GREVE DOS PROFESSORES: É FÁCIL CRITICA-LOS, MAS QUEM CRITICA NÃO PASSARIA UMA SEMANA EM SALA DE AULA NAS CONDIÇÕES ATUAIS

O ABANDONO DA EDUCAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO

São 16 anos de abandono do bem mais precioso de uma nação: a educação. Tem gente que por ignorância, outro por estar numa situação mais confortável e querendo manter seu status e outros por sues argumentos reacionários fazem críticas à greve dos professores. As desculpas mais esfarrapadas são feitas neste momento, por pessoas que talvez se achem beneficiadas ao longo desses 16 anos de sucateamento da educação, talvez alguns mais alienados não consigam enxergar a manipulação do governo que dividiu a categoria em “castas” e letras, das quais a categoria Ó não tem quase nenhum direito: 2 abonadas por ano; perder o vínculo e ficar 200 dias sem aulas no ano posterior etc. Em geral, todos estão sendo prejudicados com as medidas do governo tomadas a partir das leis 1093 e 1094 de 2009. Aqueles que criticam os professores e usam sempre os mesmos argumentos dentro e fora da escola. Até quem não enxerga o desrespeito do governo aos direitos desses profissionais conseguem em seus discursos apelarem pelo DIREITO dos alunos. Direito? Direito de ter uma escola sucateada? Direito de se espremerem numa sala de aula com 55 alunos? Direito à violência lá fora, quando nem ronda escolar existe? Direito a não ter um benheiro decente? Direito a não ter uma biblioteca decente, sala de informática, laboratório e sala de vídeo? Ainda tem gente dando uma de defensor do direito de estudante, quando não sabe nem como funciona uma escola da periferia? Direito existiria sim, se o governador não deixasse de investir 9 milhões na educação como fez nos últimos anos. Direito existiria se esse governo não tivesse queimado dinheiro público deixando chegar às escolas livros com palavrões, cadernos de atividades errados, inclusive com mapas da América do Sul com o Paraguai aparecendo três vezes e o Uruguai excluído do mapa: isso é direito? Quando se gastou para recolher todos os livros com erros? Quem diz que os mais prejudicados são os estudantes não sabem que os estudantes já estão sendo prejudicados pela própria política do governo há 16 anos. Não é de agora que o descaso com a educação tem sido objeto de crítica, descontentamento e protestos dos professores, isso vem rolando desde Covas e só tem aumentado. Falar de direito para quem não vive a educação por dentro é fácil, o difícil é falar de direito lá dentro, quando esse mesmo direito é desrespeitado no dia-dia do professor que precisa até fazer teatrinho para chamar a atenção da classe superlotada e com mais de 1800 alunos para cuidar, alunos especiais, cada um com um nível diferente em sua deficiência, casos mais diversos, e um professor com 50 alunos na sala. Assim é fácil falar de professor quando este profissional resolve protestar. Viver na pele de um professor, isso não! Ver o que um professor e uma professora passa numa escola precária, isso não!

Se for pra falar em direito, que tal falar das crianças dos faróis? Que tal falarmos do direito à isonomia, isso os pobres vem perdendo no Estado Neoliberal tão consagrado pelo artigo 5º da Constituição, mas tão profanado pela política neoliberal adotada e consolidada por Fernando Henrique Cardoso e pela tal da Globalização Mundial onde os mais ricos sobrepujam os mais pobres fazendo aguçar a miséria e as desigualdades? Que tal falar de direito para aqueles que não tem mais nem o direito ao Habeas Corpus que se consolida no direito de cada cidadão poder se locomover com segurança, indo ao serviço e voltando são e salvo para sua família? Não existe habeas corpus para pobres trabalhadores que se encontram reféns do crime, sem habeas corpus não há lazer, porque se tem medo até de sair pra se divertir. São tantos direito que não temos, então não sejamos hipócritas. Deixe esse discurso vazio pra lá e ajude os professores a conquistar pelo menos o direito de negociar com o governador. Vários pedidos de audiência já foram protocolados pela APEOESP junto à ALESP e o governador não atendeu nenhum pedido. Agora, quarta-feira, se Deus quiser ele há de atender. Todos querem o fim da greve, só o governador que fecha os olhos para a problemática da educação. Não são só professores que se encontram insatisfeitos. Estão juntos nessa luta vários sindicatos, inclusive dos Diretores (UDEMO), Supervisores (AFUSE), funcionários (APASE) e aposentados do magistério (AMPESP). Todos estão nessa luta unificada. Como um governo não recebe essas instituições representativas para um diálogo aberto? Cadê a democracia? Não existe, quando um governo viola os direitos de uma categoria. Não existe democracia se essa categoria não puder se defender contra os abusos que sofre. Não existe democracia se a tirania está instalada há 16 anos no Estado de São Paulo. Vivemos numa MONARQUIA disfarçada, a monarquia dos tucanos, e agora estamos na dinastia Serra que logo irá cair. Não existe democracia com um governo que violou a Constituição Federal, a LDB e o Plano de Carreira dos professores. Democracia na escola? Não existe, por que nem professor e nem estudante é consultado para saber se um determinado Plano de Currículo é o mais adequado para aquela comunidade onde a escola está inserida. Democracia é uma mão dupla: eu te respeito, mas você deve fazer o mesmo, e não é isso que está acontecendo. Não existe democracia sólida com aumento de violência nas escolas. A democracia só irá existir se forem respeitados alguns princípios: direito de ensinar-aprender, liberdade de cátedra do professor, autonomia cidadã nas escolas, isonomia para todos, habeas corpus para todos os cidadão poderem transitar dentro de sua comunidade sem ser ameaçada de morte ou coagida, enfim, respeitar a Lei Federal e não rasgá-la na cara de toda a nação brasileira como o governador tem feito agora com os professores da rede estadual de educação de São Paulo. Ainda quer falar de direitos?

Os professores que tiveram medo de saírem para a rua e de deixarem seus alunos, diretores e outros vão usar sempre o mesmo discurso: “Já lutei muito no passado”. Outros dizem: “a educação está falida”, mas não quer fazer nada além de dar aulas para lutar para salvar seu único emprego e ganha pão. Outros alegam: “Áh, fulano não parou, eu também não paro”. Todos querem saber que escola está parada para parar também, são como Maria-vai-com-as-outras da educação e não tem moral fará transformar suas aulas em aulas de cidadania, não tem moral para falar de direitos para os alunos porque ouvirão desses alunos: “Se você fala em direitos, por que você não está lá professora e por que você não está lá professor?” Alguns professores tem ouvido isso de alunos. A participação dos professores em qualquer movimento por si só seria uma bela aula de cidadania, que deve ser feita, não na teoria, mas também na prática. Como um professor ousaria falar de consciência se nem a tem? Como ousaria falar de direitos do cidadão, se nem ele tem sido tratado e respeitado como um cidadão? A maior contradição é ser professor e não aderir a um movimento. Se para um religioso o maior pecado é o da omissão, isso vale para o professor que ainda não entendeu que sua participação é fundamental para a transformação da sociedade. Formador de opinião sem opinião não forma nada. Formador de opinião sem o mínimo de informação sobre seus direitos e sobre a atual conjuntura que atravessa a educação não forma nada. E para aqueles que usam discurso furado de que a greve é política, vai ai um recado do poeta Bertolt Brechet: você pode até ter feito uma faculdade, mas não passa de um analfabeto político!

O Analfabeto Político

Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Pra quem não gosta de lutar, não tem consciência dos seus direitos e usa argumentos furados e velhas desculpas pra não aderir uma luta, uma boa maneira de você se irritar comigo que vos escrevo é me encontrar no dia da Assembléia na ALESP. Vá lá. Saia desse marasmo e dessa alienação a qual você se meteu quando se deixou doutrinar. Vá lá com a gente na próxima sexta-feira, dia 26, essa é a hora de você se indignar, não comigo, mas com o descaso do governo. Você não é nosso inimigo, então se assuma enquanto nosso companheiro nessa luta. Pare de usar esses velhos e ultrapassados argumentos. Suas retóricas estão vencidas, seus paradigmas estão criando teia de aranha, e suas justificativas não justificam sua imobilidade. Não diga que a greve é política, porque, tua indiferença e até tua falta de opinião é um ato político. Tuas desculpas esfarrapadas e até o teu medo de ficar sem pagamento são atos políticos, também. Não tem desculpa!

Visiste meu blog: Ciências Humanas e Suas Tecnologias, lá tem fotos das Assembléias e outros assuntos relacionados à educação.

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