As frases de Chico Xavier

Mesmo vivendo numa época regida pela razão e pela ciência, que tantas conquistas já lhe proporcionaram, a humanidade continua engatinhando nos assuntos da fé. Inúmeras foram as religiões criadas ao longo dos séculos para aliviar nossas angústias e medos e, principalmente, para responder a uma pergunta elementar: haverá vida depois desta?

Em tese, todas as religiões deram a sua versão para essa questão, embora, ao que tudo indica, pouca clareza trouxe para o cotidiano de grande parte de seus seguidores. Nunca estivemos tão angustiados, amedrontados e perdidos coletivamente quanto neste início de milênio.

Obviamente, não se trata de uma afirmação com o intuito de denegrir qualquer religião; até porque a fé, embora seja um mecanismo simples de acionar, é um tanto complexa quando traduzida em ações e realizações. Por isso a vida e a obra de pessoas como Chico Xavier valem tanto. Nelas há bem mais da essência da fé e da espiritualidade do que dos mecanismos religiosos capazes de levar alguém até elas.

Embora já conhecesse um pouco da biografia desse famoso médium mineiro, pude apreciá-la de forma condensada e artística no ótimo filme “Chico Xavier”, dirigido por Daniel Filho e estrelado por um elenco de primeira grandeza. Nas centenas de livros que escreveu, cuja autoria ele atribuiu aos seus guias espirituais, várias frases resumem com muita propriedade a amplitude de sua religiosidade e o propósito de sua passagem por aqui.

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. Esta – citada no filme – ressalta o mecanismo de transformação e renascimento já impresso na alma de cada um. Basta saber como acioná-lo para colher os seus bons frutos. A biografia de Chico Xavier é repleta de exemplos de superações e recomeços.

Sobre o mesmo tema ele registrou duas outras frases bastante apropriadas. A primeira: “lembremo-nos de que o homem interior se renova sempre. A luta enriquece-o de experiência, a dor aprimora-lhe as emoções e o sacrifício tempera-lhe o caráter. O espírito encarnado sofre constantes transformações por fora a fim de purificar-se e engrandecer-se por dentro”. A segunda: "cada dia que amanhece assemelha-se a uma página em branco, na qual gravamos os nossos pensamentos, ações e atitudes. Na essência, cada dia é a preparação de nosso próprio amanhã."

Há muita polêmica em torno do espiritismo, principalmente em decorrência de dois aspectos das teorias que o respaldam: a reencarnação e a comunicação com os mortos. No meu entender – bem mais intuitivo do que embasado – estas são duas perspectivas que em nada afetam o valor de uma autêntica proposta de evolução espiritual – esta, sim, uma finalidade nobre de todas as religiões.

Esse aspecto fica evidente na seguinte frase atribuída a Chico Xavier: “o Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros". Ou nesta: “lembra-te de que falando ou silenciando, sempre é possível fazer algum bem”.

Fazer o bem – a si mesmo (mas sem egoísmo) e ao outro (mas sem segundas intenções) – é, talvez, a chave para a autêntica manifestação da fé. Este ato, impregnado de divindade (nesta cabem todas as vertentes religiosas), nos conecta com o que possa haver de mais belo e sagrado nesta e noutras possíveis existências. Mais do que espíritos, foi isto que imagino ter enxergado com clareza Chico Xavier.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 14/05/2010
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