“Litoralterapia”
Quando se mora nas montanhas pouco se sabe do poder terapêutico que têm as paisagens litorâneas. Certamente o inverso também é verdadeiro, mas a grandiosidade do mar coloca qualquer pessoa em seu devido lugar. É como se pudéssemos ter a real dimensão da nossa importância no rol da criação divina.
A verdade é que viajar ao litoral traz benefícios bem mais abrangentes do que os prazeres que a maioria vai buscar em torno de uma mesa de algum quiosque de praia. Obviamente, estar com a família e ou amigos saboreando a culinária marítima e uma cerveja gelada é algo indescritível. Mas há ainda muitíssimo mais para se aproveitar.
Alguns poucos minutos diante do mar é o bastante para desencadear uma série de sensações positivas no corpo e na mente. Fechar os olhos e colocar os pés na água rasa que vai e vem sobre a areia branca e macia produz um efeito fantástico; algo próximo da paz de espírito, um estreito canal com a presença de Deus. Um cenário assim é recomendável para qualquer um, mas principalmente para os que vivem rotinas cansativas e estressantes.
Apesar de ter passado a infância e início da adolescência em uma cidade baiana tão montanhosa quanto as da Zona da Mata mineira (onde hoje vivo), a segunda metade da adolescência e início da vida adulta foram marcados pelo litoral. Mesmo em Salvador, onde já na década de 1980 se convivia com os principais problemas de qualquer cidade grande, eu sabia como usufruir dos efeitos terapêuticos que hoje costumo vivenciar em praias mais aconchegantes da própria Bahia ou do Espírito Santo.
Como diria um amigo, todo médico que se preze deveria prescrever aos seus pacientes (assim como faz com remédios convencionais) uma viagem ao litoral pelo menos uma vez ao ano. Muito provavelmente algo assim quebraria o SUS ou daria margem para muitas manobras de políticos corruptos, mas certamente curaria inúmeras doenças crônicas e agudas.
No feriado da Semana Santa, durante os quatro dias que passei em Castelhanos-ES, tive a oportunidade de parar para observar as pessoas de todas as idades que transitavam pela praia. No geral, elas estavam sempre sorrindo ou com uma expressão leve no rosto. As crianças, então, pareciam vivenciar em um só lugar o que há de melhor na infância.
Pelo perfil daquele balneário pertencente ao município de Anchieta e pelas placas dos carros estacionados ao longo da avenida beira-mar, a maioria dos que estavam ali era de fora (mais precisamente, de cidades mineiras). Assim como eu e aqueles que estavam comigo, todos os que foram àquele pedaço de paraíso nesse feriado prolongado experimentaram um pouco do que costumo chamar de “litoralterapia”.