Doação de palavras

Algumas ideias são geniais por trazer em sua essência a proposta de simplicidade, eficiência e universalidade. Um ótimo exemplo está no site “Doe Palavras” (www.doepalavras.com.br), um projeto do Instituto Mário Pena, que mantém em Belo Horizonte um hospital com o mesmo nome, voltado para o tratamento de pacientes com câncer.

Nesse site o internauta é convidado a escrever pequenas mensagens de fé e otimismo, que são lidas pelos pacientes em TVs espalhadas naquele hospital, em especial na sala de quimioterapia. Assim, é possível levar palavras de incentivo àqueles que passam por um momento delicado e normalmente doloroso também para seus familiares. Além desta proposta, o projeto prevê ainda a compilação das mensagens enviadas em um livro, que será doado a vários hospitais do Brasil.

É de projetos assim que o mundo precisa para fazer acontecer a versão mais pura de altruísmo. Doar palavras pode ser decisivo a ponto de convencer um desesperado a não desistir da vida; de levar alguém a superar seus próprios limites; de incentivar pessoas a serem elos em alguma corrente do bem.

Tragédias como as deflagradas pelos terremotos que atingiram alguns países no início deste ano ou como as guerras civis que deixam crianças órfãs no mundo todo costumam nos deixar impotentes. Por mais que contribuamos com alguma quantia para as vítimas de tais infortúnios, a sensação de vazio continua.

Talvez esse sentimento ocorra porque sabemos lá no fundo que qualquer dinheiro temporário não tem o poder de promover transformações mais duradoras. É claro que este tipo de ajuda é muito importante, principalmente porque não há soluções duradouras que não comecem por ações momentâneas. No entanto, os recursos advindos da solidariedade não dão conta de grandes demandas, que só podem ser atendidas por políticas públicas planejadas e direcionadas.

Como não tenho condições financeiras de fazer algo concreto pelos que realmente precisam de ajuda material, ofereço palavras. Neste mês eu e centenas de conterrâneos da minha pequena Boa Nova-BA comemoramos os 10 anos de um projeto pautado na ação coletiva e no voluntariado. O Jornal GAMBOA (Grupo dos Amigos de Boa Nova), nascido em novembro de 1999 a partir de uma conversa de três amigos que vivem longe de sua terra natal há muito tempo, teve a sua primeira edição lançada em maio de 2000.

Com viés educativo-cultural e de circulação gratuita, esse periódico bimestral é feito a muitas mãos e mentes, é mantido com contribuições espontâneas e tem a internet e os Correios como pontes de chegada e saída. Como seu editor e um dos redatores, vejo no GAMBOA a mesma simplicidade e abrangência do “Doe Palavras”, embora seus objetivos finais sejam diferentes. No projeto do Instituto Mário Pena as mensagens enviadas são como remédios invisíveis no tratamento intensivo dos que precisam restabelecer a saúde física e psicológica. No nosso jornal, feito em Viçosa-MG para circular em Boa Nova e em dezenas de cidades onde residem conterrâneos, resgatamos a memória de nossa gente, aproximamos pessoas, divulgamos as ideias das novas gerações e repercutimos outros projetos positivos. Em comum entre os dois, a doação de palavras e dos melhores sentimentos.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 07/05/2010
Código do texto: T2242278