Os Três Mosqueteiros... são quatro!
Os movimento dos sem-terra começou no Brasil com apoio da Igreja e do PT. A justificativa seria deles, enquanto entidades; o entendimento tem que ser nosso, enquanto povo – que vive sob as rédeas dos três poderes. Dizem, no entanto, que a mídia é o quarto poder. Precisa dizer mais alguma coisa?...
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Sabe o que eu acho? Que nessa história não há santo, nem vilão. Apenas uma organização social que ainda deixa a desejar. O movimento é histórico (oficializado em 1984, com início em 1979) e suas raízes na América são mais profundas – desde meados do século passado no Brasil e em Cuba, no México no início do século, e mesmo no final do século anterior com Canudos e Contestado. Oportunismo sempre existiu na política, com armas iguais para todos. Os interesses são os mesmos; o lado é que diferencia a atitude.
É como num jogo de futebol: um time quer sempre vencer o outro e fazem tudo para atingir esse objetivo, mas nem todos obedecem às regras. As vitórias se alternam e os campeões são ocasionais. Dizer que há certo ou errado é arvorar-se superficialmente de juiz numa contenda delicada, com raízes profundas e feridas expostas.
Há exploradores? Certamente que sim! Sempre tem os que se aproveitam das necessidades de uns, da ganância de outros e do próprio oportunismo, arregimentando um grupo – de porta em porta, levantando acampamentos da noite para o dia, engrossando o movimento.
Para quê? Para levar algum tipo de vantagem: social, financeira ou política – individualmente ou em grupo. Mas há, também, os idealistas. Podem até, inclusive, ser minoria; mas são eles, na verdade, que dão credibilidade a movimentos desse tipo.
Haveria manipulação e direcionamento desses movimentos com interesse político, para desestabilizar algum governante específico – como afirma a matéria? Pode ser que sim e quem poderia evitar ou contornar a situação, senão o próprio governante com atitudes coerentes e convincentes, neutralizando as possíveis articulações adversárias e informando adequadamente a comunidade?
Não devemos nos esquecer que governos são constituídos para executar necessidades de um povo. Por outro lado, movimentos desse tipo são manifestações organizadas do próprio povo. Seus excessos são desbastados pela Justiça, mas sua iniciativa é mundialmente reconhecida como válida.
O direito de um termina onde começa o direito do outro – regra básica que não se discute. Onde se enquadra, então, o direito de cada um nessa questão? Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são independentes e cumprem cada um o seu papel. Difícil é conciliá-los. A Justiça é cega, o Legislativo vive entre a cruz e a espada e o Executivo senta-se à direita dos Pais Todo Poderosos.
A Imprensa é livre e, como tal, traduz o sentimento de todos, dando voz a um e espaço a outro. Representa o paradoxo da existência de poderes diferentes defendendo interesses específicos, mas perdidos na teia dos interesses gerais. A mídia, portanto, é o quarto poder, mostrando as diversas faces dos demais – refletindo a realidade ou distorcendo os fatos.
Enfim, cumpre, basicamente, seu papel de informante, denunciante, conciliador, formador de opinião e serve, muitas vezes, - senão na maioria delas, como arma política (os maiores políticos têm seus próprios jornais, rádio, televisão)... Os três mosqueteiros, então, são quatro – como Athos, Porthoe e Aramis, mais o jovem D’Artagnan. E é “um por todos e todos por um!” Que bom se fosse assim...
A imprensa, como podemos perceber, pode ser tendenciosa – salvo raras exceções. Não deixa, com isso, de ser uma faca de dois gumes. Pois mesmo o feitiço pode, às vezes, virar-se contra o feiticeiro.
Cabe ao governante, então, administrar isso tudo com inteligência. Para levar vantagem ou perder ponto. É o que lhe resta. É o que se espera dele. Não há milagres – apenas problemas exigindo solução. Procurar culpados é contraproducente, cruzar os braços seria suicídio. O ideal seria não ter miséria. Ou ter, pelo menos, melhor distribuição da renda.
Precisamos da noção exata (existe isso?) de como essas coisas nos afetam e, no mínimo, de uma boa informação. Separar o joio do trigo é responsabilidade do formador de opinião consciente, mas deve passar, também, pelo crivo do leitor.
Este deveria estudar bem sua lição, mesmo não sendo para passar na prova. Não ser alienado, hoje em dia, é quase uma questão de sobrevivência. Nosso mundo já não é tão pequeno como antigamente. Cada um pode até, se preferir, viver comodamente no seu mundinho que um dia poderá ser esmagado. Com alguém dentro...
É questão de interesse, discernimento e bom-senso. Quem tem, cuida; quem cuida, sempre tem... Portanto, é preciso estudar – na escola ou como autodidata. Informar-se na prática para entender a teoria. Porque a teoria, na prática, é outra!
(Dia 05/08/03 recebi do meu primo José Maria de Miranda um e-mail com o texto original do editorial publicado na edição de domingo (03/08/03) no Jornal “O ESTADO DE SÃO PAULO”, referente à invasão do terreno da Volkswagem pelos sete mil sem-tetos. Pediu minha opinião a respeito. Aqui está ela)