O Bem, o Mal e a Humanidade
Adepto dos gêneros “terror” e “suspense” quando o assunto é cinema, já vi filmes fantásticos em que o demônio é muito mais do que figura de linguagem. “O Exorcista” (1973), “Coração Satânico” (1987), “Anjos Rebeldes” (1995), “O Advogado do Diabo” (1997), “Constantine” (2005), e “O Exorcismo de Emile Rose” (2005) são alguns deles.
Nessas obras, todas baseadas em produções literárias, o Mal sempre se manifesta em algum tipo de corrupção da alma humana. É como se fôssemos receptáculos tanto dele quanto do seu contraponto, o Bem. Num jogo maniqueísta, a humanidade vai seguindo em frente construindo e destruindo, como que reforçando esta tese.
Muitos consideram relativos os conceitos explícitos e implícitos nas palavras Bem e Mal. Por este prisma se aceita que o Bem em determinadas épocas e culturas pode perfeitamente ser encarado como o Mal em outras diferentes, e vice-versa. Exatamente por isto vemos hoje algumas nações muçulmanas chamarem os Estados Unidos e seus aliados – países majoritariamente cristãos – de “eixo do Mal”; ou, ao contrário, nações ocidentais pensarem o mesmo das muçulmanas.
Considerada uma das cidades brasileiras mais ecléticas em termos de religião, Salvador mantém milhares de seguidores do Candomblé; um reflexo da presença marcante da população afro-descendente. No Dique do Tororó (um dos cartões postais da cidade) existem grandes esculturas representando os orixás – divindades das religiões africanas, que, numa manifestação do sincretismo histórico que se deu na Bahia, encontraram até equivalentes nos santos católicos.
Lembro-me bem que, assim que as esculturas de mais de dois metros foram instaladas ali, num projeto do Governo do Estado, elas foram alvos de insistentes protestos por parte de algumas religiões evangélicas. Seus seguidores diziam que os orixás nada mais são do que obras do demônio e representações do Mal. Este exemplo mostra o quanto Bem e Mal podem ser tão-somente pontos de vista. Afinal, os que cultuam os orixás, assim como as divindades indígenas, os vêem como representantes do Bem. Quem está com a verdade? Muito provavelmente nenhum dos lados, já que cada um deles apresenta inúmeros argumentos convincentes para defender suas respectivas crenças.
Nas guerras e em muitas ideologias políticas e ou religiosas os aliados são sempre o Bem e os adversários e inimigos, o Mal. Algo, no mínimo, suspeito e muito longe de trazer à tona o que poderia ser chamado de essência dessas duas formas de opções/ações morais e espirituais.
Em meio a debates e controvérsias, o que não dá para ninguém negar é que exista, de fato, o Bem e o Mal. A opção por um ou por outro tem a ver com os rumos que cada indivíduo dá para a sua própria vida. Alguém que leva às últimas consequências a satisfação dos próprios interesses – a ponto de matar, roubar ou passar por cima do outro, faz uma nítida escolha pelo Mal, ainda que tenha buscado o bem de si mesmo. No entanto, é um argumento meramente retórico, já que não dá para classificar de Bem aquele que alguém faz a si próprio às custas da ruína de terceiros.
Parece uma explicação um tanto simplória, mas realmente é muito simples visualizar a bondade e a maldade no comportamento das pessoas. Só não é simples separar realidade e visão ideológica nesta equação.
Agora, mais um exemplo para ilustrar o tema: um homem-bomba, que aceita matar inúmeros inocentes em nome de Deus e de uma causa qualquer, pode ser encarado como um agente do Bem? Mesmo para um ateu, que não pauta a sua vida em valores religiosos, seria difícil encontrar algum traço de bondade em um ato como este. Para os que acreditam que existem demônios como nos filmes que mencionei no início do texto, a tese da manipulação espiritual pode explicar muita coisa.