, tanto que ele próprio escolheu nomes simples e comuns para as três filhas e para o filho.

Aproveitou para criticar a profusão de nomes de origem inglesa entre os brasileiros.

Na seqüência do assunto “nomes estranhos”, contou que conheceu uma Ambrosina, que acabou se casando com um homem de nome Ambrósio.

Aproveitei para relatar uma experiência parecida, e igualmente curiosa: trabalhei com um professor de Letras que se chamava Neuso.

A esposa dele se chamava Neusa.

Elviro (o simpático taxista) e Márcio (este cronista) concordaram com a tese de que a incrível coincidência pode ter facilitado a aproximação dos dois casais, permitindo uma relaxada e bem humorada conversa inicial que atalhou os caminhos para um relacionamento que virou casamento.

Nossa conversa resvalou para uma consequência bem diferente da escolha dos nomes dos recém-nascidos brasileiros: os problemas dos homônimos.

Nomes simples e comuns não causam traumas e gozações, mas podem criar problemas maiores quando alguém que os possui atrasa pagamentos, cria dívidas ou faz coisa bem pior.

Um dos grandes amigos e benfeitores da minha família, já falecido, chamava-se José Lourenço; teve que recorrer à Justiça para acrescentar o sobrenome Ogando e se livrar do aborrecimento de provar que era apenas o xará de algum inadimplente.

Tive um colega de trabalho que me relatou que havia contratado até advogado para alterar o seu nome (Carlos Alberto dos Santos) para evitar as mesmas consequências.

Jamais conseguiu o intento, mas com o passar dos anos entendi qual era o xará que estava se tornando uma fonte de problemas para tais homônimos: ele mesmo.

Resvalou para uma vida profissional irregular, principalmente dívidas que não pagava.

Quando percebi, fiz uma promessa que me transformava em autor e objeto: a amizade acabaria no dia em que ele me pedisse um aval para alguma transação financeira.

Felizmente isto não aconteceu e, mas tarde, ele perdeu o controle sobre a própria vida: dinheiro, casamento e trabalho ruíram, foram substituídos pela Amiga Cachaça e o coração desistiu de bater inutilmente quando tinha mais ou menos uns 48 anos.

A frequência do seu nome, que tanto prejudicou homônimos, pode até me ajudar se algum parente próximo se sentir ofendido com a divulgação da história, pois também vai dificultar a identificação.