Jornalismo: profissão de observação e não de julgamento
“Os jornalistas também não escapam e a imprensa cuja missão é evitar a manipulação, frequentemente cai nas armadilhas do poder”.
Gilberto Dimenstein
Alberto Dines, um dos jornalistas responsáveis pela reformulação gráfica inovadora do Jornal do Brasil em 1962 (junto com Jânio de Freitas e Almicar de Castro), procura deixar bem claro para o profissional de imprensa, que o “jornalismo é a técnica de investigar, arrumar, referenciar e distinguir circunstâncias”. O papel do jornalista é ser necessário, ele jamais deve deixar se incorporar o delegado ou o juiz de direito. “Sua missão é perceber oportunidades para tornar-se imprescindível. Profissionais que não se vinculam a uma premência de natureza humana são descartáveis”.
Nos quatro anos de faculdade, aprendemos que “jornalismo é a profissão da indagação e do questionamento”, e que o “jornalista é um permanente buscador, pois jornalista conformado não é jornalista”. Porém, no decorrer do próprio curso, assistimos a muitos de nossos colegas atuando de maneira totalmente contrária ao receituário acadêmico. Até porque, o exemplo quando não vem de dentro, está estampado com todas as letras bem diante de nosso nariz. Basta abrir os jornais, assistir televisão e acessar a internet, para constatar a diminuição brutal dos conceitos básicos do jornalismo. “O que importa no jornalismo não é a facilidade de fazer contatos no sentido formal ou social, mas a abertura intelectual para temas ou pessoas”.
O jornalista também sabe que, dentro do seu contexto, ao redigir uma nota de três linhas, pode estar destruindo uma reputação, uma vida, ou mesmo mudando o curso dos fatos que interessam ao cidadão. Talvez seja por isso que na opinião de Alberto Dines, a faculdade de jornalismo seja fundamental. “Pois só na sala de aula, com professores experimentados e conscientes, podem se estabelecer os padrões ideais sobre os quais se nortearão a atividade e a atitude de cada profissional”.
Ainda de acordo com Dines, o jornalista pode até ser calado e dedicado. “Mas intimamente deve ter um espírito inquieto e inconformado. O jornalista não pode contentar-se com a primeira informação, impressão ou inferência, e nem se acomodar no primeiro obstáculo. Um jornalista que cede a uma pressão cede a todas. O caminho é manter um inviolável compromisso com a verdade”.
Devemos lutar para quando deixarmos a faculdade, não entrarmos no grupo que prefere o conforto e a segurança de uma empresa poderosa e que fique calada diante do caos social. Se possível, devemos tentar fazer parte de um órgão que lute permanentemente para fazer valer sua força, independência e, sobretudo, ter imparcialidade ao noticiar os fatos de interesse público.
Sendo assim, o futuro repórter jamais deve se esquecer das palavras de Clóvis Rossi, “pois a função do jornalista é também conquistar mentes e corações para a causa da justiça social. Ingrediente esse que jamais pode ser dissociado da democracia”.
E já que citamos o combativo colunista da Folha, Clóvis Rossi, não podíamos terminar essa breve reflexão sobre a profissão jornalística sem antes citar aquele que já foi o “jornalista do pipoqueiro”, mas que hoje infelizmente acabou pipocando: Ricardo Kotcho. “Ser repórter é bem mais do que cultivar belas letras, é a arte de informar para transformar. O fascínio desta profissão está na sua multiplicidade de idéias e estilos, a verdade nunca pronta e acabada. Pode-se fazer uma reportagem de mil maneiras diferentes, dependendo da cabeça e do coração de quem escreve, desde que essa pessoa seja honesta, tenha caráter e princípio. Este ofício é uma opção de vida, jornalismo é um sacerdócio”.
Danilo Nuha – Começou trabalhando aos nove anos de idade como jornaleiro e balconista de bar. Foi açougueiro, limpador de fossa, descarregador de caminhão e operário em fábricas japonesas. Formou-se em jornalismo, tem 24 anos e atualmente está desempregado.